Festa do Livro

Histórias do passado <br>e reflexões sobre o futuro

Isabel Branco

Image 11418

Existe um melhor local para apresentar livros do que um espaço com milhares de visitantes, rodeado de romances, ensaios, poemas e peças de teatro? O contacto directo entre leitores, obras e autores constitui um dos pontos altos da Festa do Livro, permitindo a troca de ideias e experiências e dando a conhecer novas obras.

O lançamento de nove títulos – Angola 1970. Chamas da Liberdade, de Francisco do Ó Pacheco; Maior É o Povo. Aqui É Campo Maior, de Filipe Chinita; Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material, de Rui Namorado Rosa; O Escândalo da Dívida e o Sistema Mundial Offshore (Vender a alma ao diabo), de Guilherme da Fonseca-Statter; Enquanto a Memória Responde, de Miguel Urbano Rodrigues; A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização, de António Avelãs Nunes; O Contributo de Marx para o Marxismo, de Sérgio Ribeiro; A Estrada de Mil Léguas, de Mário Coutinho de Pádua; e Alguns contos, de Carlos Pato – atraiu naturalmente as atenções dos visitantes. Mas a viagem pela Festa do Livro teve igualmente o atractivo das promoções, que nalguns casos foram até aos 50 por cento de desconto, bem como os pacotes temáticos» preparados pelas Edições Avante! – estavam disponíveis nove conjuntos – a preços convidativos, reunindo desde Obras Escolhidas de Lénine a poesia revolucionária, o conjunto da obra literária de Manuel Tiago ou livros de história e memória sobre a resistência ao fascismo e a revolução de Abril.

Image 11422


Angola 1970. Chamas da Liberdade

Angola 1970. Chamas da Liberdade, de Francisco do Ó Pacheco, foi um dos primeiros títulos lançados na Festa este ano. A novela conta a história de uma companhia no Leste de Angola e, como explicou o autor, pretende ser uma homenagem aos homens que combateram em ambos os lados da Guerra Colonial. A sua experiência pessoal no terreno foi importante para a escrita da narrativa. «São pequenos mundos que existem na companhia. Há amizades, ódios, medos, mas também uma questão política: o papel dos soldados na perpetuação da opressão do regime fascista que, ao mesmo tempo, queríamos combater – e combatíamos no continente de forma legal e clandestina», afirmou Francisco do Ó Pacheco. A obra encerra também a história de amor entre um soldado português que passa para as forças do MPLA e uma guerrilheira angolana, uma trama não linear que dá uma «perspectiva humana dos soldados que foram combater para um continente que não conheciam», como comentou o escritor e argumentista Vicente Alves do Ó, que apresentou o livro. «Temos aqui uma visão diferente da Guerra Colonial, uma questão que ainda não foi resolvida pela sociedade. É, acima de tudo, uma história de sobrevivência de ambos os lados. É necessário falar sobre os momentos difíceis da História, porque fazem parte de nós», acrescentou.

Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material

O último livro de Rui Namorado Rosa, Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material, aborda questões sociais, científicas, ecológicas e económicas, num texto que «não tem precedentes entre nós», segundo Frederico Carvalho: «Não é de física ou de técnica, mas o conhecimento científico é o pano de fundo, numa escrita límpida e acessível a não especialistas. Trata de problemas que a todos nos afectam.» Questões como as fontes de energia, as crises alimentares e o aproveitamento da barragem do Alqueva são desenvolvidas ao longo das suas páginas, com o aprofundamento da compreensão das raízes dos problemas e dos passos que devem ser dados.

A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização

Outro ensaio apresentado na Festa foi A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização, de António Avelãs Nunes, obra «de uma acutilante oportunidade face à situação em que Portugal se encontra e que constitui um importante instrumento de análise e reflexão», nas palavras de Vasco Cardoso. O livro analisa as teses que suportam a acção do Governo e que dominam o meio académico, tornando com frequência a investigação científica num prolongamento da ideologia dominante. Encontramos aí uma caracterização da crise e reflexões sobre a dependência externa, as tendências neocoloniais, o papel dos monopólios, o rumo do euro, as suas consequências e o impacto nas condições de trabalho e no valor dos salários.

