O desespero é perigoso
Do debate das moções de censura apresentadas na AR na semana passada há muita coisa interessante a reter. Mas o mais relevante é certamente o desespero e a cabeça perdida que o Governo e as bancadas que o apoiam manifestaram.
Do cinismo salazarento com que Vítor Gaspar se referiu ao povo português e da forma como o seu verniz tecnocrático estala por todos os lados, deixando à vista o sinistro e genuíno interior de extrema-direita, já pouco mais haverá a dizer.
Mas merece uma referência especial a intervenção da deputada do PSD Teresa Leal Coelho. Não tanto pela indigência política, mas pelo recorte fascista, a que não faltou sequer a menção a pagamentos pela «Moscovo soviética». As paredes da Assembleia devem ter recordado os tempos em que era «nacional» e não «da República», e em que tais palavras saíam da boca dos Albinos dos Reis e dos Casal Ribeiro.
Naturalmente que uma intervenção com este recorte suscita a curiosidade em saber mais alguma coisa sobre esta criatura. Uma pesquisa na Internet fornece um historial curioso, mas não inesperado. De ligação a alguns dos personagens mais desqualificados dessa sombria zona de intersecção entre quadros do PSD e o mundo dos negócios escuros (nomeadamente do futebol). De ligações nacionais e internacionais próximas dos serviços de informações e de estratégia do imperialismo. Prepara uma tese de doutoramento sobre «Intervenção armada humanitária (responsabilidade de proteger)» que, a julgar pela intervenção feita na AR, deveria suscitar algumas cautelas adicionais aos deputados que ela suspeite de estarem a soldo da «Moscovo soviética».
Evidentemente que esta senhora não merece que se perca muito tempo com ela. Mas a sua intervenção foi sobretudo o grito de ódio de gente politicamente acossada e desesperada, e é isso que deve ser registado. Que este Governo e esta política conduzem o País ao desastre, já todos sabemos. Que esta política, perante o poderoso crescimento da resistência de massas, entrou numa fase mais perigosa, é que é necessário ter claramente presente. E dar-lhe a resposta que merece.