A CDU faz a diferença
Em Lisboa, como no País, a solução para os problemas não poderá vir de quem os criou, salienta João Ferreira, reafirmando que a CDU é a força que marcará a diferença na governação da cidade e apontando como bom resultado um reforço de posições da coligação, «preparada para disputar e para assumir todas as responsabilidades» que os eleitores lhe atribuam.
A presença de eleitos da CDU nos órgãos de poder local é imprescindível
Depois de quatro anos como deputado no Parlamento Europeu, como avalias as reacções das pessoas, nos contactos e iniciativas em que participaste durante estes seis meses, desde que foi anunciado que serias o cabeça-de-lista da CDU à CML?
As reacções das pessoas nos contactos e iniciativas que vimos desenvolvendo espelham, sobretudo, sentimentos de indignação e de revolta, perante a situação das suas vidas e do País. Ao longo dos últimos quatro anos, por diversas vezes nos deparámos com reacções deste tipo, acompanhando a degradação da situação nacional, provocada por opções políticas que encaminharam Portugal para o abismo. A submissão às orientações e políticas da UE (e nos últimos dois anos também às do FMI) é inseparável deste caminho.
Mas podemos dizer que hoje é muito claro, primeiro, que se ampliam e avolumam estes sentimentos de descontentamento, indignação e revolta, e, segundo, que cresce a percepção – todavia ainda muito insuficiente – sobre quem são os responsáveis por esta situação e sobre quem a tem combatido de forma mais consequente – no plano partidário, o PCP e os seus aliados.
O que será um bom resultado para a CDU em Lisboa?
Um bom resultado para a CDU, em Lisboa, passará sempre por um reforço do número de votos e de posições na Câmara Municipal, na Assembleia Municipal e nas juntas e assembleias de Freguesia. Este reforço, têmo-lo afirmado com insistência, contribuirá não apenas para políticas locais mais favoráveis aos interesses das populações – o que já não é coisa pouca – mas também para ajudar a projectar no horizonte nacional a política alternativa, patriótica e de esquerda, que permita romper com o rumo de empobrecimento, dependência e atraso para que o País foi arrastado. Por essa razão dizemos que o voto na CDU é um voto que vale por dois.
A generalidade das campanhas das outras forças políticas assenta na promoção de personalidades e até há candidatos a freguesias que apresentam como argumento terem sido convidados pelo presidente da Câmara. Insistir no carácter colectivo da candidatura da CDU em Lisboa será sinal de força ou de fraqueza?
Esse é, como sempre foi e como não pode deixar de ser, um sinal da força da CDU e do carácter distintivo do seu projecto autárquico. Quando apresentámos a nossa candidatura, lançámos um aviso a uma certa comunicação social: «Não tentem esconder o projecto da CDU para Lisboa atrás de uma corrida de figurões sem projecto». O tempo veio a dar razão a esse aviso. Desde então, levamos a cabo um trabalho colectivo, envolvendo as populações, de construção e de afirmação do nosso projecto. É um trabalho que se intensificará nas próximas semanas. Enfrentamos conhecidos bloqueios e silenciamentos, mas tudo fazemos para os ultrapassar, com a audácia, a coragem e a combatividade próprias dos que vivem a transformar a vida.
Que consequências terá o resultado eleitoral da CDU nas tuas tarefas?
O cargo de presidente de Câmara é incompatível com a manutenção do cargo de deputado ao Parlamento Europeu. E relembro que, quando apresentámos a nossa candidatura, afirmámos que a CDU está preparada para disputar e para assumir todas as responsabilidades em Lisboa, incluindo naturalmente a presidência da Câmara Municipal. Face a qualquer resultado que não passe por este cenário, a resposta terá, naturalmente, de ser objecto de uma apreciação colectiva. Certo é que assumiremos sempre, quer no plano individual quer no plano colectivo, todas as responsabilidades que o povo de Lisboa nos entenda atribuir.
Em Lisboa, o PCP já teve a responsabilidade de importantes pelouros na Câmara, tem presidências e maioria em freguesias de diferente dimensão, intervém em minoria na CM, na AM e em várias assembleias de freguesia. Em qual destas situações a presença de eleitos da CDU é mais positiva para a cidade e para a população?
A presença de eleitos da CDU nos órgãos de poder local é imprescindível em qualquer dessas situações.