O Contributo de Marx para o Marxismo

O último livro de Sérgio Ribeiro, O Contributo de Marx para o Marxismo, teve como ponto de partida uma comunicação para o Congresso Internacional Marx – que se realizou em Maio, em Lisboa – a propósito de uma carta de Marx em que destacava a teoria do valor e o carácter dúplice do trabalho. «De facto, há marxismo para além de Marx. O marxismo é um guia para a acção», afirmou o autor, sublinhando que «sem trabalho ideológico, fica a faltar à luta revolucionária a tomada de consciência, e isso é fundamental». Durante a apresentação do volume, Avelãs Nunes sustentou que «temos o dever de resistir no terreno ideológico, porque a luta ideológica é um factor essencial no combate político».

Alguns contos

Foi ainda apresentado um volume de Carlos Pato, resistente antifascista assassinado pela PIDE em 1951. Alguns contos é marcado pelo neorrealismo, corrente literária que Pato ajudou a desenvolver no nosso País. «Esta publicação é uma homenagem ao escritor e ao homem. Devemos ter em conta o período e as circunstâncias em que foram escritas», defendeu José Casanova, recordando a repressão fascista, a Guerra Civil de Espanha, a ascensão do nazismo na Europa e as acções de resistência desenvolvidas por artistas e intelectuais, como foi o caso de Pato. «Temos de valorizar a intervenção dos intelectuais na arte e na sociedade e o seu papel na luta antifascista através dos seus livros, composições musicais, pinturas e esculturas», salientou.

Festa do Disco
Música… também para levar para casa

 

Image 11419

O pavilhão da Festa do Disco é já um local de culto para os melómanos. A edição de 2012 não foi diferente: alinhados por géneros musicais, aí estavam disponíveis CDs, DVDs, LPs, singles e cassetes de clássicos e novidades produzidas em Portugal e no estrangeiro. As expressões nas caras dos visitantes revelavam a alegria de quem encontra um trabalho há muito procurado, a surpresa dos que descobrem obras desconhecidas, a concentração de quem não pretende deixar escapar nada entre as compactas lombadas das capas… T-shirts e pins completavam o conjunto.






Mais artigos de: Festa do Avante!

Outros Espaços

Localizado na Avenida da Liberdade da Quinta da Atalaia, quase mesmo à beira do Palco 25 de Abril, o Espaço da Emigração salientou a organização dos comunistas na diáspora como a única que defende consequentemente os direitos de...

Afirmação da alternativa socialista

Todos os anos o Espaço Internacional da Festa do Avante! concentra os pavilhões de partidos comunistas e operários e de outras organizações políticas convidadas, cada um trazendo a sua história e experiência concreta, os sabores e saberes...

Delegações internacionais presentes

Exemplo de prestígio do nosso Partido e da nossa Festa do Avante!, este ano marcaram presença um total de 46 delegações internacionais, em representação de partidos comunistas e operários e organizações progressistas de 38...

Quando a generosidade é «paga» com o esmero

Disse uma vez o malogrado Bernardo Sassetti que nunca teve um público tão «bom» e «genuíno» como o da Festa do Avante!. Como ele, que tantas vezes ali actuou (magistralmente, aliás), outros artistas certamente pensarão o mesmo:...

Os <i>“Proms”</i> da Festa do Avante!

Tem os anos suficientes para se ter tornado já uma tradição, a abertura do palco principal da Festa do Avante! ser um espectáculo de música sinfónica. O que é muitíssimo relevante por a Festa ser uma grande manifestação política e cultural...

E cada vez somos mais!

O título deste texto foi roubado ao de um poema de Ary dos Santos, escrito há mais de trinta anos, e não foi por acaso. Homenagem ao poeta de Abril? Certamente. Mas é sobretudo uma constatação: a de que o Partido está maior e que isso se reflectiu na dimensão do...

Juntos na luta que continua

Os nossos amigos convidados perguntam-nos muitas vezes como fazemos, como mobilizamos tanto trabalho militante, manual, intelectual, artístico, onde, por vezes, as vontades se sobrepõem em número aos saberes. Evocando o poeta, eis uma festa de operários em construção, em que cada...

A força do ideal comunista

Quando dizemos que não há Festa como esta estamos a enunciar uma verdade conhecida de todos os que por aqui passam quer como construtores desta bela cidade quer como simples visitantes. São para esses, para os que sabem por experiência própria que não há Festa como esta, as...

