A segunda carta
Em «carta à direcção da CGTP» (Público, 2/4), meia dúzia de «investigadores ligados às questões do trabalho» criticam severamente a central sindical por «promover uma iniciativa no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal».
Ancorados num luzido mostruário de siglas – ISCTE-IUL; CES-FEUC; UTAD; UMinho; SOCIUS-ISEG-UTL – os investigadores começam por dizer que «não está em causa a figura de Álvaro Cunhal», mas… logo adiante constata-se que é isso mesmo que está em causa: a figura de Álvaro Cunhal e a sua acção enquanto dirigente do PCP.
É claro que os investigadores, generosos, magnânimos, possuídos por elevado espírito democrático, autorizam, vá lá, que dirigentes do CGTP «possam juntar-se às comemorações» promovidas pelo PCP – o que não toleram, isso nunca, é uma comemoração promovida pela central sindical.
E explicam porquê. Fazem-no com argumentos velhos, conhecidos, sabidos, consabidos e, obviamente, fruto de laboriosa investigação. Em boa verdade, repetem, enfeitado com bambinelas de modernidade, todo o velho receituário dos ataques ao movimento sindical unitário nas últimas décadas: o blá-blá-blá das correias de transmissão, ão, ão, ão…
Corrijo-me: avançam com um argumento novo! Este: «Álvaro Cunhal foi dirigente de um partido político e não da central sindical». Brilhante!
Se os investigadores deitassem uma olhadela à obra desse «dirigente de um partido político», designadamente aos textos que, desde pelo menos o longínquo ano de 1943, produziu sobre trabalho e movimento sindical, encontrariam matéria de sobra para concluir o contrário do que concluíram. Isto porque ficariam em condições de avaliar e valorizar o contributo singular dado por Álvaro Cunhal em todo o processo de construção, fortalecimento e defesa do projecto sindical que a CGTP-IN corporiza: unitário, de classe, independente, de massas, democrático. E, por isso tudo, revolucionário. E, por isso tudo, a provocar ódios e raivas ao grande capital e aos seus propagandistas.
E se tal fizessem acabariam por concluir da necessidade imperiosa de enviar uma segunda carta à CGTP-IN: desta vez a felicitá-la pela justa homenagem que prestou a Álvaro Cunhal.