José Capucho
membro do Secretariado do Comité Central do PCP

Sobre os Quadros

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Os qua­tros anos de­cor­ridos desde o XVIII Con­gresso, mar­cados pelas po­lí­ticas de di­reita do go­verno PS e, mais re­cen­te­mente, do PSD/​CDS exi­giram do Par­tido uma luta sem tré­guas.

A firme res­posta do Par­tido em cada mo­mento foi pos­sível graças ao es­forço, de­di­cação e con­se­quente acção mi­li­tante de mi­lhares de qua­dros e, na linha da frente, os fun­ci­o­ná­rios do Par­tido.

Sob o lema «Avante por um PCP mais forte», o XVIII Con­gresso traçou os ob­jec­tivos fun­da­men­tais para um maior re­forço do Par­tido. E um desses ob­jec­tivos foi, ne­ces­sa­ri­a­mente, uma au­da­ciosa po­lí­tica de qua­dros para per­mitir res­ponder aos em­bates po­lí­ticos e ide­o­ló­gicos que se adi­vi­nhavam.

As ori­en­ta­ções então apro­vadas, re­la­tivas à po­lí­tica de qua­dros, foram, em grande parte, le­vadas à prá­tica. Pro­gre­dimos na in­te­gração dos mi­li­tantes na vida par­ti­dária, nos or­ga­nismos a di­fe­rentes ní­veis.

Avan­çámos na res­pon­sa­bi­li­zação de cen­tenas de mi­li­tantes, muitos dos quais re­cen­te­mente ins­critos no Par­tido, tendo re­gis­tado re­sul­tados po­si­tivos a acção de res­pon­sa­bi­li­zação de 500 novos qua­dros em 2010, o que per­mitiu uma sig­ni­fi­ca­tiva di­na­mi­zação de muitas or­ga­ni­za­ções e or­ga­nismos, a sua re­no­vação e re­ju­ve­nes­ci­mento. Elevou-se o nível de tra­balho po­lí­tico de muitos or­ga­nismos e dos seus res­pon­sá­veis. Con­tinua a des­tacar-se, como as­pecto po­si­tivo, a res­pon­sa­bi­li­zação de mi­li­tantes vindos da JCP.

Os fun­ci­o­ná­rios do Par­tido con­ti­nuam a ter um papel in­dis­pen­sável para a di­na­mi­zação de todo o tra­balho aos vá­rios ní­veis de di­recção e de or­ga­ni­zação. As ca­rac­te­rís­ticas es­sen­ciais que se lhes re­querem são as mesmas que aos res­tantes qua­dros do Par­tido, mas sendo as mesmas não podem deixar de ser glo­bal­mente mais exi­gentes no que res­peita à sua fir­meza po­lí­tica e ide­o­ló­gica, de­di­cação, dis­po­ni­bi­li­dade re­vo­lu­ci­o­nária e com­pro­misso com o Par­tido.

Demos con­ti­nui­dade à po­lí­tica de re­no­vação e de re­ju­ve­nes­ci­mento do quadro de fun­ci­o­ná­rios, no­me­a­da­mente de jo­vens ope­rá­rios e de mu­lheres, para ga­rantir com êxito a apli­cação da linha po­lí­tica do Par­tido.

Ul­tra­passar di­fi­cul­dades

Apesar dos passos po­si­tivos que demos na po­lí­tica de qua­dros, re­gis­tamos in­su­fi­ci­ên­cias que é ur­gente ul­tra­passar. Per­sistem di­fi­cul­dades e, em vá­rios casos, in­com­pre­en­sões, quanto à ne­ces­si­dade de res­pon­sa­bi­lizar mais ope­rá­rios e em par­ti­cular mu­lheres.

Re­la­ti­va­mente às mu­lheres, em par­ti­cular às ope­rá­rias e tra­ba­lha­doras, sendo ine­gável que muitas vezes en­con­tramos di­fi­cul­dades de ca­rácter so­cial e fa­mi­liar di­fí­ceis de ul­tra­passar, de­fron­tamo-nos também com pro­blemas, não menos im­por­tantes, como sejam as in­com­pre­en­sões de vária ordem e a su­bes­ti­mação do papel das mu­lheres na so­ci­e­dade e na luta. Esta si­tu­ação exige mais de­ter­mi­nação para ser ul­tra­pas­sada.

Os qua­dros, ho­mens e mu­lheres, de­di­cados e pro­fun­da­mente iden­ti­fi­cados com a ori­en­tação do Par­tido, são de­ter­mi­nantes para o de­sen­vol­vi­mento da sua or­ga­ni­zação e in­ter­venção po­lí­tica, para o de­sen­vol­vi­mento da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo.