Alegria de viver e de lutar

Viva a Festa do Avante!, viva a Festa que a juventude tomou como sua e nas suas mãos. Saudamos os construtores da Festa, especialmente as centenas de jovens que, na Atalaia e fora dela, divulgaram, mobilizaram e construíram a Festa e a sua cidade, a Cidade da Juventude. Horas de trabalho realizado por...

A luta como resposta

Com a maior área coberta contínua de toda a Quinta da Atalaia, o Espaço Central da Festa albergou, em diversificados meios de expressão, o essencial da mensagem política do PCP. Em três exposições, 14 debates temáticos e...

É possível retomar o rumo

«Os Valores de Abril no Futuro de Portugal» foi o tema do debate realizado no domingo, à tarde, no Fórum do Espaço Central. Trata-se de um tema que, segundo Francisco Lopes, é de toda a actualidade, face à situação em que o...

Nos 75 anos da <i>Guernica</i>

Guernica, o quadro que Pablo Picasso pintou quase imediatamente a seguir ao bombardeamento desta cidade pelos nazis, foi mote para o debate A Arte e a Luta Política, realizado na sexta-feira à noite, no Auditório do Espaço Central. Com o seu quadro Guernica...

Força para bater a exploração

Sábado, à noite, no Fórum, no debate que teve por tema «Contra a exploração, Lutar nas empresas e na rua», todos os oradores acentuaram que há forças para fazer frente e derrotar a ofensiva legislativa que tem por objectivo acentuar a exploração...

Para lá do ataque <br>às freguesias

A lei para extinção de freguesias faz parte de uma ofensiva, mais vasta, contra o poder local e o regime democrático construído após o 25 de Abril. Se este processo não for contido, vai ter mais desenvolvimentos, que poderão chegar à extinção de...

Uma política que mata

Se o Serviço Nacional de Saúde, construído com esforço e dedicação de milhares de profissionais como expressão do direito de todos consagrado na Constituição de Abril, colocou Portugal entre os países com melhores indicadores, a política de...

De 1962 para o presente

Na principal artéria do Espaço Central, uma vintena de lugares sentados, somando as três filas de cadeiras com um ou dois bancos corridos, que se iam movendo ao sabor da sombra, instalou-se o programa À Conversa com... Dois dos seus quatro temas realçaram a importância...

Um hino ao trabalho

«O trabalho e os trabalhadores» era o título da exposição de fotografia com que este ano a Festa pretendeu valorizar e dignificar os trabalhadores portugueses e de todo o mundo. Nesta exposição, visitada no sábado por Jerónimo de...

Cinema vivo

Os caçadores de surpresas voltaram a ter um campo vasto por explorar, nos três dias da Festa, e alguns terão adorado seguir o roteiro do CineAvante, no Espaço Central, por um misterioso mas curto corredor com esquina, a terminar numa cortina negra, que era...

O PCP não os esquece

Bento Gonçalves, «exemplo de revolucionário comunista»; José Carlos Ary dos Santos, o «poeta militante» e intelectual que tomou partido; Adriano Correia de Oliveira, cuja voz «desafiou a repressão fascista, cantando e combatendo a...

Os diferentes caminhos <br>da emancipação social

De Cuba e da Colômbia, da Palestina e do Líbano, da Rússia, da África do Sul, do Brasil e da Índia vieram dirigentes de partidos comunistas e de outras organizações revolucionárias. Estiveram na Festa do Avante! 46 delegações...

Abraço fraterno

Os momentos de solidariedade que decorreram nos espaços das organizações regionais do Partido voltaram a confirmar o seu sucesso na Festa. Centenas de pessoas compareceram às iniciativas realizadas em Braga, Setúbal, Porto e Alentejo. Nelas expressou-se o...

Um País feito por nossas mãos

A Festa é a afirmação da esperança e convicção no futuro do nosso povo e do País, com a consciência de que a luta é o caminho. Sentimento bem patente no espaço de Braga, que logo após o topo do caminho de entrada da...

Fervilhar de eventos <br>e emoções

360 colectividades ou equipas (incluindo associações desportivas e federações), 35 modalidades, cinco torneios, 280 colaboradores, 15 mil participantes. Eis, em traços largos, alguns números sobre o que foi essa vibrante realidade que é o...

