Liberdade! Amnistia!
Álvaro Cunhal passou toda a década de 50 na prisão, grande parte dela no mais rigoroso isolamento – primeiro na Penitenciária de Lisboa e depois na Fortaleza de Peniche, de onde se evadiria no início de Janeiro de 1960, juntamente com outros nove destacados dirigentes militantes do Partido.
Foram anos difíceis, tanto para Álvaro Cunhal como para o próprio Partido, que enfrentava uma crescente e implacável repressão.
Nesta década, o histórico dirigente comunista demonstrou uma vez mais a sua têmpera de revolucionário, não cedendo nunca às violências e chantagens impostas pelos carcereiros, e produziu alguns dos seus mais notáveis trabalhos literários e artísticos: os «Desenhos da Prisão», o romance «Até Amanhã, Camaradas», a novela «Cinco Dias, Cinco Noites» ou a tradução do «Rei Lear», de Shakespeare.
Depois de ter sido, durante metade da década anterior, redactor principal do Avante!, Álvaro Cunhal passou nos anos 50 para as suas páginas, sendo ele próprio o alvo das notícias, numa intensa campanha pela sua libertação que percorreu o País e o mundo.
A prisão de Álvaro Cunhal numa casa clandestina do Luso, juntamente com Militão Ribeiro e Sofia Ferreira, representou um duríssimo golpe no PCP, que se via privado de metade do seu Secretariado (restavam em liberdade José Gregório e Manuel Guedes) e do seu mais destacado dirigente. Com a chamada «Guerra Fria» e o alinhamento internacional com o bloco anglo-americano, o salazarismo recompõe-se da derrota dos seus aliados ideológicos na Segunda Guerra Mundial e retoma abertamente os seus métodos fascistas: o MUD é ilegalizado, a greve dos trabalhadores da indústria naval é ferozmente reprimida, bem como toda e qualquer acção de protesto popular, e numerosos activistas do MUD Juvenil são presos neste período. Mas é contra o PCP que se dirige a maior parte da fúria repressiva.
Em 1947 realiza-se o primeiro grande julgamento político do pós-guerra, o famoso «processo dos 109», onde pontifica, entre os réus, o comunista Francisco Miguel, que é enviado de volta para o Campo de Concentração do Tarrafal (de onde será o último prisioneiro a sair). Como consequência da «Guerra Fria» e da repressão, e devido às promessas do regime – nunca cumpridas – de tolerar uma oposição anticomunista, a unidade antifascista erguida a pulso desde os inícios da década de 40 esboroa-se e o PCP fica mais isolado. O fascismo aproveita e desfere sucessivos golpes na organização partidária.
É o próprio Álvaro Cunhal que traçará mais tarde a dimensão das baixas sofridas, nem todas devidas à repressão: «Em princípios de 1949, o CC tinha 12 membros efectivos e 6 suplentes. (…) De 1949 a 1952, o CC deixou de poder contar com 11 do total de 18 membros efectivos e suplentes que faziam parte do CC em princípios de 1949. À data da IV Reunião Ampliada do Comité Central (Dezembro de 1952) todos os 4 membros efectivos do CC eram elementos do Secretariado, havendo apenas mais um suplente» (A Tendência Anarco-Liberal na Organização do Trabalho de Direcção, 1960).
Apesar destas dificuldades, a luta continua: pela paz, pelo pão e por trabalho, pela liberdade.