Ataque vil e ignóbil
Mais de uma centena de pessoas manifestou-se, sexta-feira, na Amora, concelho do Seixal, contra o encerramento da sua Estação de Correios.
Viremos para aqui todos os dias se necessário
Esta é uma entre as 200 Estações de Correio que a Administração dos CTT quer encerrar, um pouco por todo o País, e que conta, desde já, com a oposição da população, da Junta de Freguesia de Amora e da Câmara Municipal do Seixal, assim como dos os eleitos nos órgãos autárquicos do concelho, do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações e do PCP, que estiveram presentes no protesto em frente à Estação de Amora, que encerrou naquele dia «por questões de segurança», reabrindo apenas na segunda-feira passada.
«O que estes senhores nos estão a chamar? Alguém aqui é criminoso? Criminoso é aquilo que a Administração dos CTT nos está a fazer, que é tentarem tirar a esta população, a segunda maior Freguesia do País, com mais de 50 mil habitantes, a Estação de Correios», acusou Carlos Galvão, do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), informando que foi já feita uma denuncia à ANACON – Autoridade Nacional de Comunicações, e contactado o Conselho de Administração dos CTT a pedir explicações sobre o encerramento da Estação naquele dia. «As diversas administrações dos CTT têm vindo, há cerca de três anos, a tentar encerrar estações por todo o País. Mas sempre que as populações se mobilizaram tem-se evitado o seu encerramento», afiançou.
Opinião idêntica tem Luísa Ramos, do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP), que iniciou a sua intervenção dizendo: «Quem não se une, quem não luta, quem não denuncia esta política de ataque aos serviços públicos, está condenado a perder a sua qualidade de vida, o que foi o fundamental das conquistas de Abril, que foram os serviços públicos, que foi uma administração pública ao serviço dos trabalhadores e das populações».
Na sua intervenção, muito aplaudida pela população, Luísa Ramos valorizou ainda a importância dos CTT para a vida das pessoas, não só pela «expedição do nosso correio», mas também «para o pagamento das pensões de reforma». Neste sentido, deu a conhecer um caso que aconteceu na Península de Setúbal. «Um reformado, durante o mês de Agosto, não teve direito a receber a sua pensão de reforma porque a estação dos CTT tinha sido encerrada e esse serviço era feito por uma tabacaria que fechou para férias», ilustrou.
Ataque vil
Esta acção contou ainda com a intervenção de Alfredo Monteiro, presidente da Câmara Municipal do Seixal, que qualificou aquele encerramento como «um ataque vil» e «ignóbil» em «relação aos direitos que conquistámos com Abril». «Este encerramento tem a ver com a invasão da troika a Portugal, tem a ver com o memorando assinado pelo PS, PSD e CDS, onde está previsto o encerramento de 200 estações dos CTT. É a preparação da privatização dos Correios e das Telecomunicações», denunciou, dando conta de outras privatizações, como dos resíduos e das águas. «Viremos para aqui todos os dias se necessário for até que esta Estação reabra, porque não aceitamos de forma nenhuma que nos tirem aquilo a que temos direito», prometeu Alfredo Monteiro.
Retrocesso
No dia anterior, a Câmara do Seixal aprovou, em reunião do executivo, uma moção contra o encerramento da Estação de Correios de Amora, considerando que se trata de «inaceitável retrocesso na prestação de serviço público». «O município lamenta que a intenção da Administração dos CTT de encerrar a estação de Amora tenha sido projectada e decidida sem informação e diálogo com a Câmara Municipal, enquanto representante da população do concelho», refere o documento aprovado.
Continuar a lutar
O protesto contou ainda com a intervenção do presidente da Junta de Amora, Manuel Araújo, que, ao Avante!, deu a conhecer que aquela Estação de Correios tem décadas de existência e presta um serviço público, socialmente relevante e de proximidade, considerando as características demográficas da Freguesia, com um elevado nível de população mais envelhecida.
Sobre o processo, informou que o mesmo iniciou-se no dia 7 de Março, quando um delegado comercial dos CTT contactou a Junta de Freguesia para informar que, no âmbito da estruturação que está em curso, os CTT iriam encerrar várias Estações, entre as quais a de Amora. «A partir dai, mostrámos o nosso descontentamento e a nossa oposição a esta medida, fazendo salientar a importância que esta Estação tem para a população, e avançámos com uma série de iniciativas, desde logo com um abaixo-assinado e com uma petição on-line (que pode ser subscrita em http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N37832). O Executivo da Junta e a Assembleia de Freguesia de Amora também tomaram posição contra a intenção da Administração dos CTT», afirmou, destacando que, para além da iniciativa de sexta-feira, «vamos ter que dar continuidade a esta luta».
Descaracterização dos CTT
Uma delegação da CDU, com o candidato à presidência da Câmara de Coimbra, Francisco Queirós, reuniu, na passada semana, com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT).
Em cima da mesa estiveram as preocupações quanto ao possível encerramento do Centro de Distribuição Postal (CDP) de Taveiro e a descaracterização do serviço postal com o encerramento de muitas estações de Correio. «O CDP de Taveiro tem cerca de duas centenas de trabalhadores que temem pela destruição de postos de trabalho», refere, em nota de imprensa, a CDU, informando que, na reunião, os representantes do SNTCT denunciaram que a administração dos CTT está a preparar-se para transferir uma parte do serviço postal para a CDP de Lisboa e Porto.
«O objectivo é o de esvaziar progressivamente este Centro de Distribuição e reduzir postos de trabalho, para privatizar os CTT», denunciam os eleitos, activistas e eleitos da CDU, dando conta que para o dia 15 de Abril «está previsto o fim do tratamento do correio de maior dimensão» e no final de Abril «do correio normal no CDP de Taveiro».
Na reunião, segundo a CDU, «os dirigentes sindicais alertaram ainda para as alterações nos métodos de organização dos giros, que, com o objectivo de redução de postos de trabalho, levam à deterioração do serviço postal». «Na calha estará uma nova vaga de encerramento de 230 estações a nível nacional», acrescentaram.
Ataque inaceitável
Na quinta-feira encerrou a Estação de Correios de Vale de Santarém. Para o Colectivo de «Os Verdes» de Santarém este «é mais um ataque inaceitável aos serviços públicos neste concelho e neste distrito, que irá afectar, contrariamente ao que a Administração dos CTT afirma, não só os trabalhadores da empresa mas também e ainda o serviço prestado às populações locais». Este dia ficou marcado com um protesto, junto à Estação dos CTT de Vale de Santarém, que contou com a presença de Francisco Madeira Lopes, dirigente nacional de «Os Verdes» e cabeça de lista da CDU à Câmara de Santarém.
No concelho do Barreiro, a Junta de Freguesia da Verderena aprovou, por unanimidade, uma moção contra o encerramento da Estação dos CTT da Quinta Grande. «O fecho da Estação dos CTT da Quinta Grande, por si só, reduz a qualidade de vida da população. Vamos levar a cabo todas as acções possíveis, de modo a evitar este encerramento, em parceria com outras entidades», refere o documento.