De facto, tivemos responsabilidades em importantes pelouros na Câmara Municipal de Lisboa, do que resultou uma acção marcante que, em certos domínios, podemos mesmo dizer que mudou a face da cidade. Ainda hoje, nas freguesias onde estamos em maioria ou nas quais temos responsabilidades nos respectivos executivos, a acção dos eleitos da CDU em prol das populações é reconhecida por todos e dificilmente ocultável, mesmo pelos nossos adversários. Mostramos assim que a CDU é a força capaz de marcar a diferença na governação da cidade.
Mas a CDU marca também a diferença na forma como é e faz oposição. No que foi bem feito em Lisboa está a mão da CDU. Na advertência para erros e negociatas, na sua denúncia, elevou-se a voz da CDU. Na procura empenhada de soluções, com as populações e para as populações, está a mão da CDU.
As propostas da CDU para as áreas do desporto e da juventude representam uma crítica à destruição do que foi conseguido quando estes pelouros foram dirigidos por comunistas. Essa destruição não surgia nos programas eleitorais do PSD e do PS. Ocorreu por incompetência, por condições objectivas ou por opção política não declarada?
São duas áreas emblemáticas do que foi feito pela CDU e do que queremos voltar a fazer. Nunca em Lisboa se fez tanto pela democratização da prática desportiva como quando a CDU teve responsabilidades neste pelouro. Pensemos, por exemplo, nos Jogos de Lisboa, que deram uma dimensão de massas à prática de desporto na cidade. Uma dimensão que ela nunca tinha tido antes e que nunca mais voltou a ter. O mesmo se pode dizer da juventude. Nunca, como quando a CDU teve responsabilidades neste pelouro, a juventude teve uma participação tão significativa na vida da cidade. Nunca, como nesse tempo, houve tamanho envolvimento e estímulo ao movimento associativo juvenil, nas suas variadas expressões.
O percurso de declínio evidente nestas duas áreas ocorreu evidentemente por opção política, misturada com manifesta incompetência. Quanto ao desporto, a maioria do PS/António Costa mantém encerrados e em avançado estado de degradação infra-estruturas e espaços simbólicos da cidade, como o Pavilhão Carlos Lopes e as piscinas municipais dos Olivais, do Areeiro e da Penha de França. Relativamente à juventude, só por não estarem dispostos a assumir as consequências políticas desse acto é que ainda não acabaram com o respectivo pelouro. Mas há muito que deixou de existir qualquer política de juventude.
«Estimular a actividade produtiva e a sua diversificação, criando emprego em Lisboa», «Definir políticas habitacionais que atraiam e fixem população», «Combater e reverter a degradação do transporte público» são propostas avançadas pela CDU que parecem bastante consensuais e até muito próximas de intenções repetidas pelo PS e o PSD. Mas estão por fazer. É possível concretizá-las?
É possível e é necessário. PS, PSD e CDS até podem, nestes como noutros domínios, enunciar as intenções que muito bem entendam. A sua prática política, seja no Governo do País seja no governo da cidade, é o mais cabal desmentido da seriedade dessas intenções. O que fizeram e o que fazem, na cidade como no País, foi destruir actividade produtiva e emprego, pôr em causa o direito à habitação (garantido constitucionalmente) e atacar o serviço público de transportes. Em Lisboa, como no País, a solução para os problemas que vivemos não poderá vir de quem os criou.
Organização administrativa
A extinção de freguesias em Lisboa é um caso encerrado?
Não. Mas é uma realidade que teremos que enfrentar, em Lisboa como no resto do País.
Em Lisboa, onde primeiro avançou a extinção, PS, PSD e CDS, juntos, liquidaram mais de metade das freguesias. Fizeram-no à revelia das populações, concretizando intenções que esconderam na campanha eleitoral e nos seus programas e que, por isso, não foram sufragadas pelos eleitores. Nortearam-se por estreitos cálculos de divisão de influências e satisfação de caciques e clientelas partidárias.
Mas este não é um caso encerrado, essencialmente, por duas ordens de razão. Em primeiro lugar, porque a organização administrativa decidida por estes três partidos não se coaduna com o que foi a evolução da cidade e do território e com o que são as necessidades das populações. Nessa medida, em algum momento, será necessário corrigir essa organização. Esta é uma necessidade que persiste e em algum momento haverá que lhe dar resposta.
Em segundo lugar, esta reforma administrativa esconde inconfessados objectivos de mais facilmente vir a externalizar e a privatizar serviços e competências municipais. O que não conseguiram fazer antes, fruto da resistência e da luta dos trabalhadores e das populações, vão tentar fazê-lo agora, sob o pretexto de uma alegada descentralização, que nunca vem com os necessários meios para o exercício das novas competências. É importante que as populações estejam preparadas para resistir, mais uma vez. É uma luta que teremos de travar.