«Convergências» e unidade
O «Congresso Democrático das Alternativas» confirmou as discordâncias e distanciamentos assumidos pelo PCP aquando do seu anúncio. A sua preparação, o que lá foi dito, e o que sobre ele disseram os seus organizadores, confirmou uma visão sectária, tendo sido tentada, mais uma vez, e pelos mais variados meios, a marginalização do PCP remetendo-o para a trincheira do sectarismo e do imobilismo face à proclamada «unidade».
Mas, tacitismos à parte, importa ir ao que interessa: aos conteúdos. Se nos discursos das «estrelas» foi patente uma linha política que, aparentemente errática e indefinida, é no fundo caracterizada, em aspectos fundamentais, por uma nítida colagem à linha política do PS, a leitura da sua declaração final não deixa grandes dúvidas de que uma real alternativa, patriótica, de esquerda, progressista e de ruptura com a política de direita não passa certamente por uma nebulosa de conceitos e equilíbrios que pouco ou nada trazem de novo à necessária construção de uma ampla frente social que, por via da luta de massas e da alteração da correlação de forças, possa impor uma alternativa política verdadeiramente digna desse nome. Total branqueamento do papel do PS ao longo dos últimos 36 anos; fuga à questão nodal da inequívoca rejeição do pacto de agressão; uma visão sobre a UE e sobre o euro que não questiona o edifício neoliberal, militarista e federalista; uma visão de Portugal no Mundo que nada diz sobre a necessidade da dissolução da NATO e da desvinculação de Portugal das suas estruturas; uma visão da economia que se limita a exigir a «suspensão dos processos de privatização», são apenas alguns dos exemplos da «convergência» que por ali passou.
Neste congresso falou-se muito de manifestações, mas olhando para o seu conteúdo e para os seus objectivos – os proclamados e os efectivamente alcançados – fica uma ideia clara: aquele não é o caminho da unidade que o povo nas ruas está a construir. A unidade faz-se somando e não excluindo, faz-se com clareza e não com indefinições. É bom que aqueles que ciclicamente usam a «convergência» para a sua própria promoção percebam, de uma vez por todas, que a unidade não se decreta, constrói-se na luta (e não por cima dela) e é na luta que é constantemente testada.