Não à asfixia orçamental
O serviço público de agência noticiosa «não é um negócio» ou «um modelo de negócio» mas «um dever do Estado, um factor de coesão nacional, um pilar da democracia».
Lusa cumpre um papel essencial ao país
Esta foi uma ideia central reiterada pelo deputado comunista Bruno Dias em recente debate suscitado pelo BE sobre a situação da agência Lusa e a pluralidade na comunicação social.
Em foco esteve sobretudo o corte brutal de 30,9 por cento previsto no OE de 2013 na subvenção pública à agência, machadada que põe em causa o posto de trabalho de vários correspondentes, internacionais e locais.
Depois de lembrar o apoio solidário do PCP à luta dos seus trabalhadores, indo ao fundo da questão, Bruno Dias considerou que está em causa não um problema orçamental para o Governo mas sim um «problema de asfixia orçamental para a Lusa», como de resto para a RTP, para o serviço público.
«O orçamento aqui é instrumental para a política de desmantelamento em curso», acusou Bruno Dias. E a prová-lo, frisou, está o facto de o corte orçamental para a Lusa corresponder a cinco por cento daquilo que o Governo prevê gastar com consultores externos no OE para 2013, ou, dito de outro modo, o equivalente a uma quantia menor do que a verba prevista para gastos com publicidade.
«Está à vista que o problema não é a Lusa gastar dinheiro a mais; enquanto a Lusa existir e trabalhar como serviço público continuará sempre a gastar dinheiro a mais para este Governo e esta política», salientou o parlamentar do PCP, que contestou ainda a afirmação do ministro Miguel Relvas de que é preciso «racionalizar».
«Como, se os trabalhadores já estão a trabalhar não com a pele mas com o osso?», perguntou Bruno Dias, que citou o relato por aqueles transmitido aos deputados em comissão referindo que «há reportagens que não se fazem porque não há dinheiro para combustíveis».
E por isso o desafio que lançou ao Governo e às bancadas da maioria: «digam o que a Lusa deve deixar de fazer».
Miguel Relvas, embora reconhecendo que a Lusa é «importante activo de afirmação da nossa cultura e língua», fechou-se em copas quanto ao essencial, mas lá foi dizendo que o objectivo do Governo é ter uma «agência ágil, respeitada», e que isso «pode ser feito com menos meios».
Duro golpe
Sobre esta matéria importa entretanto dizer que o PCP já anteriormente efectuara diligências junto do Governo no sentido de clarificar posições. Foi o caso de uma pergunta a ele dirigida pelo deputado Bruno Dias na qual inquire se «vai ou não impedir quaisquer cortes orçamentais à Lusa e promover o seu adequado financiamento e a sua valorização enquanto agência nacional de informação».
No texto, o parlamentar do PCP questiona ainda se «vai ou não o Governo assumir a garantia da manutenção de todos os postos de trabalho na agência Lusa e os direitos conquistados pelos seus trabalhadores».
Reafirmada é também a ideia de que se está perante «um ataque brutal aos direitos do povo português», bem como «à soberania nacional e ao próprio regime democrático», além de constituir «um duro golpe no próprio sector da comunicação social».
Noutra missiva, posterior, subscrita pelos deputados João Oliveira, Bruno Dias, João Ramos e Paulo Sá, pergunta-se, face ao previsível impacto no interior do País que ocorrerá por despedimentos motivados pelos cortes orçamentais, como é que esse abandono do interior é «compatível com as obrigações de garantia de serviço público imposto ao Estado e atribuído à Lusa».