Explosão de pobreza
O número de pessoas que recorreu à ajuda alimentar dos bancos de emergência aumentou cinco vezes desde 2010, quando a coligação de conservadores e liberais chegou ao poder.
Cortes sociais condenam milhões à fome
Segundo a Trussell Trust, a maior organização de bancos alimentares na Grã-Bretanha, a situação de carência alimentar agravou-se acentuadamente com as medidas anti-sociais que têm sido tomadas recentemente.
No último ano (Abril de 2012 – Março de 2013), acorreram aos postos da organização, pelo menos uma vez, 346 992 pessoas que receberam produtos não perecíveis para três dias.
Trata-se de um aumento de 170 por cento em comparação com igual período do ano anterior, em que foram socorridas um total de 128 697 pessoas. «O ano 2012-2013 foi muito mais difícil do que muitos esperavam. Ajudámos mais 100 mil pessoas do que tínhamos previsto», declarou, dia 24, o presidente da Trussell Trust, Chris Mould.
Em 2010-2011, a organização tinha assistido 61 468 pessoas, contra 40 898 no ano anterior 2009-2010.
O número de pessoas que não têm meios para comprar alimentos «nunca foi tão elevado, e as consequências da maior reforma do Estado Social só agora começam a produzir efeitos», acrescentou referindo-se às alterações no sistema de subsídios e apoios sociais que entraram em vigor em 1 de Abril.
«Os responsáveis políticos de todos os quadrantes devem reconhecer rapidamente a dimensão do problema», defendeu Chris Mould, para quem é «chocante que haja no século XXI pessoas com fome na Grã-Bretanha», designadamente «mães que se privam de alimentos para sustentar os seus filhos».
Trabalhadores pobres
O drama está longe de atingir apenas as tradicionais camadas marginalizadas da sociedade. Parte significativa das pessoas que recorrem aos bancos alimentares não está desempregada, simplesmente «não ganham o suficiente numa economia em que os preços continuam a subir e os rendimentos a baixar».
«Quando as rendas de casa e os preços da energia aumentam, as pessoas são obrigadas a optar entre manterem um tecto e passarem fome, e escolhem cortar na alimentação.»
Na realidade, «só quatro por cento dos que pedem ajuda são pessoas sem abrigo. Cerca de 30 por cento dirigem-se aos bancos devido aos atrasos no pagamento de prestações sociais e 15 por cento devido aos cortes que sofreram», referiu o responsável citado pela edição britânica do jornal electrónico norte-americano Huffington Post.
Para responder à explosão da procura, a organização, cujos recursos dependem essencialmente de subvenções públicas, tem vindo a abrir três novos centros por semana, dispondo actualmente de 345 postos em todo o país.
Também a Oxfam, através do seu director para a pobreza na Grã-Bretanha, Chris Johnes, salienta que estes «números chocantes mostram que a espiral do aumento do custo de vida, a falta de empregos dignos e estáveis e as alterações nas prestações sociais privam muitas pessoas de meios para se alimentar a si e às suas famílias».
Porém, num país onde 13 milhões de pessoas vivem actualmente abaixo do limiar da pobreza, o desmantelamento do «Estado social» terá repercussões imprevisíveis. «Preocupa-nos o facto de que isto seja apenas a ponta do icebergue, uma vez que as alterações do sistema de protecção social que já estão a ser aplicadas poderão ter consequências devastadoras para os que dependem dele».
Para Chris Johnes «o governo não pode continuar a ignorar esta situação. Em vez de tirar dinheiro às pessoas que já não conseguem alimentar-se, deveria voltar-se para as empresas e indivíduos abastados que fogem aos impostos, através dos quais deveriam contribuir para a sociedade».