As ori­en­ta­ções e de­ci­sões não sairão do papel se não houver qua­dros para as pôr em prá­tica. Na si­tu­ação ac­tual, o Par­tido pre­cisa de muito mais qua­dros. Temos muitas ta­refas, muitas or­ga­ni­za­ções e mi­li­tantes que pre­cisam de ser in­te­grados de forma re­gular:

- para as­se­gurar a li­gação dos or­ga­nismos de di­recção in­ter­mé­dios à base do Par­tido, em par­ti­cular em­presas e lo­cais de tra­balho, para vender o «Avante!», para re­co­lher a quo­ti­zação, para pro­mover ini­ci­a­tivas, para dis­tri­buir a pro­pa­ganda. Os qua­dros existem, estão cá, fazem parte dos mi­lhares de mem­bros do Par­tido. É pre­ciso trazê-los à ac­ti­vade par­ti­dária, ganhá-los para darem ao Par­tido e à luta as suas ca­pa­ci­dades e po­ten­ci­a­li­dades.

E novos qua­dros não apa­re­cerão se no tra­balho par­ti­dário não formos au­da­ci­osos e não ti­vermos a pre­o­cu­pação per­ma­nente de trazer ao Par­tido os tra­ba­lha­dores que se des­tacam nas lutas, de pre­parar novos mi­li­tantes, de os ajudar a ga­nhar con­fi­ança e co­nhe­ci­mentos para mais e novas ta­refas e res­pon­sa­bi­li­dades.

Na di­an­teira da luta

Nos tempos que vi­vemos, com inú­meras lutas dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções, muitos mi­li­tantes do Par­tido, muitos ho­mens, mu­lheres e jo­vens, têm as­su­mido a di­an­teira da luta. Para os en­con­trarmos, para des­co­brir esse po­ten­cial enorme que existe dentro do Par­tido e também fora dele, é pre­ciso ir ao seu en­contro. É pre­ciso co­nhecer as or­ga­ni­za­ções, e um a um, os ho­mens e mu­lheres que lá estão. Só assim en­con­tramos os qua­dros.

Como des­taca a Pro­posta de Re­so­lução Po­lí­tica, é pos­sível am­pliar o vasto e forte con­junto de qua­dros in­can­sá­veis, de­di­cados, pro­fun­da­mente em­pe­nhados na ac­ti­vi­dade, quer na re­a­li­zação diária de ta­refas prá­ticas, quer res­pon­dendo às mais com­plexas ta­refas, que cada um as­sume, no tra­balho co­lec­tivo, aos di­versos ní­veis de di­recção ou de or­ga­ni­zação.

A par da ex­pe­ri­ência prá­tica re­vo­lu­ci­o­nária, ad­qui­rida no fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico do Par­tido, nas ba­ta­lhas po­lí­ticas e na luta de massas, para for­ta­lecer a cons­ci­ência de classe e elevar o nível po­lí­tico e ide­o­ló­gico da in­ter­venção, é fun­da­mental apro­fundar o es­tudo dos pro­blemas con­cretos do seu sector de ac­ti­vi­dade, dos grandes pro­blemas na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais, bem como o es­tudo do mar­xismo-le­ni­nismo, da lei­tura da im­prensa e de ou­tros do­cu­mentos fun­da­men­tais do nosso Par­tido, do es­tudo de ques­tões de ca­rácter eco­nó­mico, his­tó­rico e so­cial, in­dis­pen­sá­veis para a ne­ces­sária e per­ma­nente ac­tu­a­li­zação teó­rica dos qua­dros do Par­tido.

Es­tamos num mo­mento de­cor­rente do enorme con­fronto de classes que se de­sen­volve no nosso país e no mundo, em que se impõe a ne­ces­si­dade de apro­fun­darmos os cursos e os co­nhe­ci­mentos.

Como des­taca a pro­posta de Re­so­lução Po­lí­tica, é ne­ces­sário re­forçar o tra­balho de for­mação po­lí­tica e ide­o­ló­gica. O ba­lanço sobre a for­mação de qua­dros de­cor­rido entre os dois con­gressos é glo­bal­mente po­si­tivo. A nível cen­tral re­a­li­zaram-se 67 cursos e ac­ções de for­mação po­lí­tica e ide­o­ló­gica, com a par­ti­ci­pação de 1320 ca­ma­radas, aos que se somam 204 cursos e ac­ções de for­mação em que par­ti­ci­param cerca de 3500 ca­ma­radas, re­a­li­zados pelas or­ga­ni­za­ções.

Mas é ne­ces­sário e pos­sível ir mais longe, no­me­a­da­mente pro­gre­dindo na pla­ni­fi­cação, di­vul­gação e in­cen­tivo à par­ti­ci­pação nos cursos e ac­ções de for­mação, seja na Es­cola do Par­tido, seja nas Or­ga­ni­za­ções Re­gi­o­nais.

