Álvaro Cunhal dixit
Uma revolução original
«Pela profundidade das reformas, não se tratou de uma democracia burguesa. Tão-pouco se tratou de uma revolução socialista. Foi uma revolução democrática e nacional “rumo ao socialismo”, como então a definimos e a generalidade das forças políticas acabou também por defini-la. Com muitas originalidades resultantes da originalidade do processo e da criatividade da acção revolucionária dos trabalhadores e das massas populares em movimento. As conquistas da revolução correspondiam de tal forma ao curso da revolução, que PS e PPD, comparticipantes nos órgãos provisórios do poder político, diziam, num e noutro momento do processo revolucionário, defendê-las como suas também.»
(Álvaro Cunhal, A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril – a contra-revolução confessa-se, 1999)
Expressão de soberania
«Dos estados capitalistas e dos seus governos não vieram nem solidariedade nem apoio à revolução portuguesa. Ao contrário. Depois de uma reacção de surpresa e espanto, vieram, desde a primeira hora, formas concretas de apoio à contra-revolução. Colaboração directa na sabotagem económica movida pelos grupos monopolistas criados na ditadura para abafar a jovem democracia. Pressões diplomáticas. Pressões e ameaças militares. (…) Não se subestima o apoio solidário à revolução portuguesa do movimento comunista internacional, da União Soviética, de outros países socialistas, de movimentos de libertação nacional, de diversificadas forças democráticas e revolucionárias de numerosos países. Mas foi a própria revolução portuguesa e não qualquer ingerência externa que determinou o seu processo, os seus objectivos, as suas conquistas e o novo regime democrático português revolucionariamente instaurado e institucionalizado.»
(Álvaro Cunhal, A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril – a contra-revolução confessa-se, 1999)
Base da contra-revolução
«As forças revolucionárias tiveram capacidade para realizar profundas transformações democráticas. Mas não tiveram capacidade para construir um Estado democrático, garantia de capital importância para salvaguarda da Revolução. É uma falha da Revolução portuguesa de extrema gravidade. Esta situação no poder político e no aparelho do Estado deu uma sólida base às forças reaccionárias e conservadoras para organizarem a resistência ao avanço do processo revolucionário, recuperarem posições e passarem ao ataque.»
(Álvaro Cunhal, A Revolução Portuguesa – o Passado e o Futuro, 1976)