A «conjuntura»
Em todas as línguas há palavras-chave. «Conjuntura» é uma delas, no léxico político nacional.
Foi estreada por Mário Soares, quando em 1976 assumiu o I Governo Constitucional saído da Revolução de Abril de 1974 e nunca deixou de crescer.
Ao longo dos 19 governos constitucionais, a «conjuntura» fez o seu trabalho, que consistia em «justificar» todas as medidas que foram esboroando as conquistas revolucionárias, reprivatizando a economia, reconstituindo o poder dos monopólios, reinstalando o capital financeiro nas alavancas do poder em Portugal e, finalmente, capturando os apoios sociais do Estado em matéria de Saúde, Ensino e Segurança Social.
Mário Soares e restantes figurões que lhe sucederam no cargo se encarregaram de utilizar a «conjuntura» para ir desmantelando, à peça, o Portugal de Abril.
No início das privatizações, a «conjuntura» exigia-as porque a iniciativa privada «era mais eficiente» – mentira grosseira que, manhosamente, escondia os enormes e garantidos lucros das empresas nacionalizadas ao serviço do povo e do País. O mesmo sucedeu com a destruição da Reforma Agrária e, no passo, da auto-suficiência alimentar por ela encaminhada.
Foi também a «conjuntura» que explicou a sujeição do País aos ditames do FMI em 1977 e 1983 pela mão de Soares, esse homem fatal, bem como a «adesão à Europa», defendida furiosamente por Mário Soares (pois claro) e que entregaria Portugal aos interesses do grande capitalismo europeu, desembocando no actual desastre que aturde o País.
A União Europeia cumpriria paulatinamente os objectivos do grande capitalismo europeu em Portugal: com os famosos «fundos europeus», pagou o desmantelamento económico do País, as novas estradas que facilitassem a entrada de produtos importados e a apropriação do grande recurso nacional, a sua área económica marítima (a 2.ª no mundo, a seguir à do Canadá), que passou a ficar sob a tutela «da União».
Foi este o grande negócio que a «conjuntura» de Soares sobre a «inevitabilidade» da adesão à Europa e a «conjuntura» de Cavaco-primeiro-ministro sobre a «inevitabilidade» do desmantelamento de pescas, agricultura e indústria nacionais conseguiram para o País.
Hoje, o desastre flagrante infligido a Portugal já forçou este Governo farsante e seus co-signatários da troika interna a envolverem tudo e todos na «conjuntura», que passou a ser de «crise» e se tornou «global».
O que nenhum diz é que esta «conjuntura de crise» é característica do sistema capitalista e tornou-se de facto «global» quando o capitalismo ascendeu à sua fase imperialista.
Nada disto é novo e foi explicado há quase 100 anos, quando Lénine escreveu em 1916 o seu famoso ensaio O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo.
Quer se queira, quer não, é a Lénine e ao marxismo-leninismo que se terá de regressar para resolver a tal «conjuntura da crise» do capitalismo.
E é a insaciável depredação do capitalismo que a tal vai conduzindo. Inexoravelmente.