Eleições nos EUA
Um dos países mais desiguais do mundo
Ao momento da redacção deste artigo ainda não são conhecidos os resultados das eleições presidenciais nos EUA. Mas mais importante do que saber quem será o próximo presidente dos EUA importa sobretudo reflectir sobre o que são, em que quadro se realizam e o que representam estas eleições. Três anotações:
1 – As eleições norte-americanas são o processo eleitoral mais mediatizado do Mundo. Tal facto não é dissociável da permanente campanha ideológica que apresenta os EUA como a «mais avançada democracia do mundo». Não caberá aqui analisar, à luz da nossa concepção de democracia a sociedade norte-americana, o seu sistema sócio-económico e correspondente regime. Se o fizéssemos concluiríamos facilmente que nos planos económico, social e mesmo cultural, os EUA têm muito, mesmo muito, a dever a uma noção, básica que fosse, de real democracia. Abordaremos, em virtude do momento, o sistema político e eleitoral concebido para manter intacto o poder da classe dominante norte-americana e o seu sistema de domínio imperialista e para eternizar no poder os dois grandes centros políticos norte-americanos – o partido democrata e o partido republicano. Partidos que representando diferentes secções do grande capital norte-americano, mas uma mesma ideologia, dividem entre si, independentemente de quem habite a Casa Branca, uma complexa teia de poderes e influência no plano económico, político e militar.
O sistema político faz a sua parte, impedindo na prática a participação de outras forças políticas que não os dois partidos do sistema na gestão dos destinos dos EUA. Mas não é apenas o sistema político e eleitoral que garante a permanência das «duas cabeças» de um mesmo poder na Casa Branca. O financiamento das campanhas eleitorais tem aqui um papel fundamental. Nestas eleições os dois partidos juntos terão gasto nada mais nada menos do que seis mil milhões de dólares. Uma soma astronómica que demonstrando na prática quem está por detrás da «democracia» norte-americana funciona também como «filtro decantador» relativamente a quaisquer eventuais alternativas políticas.
2 – Contrastando com o ambiente vivido em 2008 criado em torno da ideia do «Yes, we can!» estas eleições foram marcadas por um ambiente de pessimismo e desilusão. Por uma razão fundamental: os EUA estão mergulhados numa profunda crise, e pior que isso, à beira de um novo e violento episódio de crise. Com uma dívida que já atinge os 100% do PIB e cujo montante ascende a mais de 15 biliões (milhões de milhões) de dólares; com um desemprego crescente e que em termos reais rondará os 14%, com uma economia estagnada e um défice do Estado galopante, o espectro da recessão económica na principal potência imperialista pode já tornar-se uma realidade no início do ano quando face à situação se impuser o chamado «precipício fiscal», ou seja cortes drásticos na despesa pública (na ordem dos 600 mil milhões de dólares), aumento de impostos e claro, muitos mais sacrifícios para a classe trabalhadora de um dos países mais desiguais do mundo.
3 – Como ficou bem patente na campanha e nos debates, ambos os candidatos defendem exactamente a mesma política externa militarista, de ingerência e recolonização planetária. Obama demonstrou na prática ser tão ou mais belicista que George W. Bush. Líbia, Afeganistão, Paquistão, Irão, Síria, sistema anti-missil, Guantanamo são, entre outras, provas desta afirmação. Provas que dão razão a tudo o que o PCP disse em 2008 quando muitos afirmavam que o Mundo ia mudar com Obama. Mas há um facto novo que importa realçar nestas eleições. É que face às posições fascistas de Mitt Romney em variadas áreas o partido democrata moveu-se ainda mais para a direita, convergindo no plano das políticas económicas e sociais com as políticas tradicionais do partido republicano. Esta recentragem à direita arrasta grandes perigos para o Mundo e para o próprio povo norte-americano. Por isso, e independentemente do resultado destas eleições uma certeza temos: só a luta por uma ruptura com o sistema de poder dos EUA poderá abrir perspectivas de mudança na maior potência imperialista do Mundo, ferida pelo seu declínio económico.