Milhões de desempregados e famintos no mundo

Miséria gerada pelo sistema capitalista

Mais de 200 milhões de desempregados e 870 milhões de famintos no mundo ilustram a miséria gerada pelo capitalismo, flagelos que a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as Nações Unidas e outras entidades confirmam ter-se agravado com a eclosão da corrente crise do sistema.

O capital financeiro especulativo controla 60 por cento do mercado alimentar

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Segundo os dados apresentados pela OIT numa reunião do Fundo Monetário Internacional, realizada sexta-feira, 12, em Tóquio, o número de desempregados aumentou em 30 milhões desde 2007. O flagelo é particularmente sentido entre os jovens com menos de 25 anos, grupo que supera os 75 milhões num total de mais de 200 milhões.

Anualmente, entram no mercado de trabalho cerca de 40 milhões de indivíduos, calcula igualmente a OIT, por isso o director da instituição, Guy Rider, antevê uma degradação do desemprego ao nível global nos próximos anos, isto mesmo admitindo que se mantém a proporção de trabalhadores que pura e simplesmente já desistiram de procurar colocação, estimados, neste momento, em 40 milhões.

Rider alertou ainda para o facto de pelo menos 900 milhões de trabalhadores não ganharem o suficiente para garantirem a respectiva sobrevivência, isto é, mesmo tendo emprego são incapazes de se manter à tona do limiar da pobreza.

O responsável da OIT também aproveitou a ocasião para criticar as chamadas medidas de austeridade e os cortes nas despesas sociais. Se se tivessem mantido os programas destinados a menorizar a pobreza, hoje teríamos menos 55 milhões de pobres, referiu, antes de acrescentar que as orientações impostas a propósito da contenção dos défice públicos desencadearam consequências mais devastadoras do que as inicialmente previstas.

 

Flagelo persistente

 

Paralelamente às declarações do director da OIT, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo Internacional Para a Agricultura e o Desenvolvimento estimaram em pelo menos 870 milhões o total de seres humanos famintos, ou seja, um em cada oito habitantes do planeta Terra.

A maioria dos subnutridos encontra-se em países considerados subdesenvolvidos, dizem as mesmas fontes. No continente africano, e em especial nos territórios abaixo do deserto do Saara, a fome é um flagelo persistente, notam, frisando que os progressos verificados no dobrar do milénio foram rapidamente engolidos pela actual crise.

O aumento das insuficiências alimentares foi igualmente registado nas nações desenvolvidas, onde os dados dizem que existem 16 milhões de pessoas em carência absoluta (15 por cento do total), consubstanciando uma subida de três milhões desde 2004.

Progressos apenas na Ásia, onde a subnutrição recuou 10 pontos percentuais desde 1990, e na América Latina, onde o total de famintos diminuiu de 65 para 49 milhões, sobretudo na última década.

O Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares, com sede em Washington, afirma que em pelo menos 20 países a situação de subnutrição da população é alarmante ou de emergência, noticiou a Inter Press Service.

O secretário-geral da ActionAid Itália, Marco de Ponte, reagiu às estatísticas considerando que o decréscimo do total de famintos no mundo que entre 2009 e 2011 era calculado pela FAO em cerca de mil milhões de indivíduos deve-se sobretudo ao menor impacto que o aumento dos preços teve nos países emergentes, e não tanto às políticas públicas de combate ao flagelo.

 

Preços insuflados

 

Um outro relatório elaborado pela representação norte-americana da ActionAid, citado pela IPS, afirma que para o aumento do preço dos alimentos a nível mundial contribui o crescimento do uso do milho na produção de biocombustível, particularmente nos EUA, situação que se reflecte na subnutrição global.

Estima-se que este ano a percentagem de milho destinado à produção de energia naquele que é um dos maiores produtores mundiais, ascenda a 40 por cento do total. A subida deste índice pressionou o preço do cereal no mercado em 21 por cento nos últimos seis anos.

A mesma fonte calcula que, no mesmo período, países como o México e o Egipto tenham gasto mais 1,1 mil milhões de dólares e 727 milhões de dólares, respectivamente, para importar aquele bem.

No mesmo sentido, só em 2010 a Guatemala destinou 10 por cento do seu orçamento para a agricultura e desenvolvimento à importação de milho.

A ActionAid alerta ainda para a previsível degradação da situação noutros segmentos que não o dos cereais, já que muitos agricultores norte-americanos foram este ano obrigados a abater os animais devido ao aumento do preço das rações.

Recentemente, a FAO advertiu que, em Setembro, o preço global dos alimentos cresceu 1,4 por cento, isto depois de uma subida abrupta de 10 por cento em Junho.

A meio deste ano, a Agência das Nações Unidas rejeitava, no entanto, que as variações na produção tivessem um peso preponderante na subida dos preços.

A afirmação representa uma acusação à política energética dos EUA e ao capital financeiro, uma vez que se estima que este controle 60 por cento do mercado alimentar, quando, em 1996, o investimento especulativo nesta área rondava os 12 por cento.



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