Os efeitos da especulação
Os preços da habitação em Espanha quase triplicaram entre 1997 e 2008, impulsionados pelo crédito barato e fácil e a crença de que se tratava de um investimento seguro.
Porém, a ilusão de que o mercado continuaria a evoluir desfez-se com o rebentar da bolha nos Estados Unidos em 2007. A partir daí o valor do imobiliário em Espanha entrou em declínio, tendo perdido até 2012, em termos nominais, quase 30 por cento em relação a 2007 e, em termos reais, contando com a inflação, cerca de 38 por cento.
Apesar da grandeza dos números, um estudo da Comissão Europeia, divulgado dia 31 pelo diário espanhol El País, considera que a situação ainda não está estabilizada.
Bruxelas observa que, apesar da aceleração da queda dos preços em 2012, há ainda cerca de 700 mil alojamentos que não encontram comprador.
A actual paralisia do sector é responsável por cerca de metade dos 3,6 milhões de empregos destruídos desde o eclodir da crise.
A percentagem do Produto Interno Bruto investida na construção de habitações chegou a atingir os 12,5 por cento em 2006. No ano passado, caiu para 5,3 por cento, abaixo do mínimo histórico de sete por cento registado em 1997. O peso do emprego na construção é já o mais baixo desde 1976.
É aqui que radica grande parte da quebra das receitas do Estado, bem como os casos de insolvência da banca.
O estudo da Comissão reconhece que foi feito um «ajuste notável» no sector, mas não há recuperação à vista. Para além de uma exorbitante oferta, a recuperação esbarra com o aprofundamento da crise económica, a redução do rendimento disponível das famílias e uma preocupante diminuição da população.
«As perspectivas a curto prazo, tanto para os rendimentos como para o património, são negativas, uma vez que o desemprego continua a subir e é previsível que se mantenha a tendência de baixa dos preços do imobiliário», indica o estudo da Comissão.
As razões deste marasmo estão «nas condições financeiras restritivas e nas expectativas de novas reduções de preços», para o que, aliás, contribui a própria banca ao se livrar de «activos tóxicos», ou seja, executando hipotecas e vendendo as casas a preços de saldo.
A habitação representa cerca de 87 por cento da riqueza das famílias espanholas, grande parte das quais está endividada à banca. Todavia, o preço de mercado já não cobre o valor das hipotecas, o que significa que a venda do bem pode ficar muito abaixo da dívida contraída. Entretanto, continua a aumentar o número de incumprimentos, que se traduzem em mais crédito malparado.
O pior é que, segundo Bruxelas, «o sector poderá não tocar no fundo antes de 2014-2015».