«Amigos» da guerra
Os auto-intitulados «amigos da Síria» confirmaram, sábado, 22, que vão reforçar o envio de armas aos chamados rebeldes, peça fundamental das manobras cujo intuito é prolongar a guerra.
Os terroristas recebem armamento de 11 países
Em Doha, EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Itália, Turquia, Egipto, Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita acordaram «dar urgentemente todo o material e equipamento necessário à oposição», e, segundo um diplomata anfitrião, citado pela Lusa, realizarem operações secretas «para mudar a situação no terreno».
O fornecimento assumido de mais e melhor armamento estará já a ocorrer, dando, aliás, seguimento ao levantamento pela UE do embargo à exportação de material bélico a favor de uma das partes do conflito, e ao anúncio pelos EUA de que iriam armar os grupos sírios.
Isso mesmo garantiu à France Press um alto responsável da propaganda do denominado Exército Sírio Livre, que revelou, sexta-feira 21, o recebimento de «armas modernas, algumas das quais tínhamos pedido (mísseis terra-ar e antitanque, morteiros, munições, equipamento de comunicação, coletes à prova de bala, máscaras de gás, etc.), e que pensamos que podem mudar o rumo da batalha».
Os terroristas reclamam, também, a imposição de uma «zona de exclusão área no Sul e no Norte» do país, mas essa sua pretensão, para já, não foi avançada pelas potências imperialistas e pelas nações suas vassalas no Médio Oriente.
Quanto a outras formas de ingerência levadas a cabo em flagrante violação do direito internacional – treino dos «rebeldes» no uso do armamento que agora vão receber sem preocupações de encobrimento, por exemplo –, decorrem há meses na Turquia e numa nova base norte-americana no Sul da Jordânia sob a batuta da CIA e de forças especiais dos EUA, noticiou, dia 21, o Los Angeles Times.
Disputa cínica
Na ressaca da conferência dos «amigos» da guerra, o presidente francês, François Hollande, e o secretário de Estado de Barack Obama, John Kerry, competiram pela declaração mais cínica sobre os motivos da entrega de material bélico aos mercenários. Considerando que os «rebeldes» sírios devem recuperar as zonas controladas pelos islamitas, Hollande disse que o problema central não é o de os extremistas «beneficiarem [do apoio imperialista] no futuro», mas, neste momento, o fornecimento de armas poder ser usado por Bachar al-Assad «como desculpa para continuar os seus massacres».
Não se querendo ficar atrás, Kerry defendeu, segundo a AFP, que o «reequilíbrio» das forças em combate é «o único meio de restabelecer a paz», e que a medida tem como objectivo «obrigar o regime a negociar».
«Os Estados Unidos e os seus aliados vão aumentar o apoio à oposição para chegar a Genebra II», a uma «solução política», acrescentou, de acordo com a Lusa, antes de insistir no guião das armas químicas e no argumento do seu uso ter ultrapassado «a linha vermelha de [Barack] Obama e das outras nações».
Conflito e tragédia em crescendo
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou entretanto que cerca de 600 russos e europeus lutam ao lado dos grupos armados. Os números avançados por Putin pecam por conservadorismo, já que vários meios de comunicação social ocidentais (incluindo emissoras de televisão portuguesas), insuspeitos de simpatias para com Bachar al-Assad, têm reportado, no último ano, o amplo recrutamento para as fileiras «rebeldes» de jovens na Europa, Cáucaso e Norte de África.
Ainda na sexta-feira, 21, a Lusa noticiava que oito pessoas tinham sido detidas em Ceuta por ligações a redes de captação de fundamentalistas para a Síria, suspeitando-se de ligações à al-Qaeda e ao seu «braço» sírio, a Frente al-Nousra.
À Frente e a bandos do mesmo filão são atribuídas as maiores atrocidades cometidas ao longo dos mais de dois anos de conflito. Fuzilamentos e execuções de famílias e membros de comunidades que se recusam a apoiar os jihadistas; rapto e assassinato de jornalistas e de integrantes de equipas humanitárias; atentados bombistas em zonas urbanas residenciais e ataques a alvos civis; destruição de todo o tipo de infraestruturas públicas e produtivas; uso de menores em combate; abusos múltiplos e sistemáticos contra as populações; e uso de armas químicas, estão documentados e mostram o cariz da «insurreição» que o imperialismo sustenta publicamente com crescente vigor.
A escalada e alastramento do conflito são também um propósito, clarificado pelas manobras de guerra que decorrem na Jordânia, findas as quais os EUA manterão no território aviões de combate, mísseis patriot e cerca de um milhar de soldados e outros militares talhados para acções «sensíveis», informou o Pentágono.
Precisamente à Jordânia continuam a chegar milhares de refugiados sírios com futuro incerto. No final de 2013, o total ascenderá a quase oito milhões de pessoas, incluindo, aqui, os deslocado internos, diz a ACNUR.
A Síria é já o quarto país no rol dos que mais contribuem para o número de refugidos no mundo, estimado pela Agência das Nações Unidas em 45,2 milhões.
Síria, Afeganistão, Somália e Iraque somam mais de 50 por cento do total de refugiados ao nível global. Todos estes países foram ou estão a ser agredidos pelo imperialismo.