Quanto custam as greves?

Manuel Gouveia

Uma das atoardas regularmente lançadas contra os trabalhadores dos transportes em luta é «o custo das greves». Para criar efeito, o Governo (e os que, de rabinho a abanar, lhe difundem os disparates) falam sempre em milhões, muitos milhões.

Esta semana, calhou a vez ao secretário de Estado dos Transportes falar em 1,1 milhões perdidos de receitas na CP por dia de greve. O número é um disparate, mas reparem naquele vírgula um, a dar carácter científico à coisa. Só para termos uma ideia do disparate, a receita global anual da CP é inferior a 300 milhões, e a maioria dessa receita é arrecadada nos interurbanos durante a semana e nos passes.

Se dissermos que, em média, por cada vez que Sérgio Monteiro abre a boca, as empresas de transporte pagam cinco milhões de euros em juros, a coisa soa a frase feita, até a demagogia, mas se dissermos que pagam quatro milhões, 746 mil 328 euros e quatro cêntimos, transparece que estudámos a coisa, quando de facto estamos a atirar um número para o ar....

Mas regressando ao essencial, se os números são sempre trabalhados para aumentar o seu efeito, a realidade é que as greves têm custos.

Grosso modo, cada greve provoca um custo igual à riqueza que seria criada pelo trabalho que nesse dia é negado. É que a pergunta «quanto custam as greves» já transporta consigo a visão da classe dominante. A resposta é a antagónica pergunta «quanto vale o trabalho?».

E já agora, a greve tem custos para o vendedor da força de trabalho, e não apenas para os que a compram! O custo de perder um dia de salário, 20, 30, 40 euros. E se perde pouco em comparação com a muita riqueza que não é gerada, é porque quando trabalha recebe pouco da muita riqueza que contribui para gerar!

Todos esses efeitos são amplificados nos sectores estratégicos, naqueles onde toda a restante actividade económica está sustentada, como é o caso dos transportes. Mas são estratégicos quando param porque o são quando trabalham. A limitação do direito à greve nestes sectores é a resposta da burguesia a este facto. A nossa antagónica resposta à mesma realidade é a propriedade social desses sectores.



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