Álvaro Cunhal e a Revolução de Abril

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A Re­vo­lução de Abril deve muito a Álvaro Cu­nhal. Sempre no quadro do tra­balho co­lec­tivo do seu par­tido de sempre, ele foi, sem sombra de dú­vida, o mais des­ta­cado obreiro do der­rube da di­ta­dura, o mais que­rido di­ri­gente do mo­vi­mento ope­rário e po­pular, o mais te­mido e per­se­guido dos com­ba­tentes anti-fas­cistas. A sua de­di­cação sem li­mites à luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, a co­ragem e fir­meza de­mons­tradas di­ante do ini­migo, o papel que de­sem­pe­nhou na cons­trução do Par­tido e na sua trans­for­mação na van­guarda da classe ope­rária e força di­ri­gente do mo­vi­mento anti-fas­cista foram, entre ou­tros, atri­butos que lhe gran­ge­aram grande pres­tígio e au­to­ri­dade e que, desde os pri­meiros dias de Li­ber­dade, ti­veram ex­pressão em mo­mentos ines­que­cí­veis como a en­tu­siás­tica re­cepção po­pular que lhe foi dis­pen­sada no seu re­gresso ao País em 30 de Abril ou no gi­gan­tesco co­mício do 1.º de Maio que, na sequência do le­van­ta­mento dos ca­pi­tães de Abril, as­si­nalou a en­trada em força das massas no palco da re­vo­lução.

Se fosse ne­ces­sário dar um rosto hu­mano à Re­vo­lução Por­tu­guesa, ele seria co­mu­nista, o de Álvaro Cu­nhal. Desde logo pela sua in­ter­venção di­recta no pe­ríodo re­vo­lu­ci­o­nário, como di­ri­gente do PCP e como homem de Es­tado, tra­vando com co­e­rência e fron­ta­li­dade a mesma luta no poder e na opo­sição, no go­verno e na rua. Mas também pela sua con­tri­buição, não menos im­por­tante, tanto antes como de­pois da­queles belos dias de afluxo re­vo­lu­ci­o­nário e trans­bor­dante ini­ci­a­tiva po­pular.

Sendo certo que «sem te­oria re­vo­lu­ci­o­nária não há mo­vi­mento re­vo­lu­ci­o­nário», um dos mai­ores mé­ritos de Álvaro Cu­nhal, senão o maior, é ser ele o grande teó­rico da Re­vo­lução de Abril numa obra em que se des­taca a sua ela­bo­ração quanto à na­tu­reza, ob­jec­tivos e via da re­vo­lução por­tu­guesa. É aqui que, fiel ao pre­ceito mar­xista-le­ni­nista se­gundo o qual «a aná­lise con­creta da si­tu­ação con­creta é a alma do mar­xismo», es­tu­dando pro­fun­da­mente a evo­lução do ca­pi­ta­lismo e a ar­ru­mação das forças de classe em Por­tugal, de­ter­mi­nando as par­ti­cu­la­ri­dades da re­a­li­dade por­tu­guesa, ca­rac­te­ri­zando o fas­cismo como «di­ta­dura ter­ro­rista dos mo­no­pó­lios (as­so­ci­ados ao im­pe­ri­a­lismo) e dos la­ti­fun­diá­rios», Álvaro Cu­nhal dá uma con­tri­buição do mais alto valor para a ela­bo­ração do Pro­grama do PCP apro­vado no VI Con­gresso, de­fi­nindo a re­vo­lução por­tu­guesa como uma re­vo­lução ori­ginal, nem bur­guesa nem so­ci­a­lista mas De­mo­crá­tica e Na­ci­onal, anti-mo­no­po­lista e anti-im­pe­ri­a­lista.

É um feito de grande al­cance in­ter­na­ci­onal a que o nome de Álvaro Cu­nhal e o imortal «Rumo à Vi­tória» fi­carão para sempre as­so­ci­ados, que a Re­vo­lução de Abril tenha nas suas grandes li­nhas con­fir­mado o Pro­grama do PCP. E isso tanto quanto ao de­ci­sivo papel das massas, às pro­fundas trans­for­ma­ções re­a­li­zadas e ao rumo do so­ci­a­lismo que a pró­pria Cons­ti­tuição da Re­pú­blica con­sa­grou, como quanto ao ine­vi­tável avanço das forças contra-re­vo­lu­ci­o­ná­rias no caso de, como acon­teceu, a re­vo­lução não con­se­guir edi­ficar um Es­tado de­mo­crá­tico e cortar as amarras ao im­pe­ri­a­lismo, lú­cida pre­venção que a vida veio in­fe­liz­mente con­firmar.

 


Al­bano Nunes, membro do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral




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