É impossível
Este Governo não tem conserto. Desde Passos Coelho aos ministros, já ninguém se atreve a sair à rua sem estar tudo previamente esterilizado de cidadãos. E compreende-se: nos últimos tempos não houve local onde espreitasse um ministro, que não se transformasse numa cachoeira de insultos. Até já houve um que foi assuado por crianças.
O próprio PR encafuou o 5 de Outubro no Pátio da Galé, com um batalhão de polícias a travar o acesso aos cidadãos e, após hastear a bandeira de pernas para o ar, zarpou para o Palácio de Belém, cujos jardins também mandou encerrar ao público, quebrando uma tradição, já instalada, de neste dia os cidadãos poderem visitar os jardins da Presidência.
Ficámos, assim, a saber que o actual PR também já foge das multidões o que, valha a verdade, não espanta. Que se saiba, Cavaco nunca na vida arriscou coisíssima nenhuma. Por que havia o homem de descobrir a intrepidez aos 73 anos?
Em facto, este bando de aventureiros que desgoverna o País encontra-se numa solidão absoluta, com todos os trabalhadores, empresários, profissões e classes sociais a zurzir, à uma, no novo e monstruoso «pacote de austeridade» que, a ser posto em prática, lançará o País num vórtice recessivo, na quebra acelerada do PIB, num turbilhão de falências, no desemprego a galope, na miséria quase generalizada e, inevitavelmente, em convulsões sociais gigantescas.
Tal é a unanimidade contra esta política, que o próprio presidente da CIP, António Saraiva, já afirmou que «não falta vontade aos empresários para fazer greve». Entretanto, nas televisões, rádios ou jornais surdem os ataques à vara larga – incluindo a repescagem duma trampolinice P. Coelho/M. Relvas, com o último a transferir para a empresa gerida pelo primeiro a «parte de leão» dos fundos que geria, entre 2002 e 2004.
Todavia, esta gente do Governo pode não saber o que faz, mas faz o que sabe: depauperar efectivamente o País, retirar aos cidadãos os direitos que a Revolução de Abril lhes trouxe – Saúde, Ensino e Segurança Social – e tornar Portugal num alfobre de mão-de-obra barata, descartável e submissa aos ditames dos poderosos.
Obviamente, é impossível que este desgoverno não conheça a evidência que já toda a gente constatou – desde trabalhadores a empresários, de economistas a políticos: a de que medidas sucessivas de aumentos de impostos e de cortes nos salários e pensões só têm como único e fatal resultado o empobrecimento ruinoso e acelerado do País.
Assim sendo, todas as vezes que Passos Coelho anunciou cortes e prometeu melhorias, mentiu deliberadamente, pois o que sempre quis foi cumprir o projecto maior da plutocracia da UE: o de diminuir os custos do trabalho em Portugal e acabar com as conquistas sociais obtidas com a Revolução de Abril, mesmo violando brutalmente a Constituição portuguesa..