A segunda carta

José Casanova

Em «carta à direcção da CGTP» (Público, 2/4), meia dúzia de «investigadores ligados às questões do trabalho» criticam severamente a central sindical por «promover uma iniciativa no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal».

Ancorados num luzido mostruário de siglas – ISCTE-IUL; CES-FEUC; UTAD; UMinho; SOCIUS-ISEG-UTL – os investigadores começam por dizer que «não está em causa a figura de Álvaro Cunhal», mas… logo adiante constata-se que é isso mesmo que está em causa: a figura de Álvaro Cunhal e a sua acção enquanto dirigente do PCP.

É claro que os investigadores, generosos, magnânimos, possuídos por elevado espírito democrático, autorizam, vá lá, que dirigentes do CGTP «possam juntar-se às comemorações» promovidas pelo PCP – o que não toleram, isso nunca, é uma comemoração promovida pela central sindical.

E explicam porquê. Fazem-no com argumentos velhos, conhecidos, sabidos, consabidos e, obviamente, fruto de laboriosa investigação. Em boa verdade, repetem, enfeitado com bambinelas de modernidade, todo o velho receituário dos ataques ao movimento sindical unitário nas últimas décadas: o blá-blá-blá das correias de transmissão, ão, ão, ão…

Corrijo-me: avançam com um argumento novo! Este: «Álvaro Cunhal foi dirigente de um partido político e não da central sindical». Brilhante!

Se os investigadores deitassem uma olhadela à obra desse «dirigente de um partido político», designadamente aos textos que, desde pelo menos o longínquo ano de 1943, produziu sobre trabalho e movimento sindical, encontrariam matéria de sobra para concluir o contrário do que concluíram. Isto porque ficariam em condições de avaliar e valorizar o contributo singular dado por Álvaro Cunhal em todo o processo de construção, fortalecimento e defesa do projecto sindical que a CGTP-IN corporiza: unitário, de classe, independente, de massas, democrático. E, por isso tudo, revolucionário. E, por isso tudo, a provocar ódios e raivas ao grande capital e aos seus propagandistas.

E se tal fizessem acabariam por concluir da necessidade imperiosa de enviar uma segunda carta à CGTP-IN: desta vez a felicitá-la pela justa homenagem que prestou a Álvaro Cunhal.



Mais artigos de: Opinião

O coro dos«remodeladores»

Como o PCP previu e preveniu, no quadro do aprofundamento da crise capitalista, o resultado destes muitos anos de contra revolução e de ditadura do capital financeiro, da UE e do Euro, é uma situação catastrófica. A sétima avaliação da troika veio apenas...

Papagueando

Num país que já teve um picareta falante como primeiro-ministro e que hoje tem como titular da pasta das Finanças alguém que – estamos em crer – não alcançaria os mínimos que o seu colega Nuno Crato impôs às crianças do quarto e do sexto ano...

Por uma outra ordem mundial

Nos dias que antecederam a Páscoa realizou-se na África do Sul a 5.ª Cimeira do BRICS, organização que junta cinco «potências emergentes»: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A reunião de chefes de Estado de Durban de 26-27 de...

Dignidade!

«Quando se perde os bens perde-se muito,
quando se perde a coragem perde-se mais,
mas quando se perde a dignidade perde-se tudo!
»

 

Contaram-me estes dias uma história de dignidade que não resisto a trazer aqui. Maria (chamemos-lhe assim, que esta não é apenas a história desta mulher) está desempregada. Recebe cerca de 250 euros de Subsídio Social de Desemprego, o «subsequente», como é designado por milhares de homens e mulheres que têm nesta prestação social o único meio de sobrevivência, depois de terem já esgotado o período legal do Subsídio de Desemprego, sem terem conseguido encontrar qualquer emprego.