Mais do que uma mera asneira
No rescaldo informativo às acções do passado sábado, um jornalista de um dos canais de televisão disparou para o convidado em estúdio a pergunta/afirmação se «não deveriam os militantes dos partidos ser proibidos de participar nesta manifestação».
Não encerrasse a afirmação mais do que a expressão de indigência política e dir-se-ia que a pergunta se limitava a revelar o que por razões de ignorância, concepção obscurantista ou irreprimível parvoíce povoa a mente do autor. A questão maior é outra e bem mais inquietante. É que por detrás do que parece ser um acto de súbita incontinência verbal, o que se esconde ou acolhe é uma inquietante permeabilidade ao que de mais reaccionário e totalitário comentadores e analistas semeiam. A ideia envolve três perigosos elementos: o que visa questionar o direito pleno de opção partidária enquanto expressão de cidadania, numa lógica de criminalização dessa opção e de sustentação de ambições mais arrojadas de liquidação da democracia; o que carreia para a não inocente teoria da abominação generalizada da política e dos políticos, indispensável para confundir responsabilidades, iludir conteúdos e confundir posturas tão necessária à falsa campanha de que os partidos «são todos iguais», destinada à difusão da desconfiança e inacção na procura de políticas alternativas; o que ardilosamente alimenta de concepções espontaneístas alegadamente separadas de tudo e de todos, liberta de teias organizadas e de preferência sem objectivo, tão desejadas pelo poder e interesses dominantes. Sem descer ao patamar da asneira que a citada afirmação inicial revela, que poderia justificar a elementar observação sobre como é que o tal impedimento de participação se efectivaria, o que importa é reafirmar o que é óbvio e elementar: que não seria nos dias de hoje, depois de cinco décadas de fascismo o não ter conseguido, que os comunistas abdicariam de intervir, organizar ou participar em todos e quaisquer actos ou momentos que lhes é exigida, por responsabilidade e dever político, a afirmação e defesa de direitos e valores indispensáveis a uma política patriótica e de esquerda que dê resposta às aspirações dos trabalhadores, do povo e do País.