Por Abril

Anabela Fino

Os últimos dias foram férteis em informações que traduzem de forma inequívoca o estado de degradação em que o País se encontra fruto das políticas do Governo e da troika. Na última sexta-feira, dados do Eurotat davam conta de que o desemprego oficial, em Janeiro, tinha aumentado três décimas em relação ao mês anterior, atingindo os 17,6 por cento. Na comparação anual, segundo a mesma fonte, a subida do desemprego foi de 2,9 pontos percentuais (era de 14,7% em Janeiro de 2012). Ainda neste âmbito, a OCDE acrescenta que a taxa atrás referida corresponde a 942 mil pessoas à procura de emprego (o que deixa de fora quem já desistiu de procurar trabalho), e representa o dobro da média de desemprego da OCDE.

Já no início da semana, o Instituto Nacional de Estatística (INE) informava, por seu turno, que no ano passado a economia portuguesa sofreu a maior recessão desde 1975, ao registar uma queda de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Motivo: a queda de bens e serviços no último trimestre do ano, a diminuição da procura interna e a contracção do consumo das famílias. Mais informou o INE que, só em 2012, foram destruídos em Portugal mais de 205,6 mil postos de trabalho. Como não há duas sem três, ainda esta semana ficámos a saber que cada português irá pagar, em média, 732 euros só em juros da dívida no próximo ano ou, se se considerar o rácio por família, mais de 1900 euros. E isto porque os juros da tal «ajuda» da troika ascenderão aos 7,8 mil milhões de euros, o que representa um aumento dos juros da dívida, em termos anuais, de quase 8 por cento, e de mais 56 por cento face ao período anterior ao «plano de ajustamento» (2010).

Outros números se poderia acrescentar a este rol tenebroso – como o de ultrapassar o meio milhão (577 865) o número de crianças em risco de pobreza; ou o de um em cada três rapazes e uma em cada quatro raparigas deixarem a escola antes de terminar o 12.º ano; ou de ascenderem a 265 mil o número de mulheres que ganham apenas o salário mínimo nacional... – e nem à lupa se vislumbraria um sinal que seja do «sucesso» que o Governo insiste em anunciar, com o único objectivo de persistir nas políticas que «tornam o País credível» no estrangeiro. A menos que por «sucesso» e por «ir no bom caminho» se queira dizer reduzir o País à escravatura. Nesse caso sim, seremos os primeiros a dar o «bom exemplo» à Europa, onde de resto já se vai ensaiando a aplicação paulatina das medidas que por cá (e na Grécia, e em Espanha...) estão a ser brutalmente impostas. Falta, é certo, o golpe de misericórdia dos famigerados cortes permanentes de quatro mil milhões de euros, mas estamos em crer que à troika não faltarão argumentos, engenho e arte para ajudar o Governo a manter-se no redil, perdão, no «bom caminho».

Quanto aos portugueses, tão louvados por «comer e calar» ou na melhor das hipóteses «comer e cantar», restará sempre outra alternativa para além do «não sei por onde vou... só sei que não vou por aí», justamente aquela para onde os pretendem empurrar, e que se poderá traduzir numa adaptação do poema de José Régio: sei por onde quero ir, sei por onde vou, vou pelo caminho de Abril.



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