Revolto-me logo existo

Aurélio Santos

Uma das pessoas que participou nas manifestações que marcaram o último fim de semana como uma grande jornada de luta contra a política deste Governo, dizia-me:

«A frase «Revolto-me logo existo», do escritor francês Albert Camus aproveitando o lema de Descartes «penso, logo existo» estava escrita numa faixa que descia pela Avenida, e sintetiza o sentimento das dezenas e dezenas de milhares de cidadãos que vieram à rua neste sábado em todo o País para protestar contra a política deste Governo. Eram homens e mulheres, novos e velhos, crianças, famílias inteiras, empregados, desempregados, intelectuais, operários, com partido, sem partido, e alguns até do partido do Governo. É um povo. A palavra que predominava na boca deste mar de gente era – BASTA! Sentia-se raiva nos rostos. Via-se lágrimas nos olhos. Percebia-se a amargura dos que viram o seu voto ser atraiçoado, mas via-se sobretudo a vontade firme de mais do que recuperarem as suas próprias vidas recuperarem o país que um dia foi seu, que mãos pouco escrupulosas hipotecaram e venderam, mas que por direito próprio hoje e sempre lhes continuará a pertencer.»

Não serão memorandos de entendimento, nem troikas, FMI, Comissões Europeias, BCE ou banqueiros, que poderão resgatar este País. Só o poderá fazer este povo que saiu à rua em quarenta cidades de Portugal, numa espantosa manifestação de dignidade que contrasta com a indisfarçável indignidade de quem hoje nos governa.

Os ecos da manifestação chegaram à imprensa internacional espanhola, francesa, inglesa e belga. Foram comentados pela BBC e até nos EUA pela CNN. Estranhamente não chegaram a S. Bento nem a Belém, que optaram por um silêncio que se confunde com um visível desprezo por este acontecimento. Até quando o irão manter?

Há uma semana os italianos disseram de forma clara «arrivederci Monti». Foi o preço de ter sido um bom aluno. É o que sempre acontece aos bons alunos de maus professores. Mais cedo do que tarde outros lhe seguirão.

Disse um dia o cantor que a cantiga é uma arma, disse no sábado este povo que Grândola é o seu cantar e aqui, sr. Presidente da República e sr. Primeiro-ministro «O POVO É QUEM MAIS ORDENA».



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