Estudantes chilenos persistem na luta
Milhares de alunos voltaram a defender nas ruas de Santiago a educação pública, gratuita e de qualidade. A manifestação ocorreu quando se discute o Orçamento de Estado, considerado pelos estudantes como de continuidade quanto à orientação central para o sector.
Os jovens rejeitam a lógica do lucro na educação
A jornada, realizada faz hoje uma semana na capital chilena, juntou cerca de 60 mil pessoas, de acordo com os organizadores, e iniciou-se de forma pacífica, tendo degenerado em confrontos quando grupos de encapuzados abandonaram as colunas de manifestantes e enfrentaram a polícia. As autoridades aproveitaram, uma vez mais, para investirem sobre a multidão com canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo, constataram a AFP e a EFE.
De acordo com as agências noticiosas, o presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, Gabriel Boric, lamentou os incidentes e garantiu que as organizações convocantes tudo fazem para que as acções da sua responsabilidade se desenrolem pacificamente.
Boric sublinhou ainda que a violência, estranha às organizações representativas dos estudantes, não ensombra as suas reivindicações e reiterou que vão persistir na luta pela educação pública, gratuita e de qualidade.
O protesto ocorreu enquanto no parlamento os deputados discutem o Orçamento do Estado para 2013 e a duas semanas das eleições municipais no país. Os participantes exigiram, por isso, que os candidatos se comprometam a não encerrar ou fundir estabelecimentos públicos, nomeadamente escolas secundárias, sob alçada dos municípios.
A garantia interliga-se com o debate em torno do Orçamento, já que, explicam, este mantém a mesma lógica de financiamento da educação, privilegiando o sector privado em detrimento do público. Como consequência, muitas autarquias podem ser forçadas a extinguir colégios estatais em situação de subfinanciamento.
O executivo liderado por Sebastián Piñera argumenta que a proposta orçamental para o próximo ano prevê um reforço de 1200 milhões de dólares para o sector e reformula os mecanismos de empréstimos bancários, aos quais os jovens e respectivas famílias são obrigados a recorrer para financiarem os custos da frequência universitária.
Os estudantes contra-argumentam frisando que o problema não está apenas no aumento dos fundos destinados à educação, mas, sobretudo, na lógica privatizadora e voltada para o lucro que a domina.
A crítica dos jovens é atestada pelos números. Em 1982, quando o actual sistema entrou em vigor, impulsionado pela ditadura liderada por Augusto Pinochet, 88 por cento dos chilenos em idade escolar frequentavam o ensino público. O ano passado, a taxa rondava os 36 por cento, de acordo com cálculos adiantados por Gabriel Boric, citados pela EFE.
Neste contexto, Noam Titelman, presidente da Federação de Estudantes da Universidade Católica, considera que está na hora de levar por diante uma mudança de paradigma que valorize o ensino público nos vários níveis, insistiu, segundo a Prensa Latina.
As manifestações em defesa da escola pública no Chile assumiram um carácter contínuo e de massas há quase de dois anos. Uma sondagem recente divulgada pela Admimark indica que cerca de 70 por cento dos chilenos apoiam as reivindicações estudantis.