O segredo das «reformas estruturais»

Aurélio Santos

Muito se tem falado de incompetência e impreparação deste Governo.

Nada mais falso.

A verdade é que este Governo sabe muito bem o que está a fazer e para onde quer conduzir o País. Vítor Gaspar, que tem sido um dos rostos mais visíveis dos planos do Governo, cumpre esforçadamente os projectos impostos pelo grande capital internacional.

As nefastas consequências das suas medidas para Portugal e os portugueses pouco lhe interessam. Quando terminar, poderá voltar para o estrangeiro, onde por certo o esperará um bom lugar numa boa empresa para o acolher de braços abertos.

Desengane-se quem pense que ele falhou por não ter atingido os objectivos que apresentou. Ele já sabia que ia falhar. Mas precisava de falhar para justificar e impor mais medidas de austeridade, a que se seguirão outras e outras e mais outras, até ficarmos todos (ou quase todos) na pobreza. E se o sr. ministro das Finanças não está preocupado com os números do desemprego é porque essa é a forma mais fácil de fazer baixar os salários. É assim que se ensina na «Escola de Chicago»...

Portugal está sendo peça de um vasto puzzle para destruir os direitos sociais conquistados na Europa após a derrota do nazi-fascismo. E não deixa de ser curioso que este projecto tenha tido o seu início em três países (Grécia, Portugal e Espanha) que mais recentemente se libertaram de longas ditaduras.

Como a Espanha e a Itália se mostraram um osso mais duro de roer, a ofensiva do grande capital internacional é agora virada para outro país pequeno e vulnerável, a Eslovénia, que apesar de cumprir os critérios exigidos pela UE está a ver os seus juros aumentar sem qualquer razão justificativa. É assim que se fabricam as «crises»...

O Orçamento apresentado para 2013 é peça fundamental dos objectivos deste Governo.

Dizia Ramilho Ortigão em «As Farpas» que «só existe um lugar onde a loucura é remunerada – o Parlamento». Mas não foi por loucura que o Governo impôs este Orçamento aos seus deputados. Foi porque ele integra cabalmente os verdadeiros planos e objectivos das suas «reformas estruturais».



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