Exemplo para todos nós

No pró­ximo ano, as co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário do nas­ci­mento do ca­ma­rada Álvaro Cu­nhal são uma grande opor­tu­ni­dade para o de­sen­vol­vi­mento do nosso tra­balho de for­mação de qua­dros.

A sua vida, a sua luta, a sua obra, a com­pre­ensão e apre­ensão dos seus mé­todos e cri­té­rios de aná­lise, e do seu do­mínio da base teó­rica e ide­o­ló­gica do mar­xismo-le­ni­nismo, e apli­cação às con­di­ções con­cretas do nosso país e do mundo, são, in­dis­pen­sa­vel­mente, um va­lioso con­tri­buto, um exemplo para todos nós, co­mu­nistas, e para a con­so­li­dação do PCP, como o Par­tido da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores, mar­xista-le­ni­nista.

Os qua­dros de hoje, na época em que vi­vemos, ver­da­deiros her­deiros da glo­riosa his­tória do nosso Par­tido, sa­berão honrar o exemplo, o pen­sa­mento, o tra­balho e o pa­tri­mónio re­vo­lu­ci­o­nário do seu Par­tido, o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, e pro­jectá-lo na ac­tu­a­li­dade, ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores e do povo.

Mas não po­demos ficar des­can­sados com o envio de mi­li­tantes a um curso ou uma acção de for­mação. Os qua­dros pre­cisam de ser acom­pa­nhados na sua ac­ti­vi­dade diária e na re­a­li­zação das ta­refas. Os cursos ou ac­ções de for­mação são, de facto, im­por­tantes, mas não chegam.

A ac­ti­vi­dade prá­tica, com a in­serção dos qua­dros nas ta­refas ade­quadas e a par­ti­ci­pação nos or­ga­nismos certos, é fun­da­mental para o seu de­sen­vol­vi­mento e, si­mul­ta­ne­a­mente, para a evo­lução do tra­balho do Par­tido. Atri­buir ta­refas em con­for­mi­dade com as ca­pa­ci­dades e pos­si­bi­li­dades de cada um é con­dição es­sen­cial para que o quadro ganhe ex­pe­ri­ência e con­fi­ança, cri­ando as bases, para que de­sen­volva as con­di­ções para vir a as­sumir ta­refas de mais res­pon­sa­bi­li­dade.

Nas novas ta­refas os qua­dros, em par­ti­cular os mais novos, devem ter a ajuda ade­quada, para vencer na­tu­rais inex­pe­ri­ên­cias e di­fi­cul­dades, de forma a con­so­li­darem e ga­nharem con­fi­ança nas suas reais ca­pa­ci­dades e pos­si­bi­li­dades.

O per­curso normal de evo­lução de um quadro é evo­luir, ele­vando o seu nível po­lí­tico e ide­o­ló­gico, au­mentar as suas ca­pa­ci­dades de tra­balho, ga­nhar qua­li­dades e perder de­feitos. Mas também se podem perder se não são acom­pa­nhados ou se são mal acom­pa­nhados, se não foram aju­dados nas ta­refas, se não lhes for dada con­fi­ança, se não ti­vermos em conta os seus pro­blemas.

Ter para com os qua­dros a atenção, o res­peito, as re­la­ções de ca­ma­ra­dagem e o trato fra­ternal devem manter-se como traços fun­da­men­tais da nossa po­lí­tica de qua­dros.

Os mi­li­tantes e os qua­dros devem ser for­mados no es­pí­rito do tra­balho co­lec­tivo. De­vemos com­bater com fir­meza ten­dên­cias de tra­balho in­di­vi­du­a­lista, de di­recção in­di­vi­dual, onde quer que se ma­ni­festem, e com­por­ta­mentos que se afastem dos prin­cí­pios do Par­tido e en­fra­queçam a sua uni­dade e co­esão. Pa­ra­le­la­mente, deve ser de­di­cada toda a atenção aos pro­blemas dos qua­dros, tanto de na­tu­reza po­lí­tica, como de na­tu­reza pes­soal e fa­mi­liar.

A pro­posta de Re­so­lução Po­lí­tica aponta as li­nhas es­sen­ciais para me­lho­rarmos do tra­balho de acom­pa­nha­mento, for­mação e de pro­moção de novos qua­dros.

Trata-se de ori­en­ta­ções muito im­por­tantes, que devem me­recer a atenção e re­flexão de todo o nosso co­lec­tivo par­ti­dário e, so­bre­tudo, a adopção de me­didas con­cretas que nos per­mitam avançar.

In­ter­venção pro­fe­rida no XIX Con­gresso do PCP, re­a­li­zado em Al­mada de 30 de No­vembro a 2 de De­zembro.



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