Povo derrotará «consenso» de Cavaco
É sintomático do momento complexo e perigoso da vida do nosso País que o Presidente da República Cavaco Silva tenha escolhido as comemorações oficiais do 25 de Abril na Assembleia da República para se referir ao «consenso» em torno do caminho a percorrer no plano político e económico e que o enquadre na necessidade de fazer face às alterações que, a reboque da crise, foram feitas na União Económica e Monetária (UEM) e na própria União Europeia (UE). Cavaco Silva revelou todo o seu «respeito» e «apego» por esse marco maior da luta do povo português que foi o 25 de Abril, os seus valores e princípios, pela derrota da ditadura fascista, pelo fim do colonialismo, pelas conquistas democráticas, pela independência e a soberania nacional, pela Constituição da República Portuguesa que jurou «defender, cumprir e fazer cumprir». Como é timbre de um dos maiores responsáveis pela situação de desastre a que chegou o nosso País, mistifica a sua situação, continua a navegar nas águas sujas das inevitabilidades, do caminho único da política de direita, de um necessário e inevitável reforço do federalismo na UE e da perda de soberania que este acarreta. No dia em que o povo português festejava a Revolução de Abril, a liberdade, os direitos democráticos conquistados e se manifestava nas ruas para que Abril se cumpra, Cavaco Silva demonstrou uma vez mais que prefere o regresso ao 24 de Abril. A sua cumplicidade com o actual governo, com o pacto de agressão e com caminho para o abismo económico e social que este está a gerar é de sempre. Cavaco Silva não esconde a sua «simpatia» com o actual governo mas não deixa de apoiar uma alternância «responsável» que mantenha este rumo. Cavaco Silva é um dos actores principais deste empurrar o País para o depenar dos depenados; para a extorsão das riquezas nacionais e dos rendimentos de quem trabalha, concentrando-os nas mãos dos grandes grupos económicos nacionais e estrangeiros. Acena com a necessidade de o País estar preparado para o pós-troika mas não consegue esconder que a alternativa que defende à troika é mais troika nacional e estrangeira. Cavaco Silva baralha e dá de novo neste jogo manipulado da política de direita. Refere-se ao fim do pacto de agressão da troika quando ele sabe que os pressupostos que levaram o governo do PS a pedir a intervenção da troika (desequilíbrios macroeconómicos, défices e dívida pública significativa) não só não estão resolvidos como se agravam de forma acelerada. Cavaco Silva aponta para a frente e para a necessária implementação dos critérios fixados pelo chamado tratado orçamental, pela «governação económica» da UE, os quais traduzem outra via para a manutenção da mesma política. Ele sabe que quer a troika quer os instrumentos entretanto criados no âmbito do «reforço da UEM» e do euro assentam na mesma base político-ideológica, gerando uma espiral sem limites de cortes em cima de cortes nas funções sociais do estado, nos salários e pensões, com mais desemprego, pobreza e miséria. Cavaco Silva apelou à necessidade dos «consensos sociais e políticos» como forma de oposição ao consenso existente entre os trabalhadores e o povo de que esta política não serve os seus interesses e aspirações, procurando desmobilizar a sua expressiva luta. Cavaco Silva, tal como o Governo, apela a consensos partidários como almofada de choque das profundas mudanças em gestação na sociedade portuguesa e da possível expressão pela luta do consenso existente entre o povo de que esta política não serve.
O actual Presidente da República sabe que as troikas nacional e estrangeira podem sair do poder empurradas pela luta dos trabalhadores e do povo. Sabe que o direito ao desenvolvimento do País exige esse movimento de fundo; exige a afirmação da soberania e da independência nacionais e que estas só são possíveis no quadro da derrota da política de direita, do pacto de agressão e da ruptura com a UE.
A alternativa de que o País necessita exige uma mudança na correlação de forças, com a convergência das forças sociais e políticas que de forma séria defendam uma ruptura com a política de direita e como os partidos que a implementam. Tal como propõe o PCP, o País necessita de uma política patriótica e de esquerda e de um governo que a concretize.