A varrer

Henrique Custódio

O que se des­co­nhece do ac­tual Go­verno é quanto tempo aguenta a fingir que não está morto.

En­tre­tanto, a ge­ne­ra­li­dade dos ór­gãos de CS já nem guarda o de­coro de se fingir me­di­a­dora entre os factos po­lí­ticos que re­colhe e as no­tí­cias que deles pu­blica: re­produz ipsis verbis as pa­ta­co­adas do poder e dão-nas como factos in­con­tro­versos. Os exem­plos abundam, ora as­su­mindo no­ti­ci­o­sa­mente os di­tames da troika como «in­dis­cu­tí­veis», ora os «sa­cri­fí­cios» im­postos pelo Go­verno como «ine­vi­tá­veis», en­quanto as pa­lha­çadas dos go­ver­nantes são tra­tadas com tal so­le­ni­dade, que o ri­dí­culo dos no­ti­ci­ados con­ta­mina os no­ti­ci­a­dores. Veja-se «os si­lên­cios» de Paulo Portas – que os al­vis­sa­reiros es­pi­o­lharam até os trans­for­marem em «tabu» de perna curta e de­sen­lace idiota – ou as in­ter­mi­ná­veis in­con­gruên­cias de Passos Co­elho, que são in­va­ri­a­vel­mente un­gidas de so­le­ni­dade nas no­tí­cias, pa­re­cendo que, à se­me­lhança da tese de que «a função faz o órgão», pre­tendem in­duzir a so­le­ni­dade do cargo de pri­meiro-mi­nistro como cer­ti­fi­cado às su­ces­sivas ato­ardas do pró­prio.

E não é de ad­mirar. A In­for­mação está na posse de grupos pri­vados, que ta­lham o que o povo por­tu­guês deve, ou não, saber e o que convém pro­mover ou ig­norar.

A «in­de­pen­dência» fica para o tri­vial que en­tretém o pa­gode, como os crimes de sangue, de pe­do­filia ou dos «fumos de cor­rupção», onde toda a gente se es­mera em «apre­sentar o con­tra­di­tório», «con­sultar os dois lados» ou se­mear es­cru­pu­lo­sa­mente o fa­moso «pre­su­mível», não vá al­guém ofender-se e ac­ci­onar cri­mi­nal­mente «o órgão».

É claro que também nos ofe­recem «os co­men­ta­dores», uma re­du­zida es­pécie es­co­lhida a dedo, paga ge­ne­ro­sa­mente e que de­bita com re­gu­la­ri­dade o «po­li­ti­ca­mente cor­recto» adi­ti­vado com umas pingas de «in­de­pen­dência», para dar mais po­tência à coisa. São bem-fa­lantes, de todos os «qua­drantes» (menos o do PCP, pois claro...) e pro­curam sempre dar no­vi­dades avant la lettre. É o que fazem neste mo­mento, ma­lhando todos à uma no des­con­chavo do Go­verno, pas­sando-lhe su­ces­sivas cer­ti­dões de óbito e es­pan­cando-o, já, com os por­retes do jargão.

Não é por acaso que isto acon­tece: ci­entes – os co­men­ta­dores e o poder que os «ins­pira» – de que a in­dig­nação e a re­volta dos tra­ba­lha­dores e do povo vão con­fluindo numa tor­rente ir­re­pri­mível, pro­curam apa­ziguá-la zur­zindo no Go­verno.

En­tre­tanto, o grande ca­pital reza para que, no en­tre­mentes e en­quanto não é apeado, este Exe­cu­tivo vá con­cre­ti­zando as sel­vá­ticas me­didas de re­dução dos custos do tra­balho, afinal a grande am­bição dos po­de­rosos em Por­tugal.

É per­se­guindo este ob­jec­tivo que Passos Co­elho montou a nova pa­lha­çada das «re­fun­da­ções», apon­tando à re­visão cons­ti­tu­ci­onal que varra as ga­ran­tias do Es­tado so­cial.

Mas foi a luta na rua que – ela sim –, «varreu» a ig­no­mínia da TSU.

E também será a luta dos tra­ba­lha­dores e do povo que var­rerão este Go­verno e a sua po­lí­tica fas­ci­zante.



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