Combater a barbárie
Milhares de trabalhadores, jovens, desempregados e pensionistas participaram, no sábado, 5, nas manifestações promovidas pela PAME em Atenas e várias outras cidades da Grécia.
PAME convoca greve geral para 23
Na capital, o desfile massivo terminou na praça Sintagma, junto ao edifício do Parlamento, onde decorreu um concerto e tomaram a palavra dirigentes da Frente Sindical de Todos os Trabalhadores (PAME).
Foi ali que Guiorgos Skiadiotis, membro do secretariado executivo da PAME, anunciou a convocação de uma greve geral para o próximo dia 23, com o objectivo de «impedir a nova barbárie que se somará à situação existente, tornando ainda piores as nossas vidas em todos os sentidos».
Skiadiotis referia-se às novas medidas de austeridade que o governo de Antonis Samarás se prepara para impor ao povo através do orçamento do Estado, cuja proposta foi apresentada, segunda-feira, 7, no Parlamento.
No entanto, as suas linhas gerais já antes haviam sido divulgadas e resumem-se a um novo enorme aumento de impostos de 1500 milhões de euros e em mais cortes na despesa pública, no valor de 2200 milhões de euros.
Os cortes atingirão as pensões e reformas, os sectores da saúde, educação e defesa. O aumento de impostos incidirá sobre o património imobiliário, os rendimentos do trabalho, as pensões e, em particular, sobre os rendimentos dos trabalhadores por conta própria.
Segundo cálculos citados pelo correspondente da Prensa Latina, Antonio Cuesta, os contribuintes gregos irão sofrer um aumento médio per capita de 400 euros, em cima dos 3400 euros de impostos anuais que já pagam. Para muitas famílias este montante representa mais de um terço do seu rendimento.
O governo de Samarás promete crescimento para o ano e tenta convencer os gregos de que a crise está quase a ser ultrapassada. Poucos serão os que acreditam neste optimismo de fachada.
Ao fim de quatro anos de austeridade, todos os indicadores são desoladores. A começar pela dívida pública, o principal motivo invocado para empobrecer aceleradamente o povo e o país.
Segundo dados do Ministério das Finanças, a dívida grega superou os 321 mil milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o que significa 180 por cento do Produto Interno Bruto.
Por outras palavras, depois dos «perdões» parciais e dos inimagináveis sacrifícios impostos à população, a dívida grega é hoje superior em 18 mil milhões de euros à registada em 2009, antes da escalada especulativa dos juros.
Um estudo da Agência de Estatísticas da Grécia (ELSTAT) constata que os rendimentos do país sofreram uma quebra de 75 por cento em relação a 2008, caindo para níveis de 2002. Verificou-se uma forte quebra no investimento, no consumo interno e na produção industrial.
Os salários foram reduzidos em 32 por cento, o sector da construção caiu 70,2 por cento, o imobiliário, 39,9 por cento, a mineração e a metalurgia, 42,7 por cento, o sector financeiro e os seguros, 29,6 por cento. Neste quadro recessivo, as importações diminuíram 49,2 por cento e o desemprego aproxima-se dos 28 por cento, tendo galgado 20 pontos percentuais em seis anos, fruto da destruição de mais de um milhão de postos de trabalho.
Nenhuma luz ao fundo
Esta autêntica catástrofe económica e social não foi minimamente atenuada pela época turística, durante a qual o país teve um afluxo recorde de 17 milhões de estrangeiros. O emprego sazonal daí decorrente traduziu-se numa redução de apenas três décimas do desemprego, aumentando em um ponto percentual o número de novas contratações.
Apesar de magros e conjunturais, estes números «positivos», que continuam abaixo dos dados homólogos de 2012, foram logo oferecidos pelo governo como prova de que o «desemprego está a baixar» e o mercado de trabalho a «estabilizar-se».
Os próximos meses mostrarão que o inverso é verdadeiro. Em primeiro lugar porque até final de Setembro, 12 500 funcionários públicos foram suspensos de funções, situação em que permanecerão durante oito meses, com apenas 70 por cento do salário. Findo o prazo, irão engrossar as filas do desemprego. A estes se somarão mais 12 500 até ao final do ano, bem como outros quatro mil que serão liminarmente despedidos.
As ameaças de encerramento pairam ainda sobre várias empresas estatais nos sectores da defesa, mineiro e naval. Segundo a associação de comerciantes e artesãos, 40 mil pequenas empresas estão em risco de fechar até ao final do ano, o que poderá lançar no desemprego entre 45 mil e 130 mil trabalhadores. O aprofundamento das medidas de austeridade deverá assim continuar a agravar o desemprego. Estimativas da Confederação Geral de Trabalhadores (GSEE) apontam para uma taxa de 34 por cento até 2016.