O velho e o novo império jesuíta
«A burguesia e o proletariado são as classes essenciais da sociedade capitalista. A tendência básica desta sociedade é de cindir-se, cada vez mais em burguesia e proletariado. Este processo nasceu com o próprio capitalismo» (A Economia Política do Capitalismo, Tchernikov, Rindina e outros).
«A Igreja católica, na Época Medieval, condenava a usura e defendia o preço justo. Essa moral económica entrava em choque com a ganância da burguesia. Grande número de comerciantes não se sentiam à-vontade para tirar o lucro máximo nos negócios, pois temiam ir para o Inferno...» (História da Reforma e da Contra Reforma, Glauber Oliveira Laranjo, 2003).
«Doravante, a sociedade vai tomar consciência de si própria, sob a forma política e não religiosa. Ser-se-á patriota e cidadão antes de se ser crente. J. J. Rousseau exprimiu esta ideia da forma mais consequente: “Agora, que não há nem pode mais haver religião nacional exclusiva, devem tolerar-se aquelas que também tolerem as outras, desde que os seus dogmas não contrariem os deveres do cidadão. Mas quem ousar dizer – Fora da Igreja não há salvação – deve ser banido do Estado, a menos que o Estado seja a própria Igreja ou que o Príncipe seja o seu pontífice”» (Karl Marx, Os marxistas e a religião)
Numa síntese praticamente impossível em poucas linhas, poderia dizer-se que na Europa dos finais do século XVI se registava uma situação com muitos traços comuns aos do mundo capitalista actual. Mudava o «modo de produção» (a economia feudal e a concentração da prata e do ouro cediam espaço aos novos mercados), dava-se uma explosão de técnicas de ponta, mudavam as relações entre as classes sociais e a religião e a Europa cindia-se em duas facções: de um lado, o clero católico, feroz opositor a qualquer mudança; do lado oposto, os reformistas e refundadores, em princípio luteranos mas que a curto prazo se dispersaram num mosaico de seitas nacionais. Todos eles, porém, se identificavam com as respectivos nações. Reforma e contra-reforma seguiram ou comandaram os percursos do mundo laico renascentista.
O desenvolvimento do mercantilismo europeu (mais tarde baptizado como capitalismo) permitiu a formação nas escolas religiosas dos novos senhores do capital e do poder político. Uma vez mais em nome da Fé, as igrejas originaram guerras de rapina pavorosas e a miséria entre os povos.
Foi a partir dessa altura que se considera ter havido uma incubação do capitalismo moderno. A intervenção directa do Estado capitalista nos mercados permitiu o aumento e concentração progressiva das margens de lucro resultantes da especulação, do comércio, da posse das matérias-primas e da exploração do trabalho
No plano religioso, as igrejas tinham duas caras e assim se mantiveram através dos tempos. Condenavam os ricos e santificavam os pobres. Mas lucravam com a criminosa distribuição da riqueza e serviam de bengala à opressão dos humildes. Esta disparidade de posições ficou bem patente ao longo da história das crises cíclicas do capitalismo.
A base material desta opulência era a exploração colonial, o comércio e a promoção do consumismo praticado por uma limitada camada burguesa enriquecida. vulgarizou-se o recurso ao crédito bancário. A dívida pública da Coroa cresceu invulgarmente. Já então existiam – sobretudo na Alemanha e em Antuérpia – poderosos centros financeiros privados antecessores da banca contemporânea, como foi caso dos Fugger ou dos Welser. Vaticano, cabeças coroadas, aristocracia da nobreza e grandes mercadores, ligavam-se por pactos secretos e dominavam o mundo.
Unida à Casa Fugger, a Ordem dos Dominicanos era extremamente rica. Juntava ao próspero comércio das Indulgências os latifúndios recebidos na América Latina. Os Dominicanos ou Pregadores fizeram funcionar os terríveis Tribunais do Santo Ofício ou Inquisição, lado a lado com Jesuítas e Franciscanos. Obedeciam, simultaneamente, às regras canónicas e às ordens directas da coroa régia, visto a Ordem declarar-se perante a lei como instituição eclesiástica e instituto jurídico do Estado.
Na actualidade, estas linhas condutoras da acção ocultam-se, de novo, nas estratégias secretas da Nova Ordem Mundial e nos sinistros projectos refundadores.
Jesuítas «illuminati» agem à vontade nos quadros da democracia de classe da globalização. Oscilam sempre entre duas águas mas optam, invariavelmente, pela reacção.
(continua)