E a Festa coloriu as ruas

Milhares de atletas voltaram a fazer da Corrida da Festa um grande evento desportivo. Os 11,6 Km de um percurso que se estendeu pelas margens da magnífica Baía do Seixal foram percorridos num tempo de 35:15, exactamente o que gastou Nelson Cruz, 34 anos, da Escolinha de Atletismo...

Cidade sem muros nem ameias

Aos primeiros acordes da Carvalhesa, milhares de jovens lançam-se em corrida para o palco 25 de Abril. Vêm de todos os espaços da Festa do Avante! para não perder aquela que é uma das músicas tradicionais mais acarinhadas pela juventude. É assim...

Colaboração fundamental

É a todos os título notável o trabalho do movimento associativo e popular em prol do desporto. São as colectividades que por iniciativa própria incrementam e dinamizam modalidades que para muitos (especialmente os jovens) são a única porta lhes é aberta à...

Superar barreiras

Junto ao lago, bem aprazível, voltou a situar-se o espaço reservado à prática de BOCCIA. A demonstração desta modalidade de desporto adaptado esteve uma vez mais a cargo da Escola de BOCCIA da Associação de Paralisia Cerebral de Almada...

Recorde de participações

O apuramento dos quatro lugares cimeiros na Atalaia, em jogos disputados na tarde de domingo, foi o ponto alto do torneio de futsal Avante Jovem que, nesta sua sexta edição, superou novas etapas quer em termos de equipas quer de participações. «Os...

Tradição que rejuvenesce

Os torneios de malha (grande, pequena, tradicional e corrida), com finais disputadas na Atalaia, depois de dois meses de jornadas que mobilizaram dezenas de colectividades e centenas de praticantes, despertam sempre o entusiasmo dos que neles participam e a atenção dos muitos outros que a eles assistem....

Crescer a rolar

Uma das novidades na programação deste ano foi a presença do Hóquei em Patins, através das equipas Benjamim (sete/oito anos) do Grupo Desportivo Fabril e do Seixal Futebol Clube. Disputado na tarde de sábado, o jogo mostrou-se muito competitivo, com os miúdos a darem o...

Justo reconhecimento

É dos mestres mais antigos no nosso País e dos mais jovens que no mundo ascendeu a essa categoria na modalidade de Goju-Ryu, no universo do karaté. Conta-se já por mais de 500 os alunos que fizeram com ele a sua aprendizagem na Casa do Povo de Corroios, onde...

Os fotógrafos da Festa

André Santos Da Maia Nogueira Fernando Teixeira Inês Seixas Jaime Carita João Casanova Jorge Cabral Jorge Caria José Branco José Carlos Pratas José Coelho José Frade Paulo Oliveira Rogério Pedro Rui Henriques...

Responder aos desafios

O slide e a parede de escalada foram uma experiência que centenas de pessoas, de todas as idades, não quiseram falhar. O repto era forte. Percorrer suspenso, no ar, os cerca de 160 metros daquele que é um dos maiores cabos de slide do País ou testar a agilidade e destreza numa subida que...

Beleza e competição

«De quatro em quatro anos é sistemático: aparecem mais crianças nas colectividades para fazer ginástica». Quem o diz é Cláudia Reis, técnica e profunda conhecedora da realidade associativa no concelho do Seixal. «O Verão...

E é sempre a primeira vez

Chegam como quem vai a passeio, devagar, empurrando carrinhos de bebés, de mochila às costas, uns levando pela mão a quentura de outra mão, outros um casaco a prevenir a humidade da noite. Chegam de olhos despertos para a descoberta e o reencontro, a voz solta...

Arte para resistir

O espaço do Avanteatro abriu-se aos visitantes com um novo aspecto, várias melhorias na sua construção, como os corredores laterais em placas de betão, contribuindo para reduzir o ruído à sua passagem, e uma programação diversificada de grande qualidade,...

«Mudar a tempo <br>para garantir alimento!»

Com base em algumas ideias de Karl Marx, a exposição no Espaço Ciência, visitada por milhares de pessoas e que de ano para ano ganha destaque na Festa do Avante!, foi subordinada ao lema «Mudar a tempo para garantir alimento!», que contribuiu para a...

Revolução <br>da multiculturalidade

Durante três dias, o Auditório 1.º de Maio transformou-se num enorme palco de músicas do mundo, com as sonoridades do planeta, do jazz ao rap, passando pelo fado ao folk, a promover a harmonia e o entendimento entre culturas. Uma celebração da riqueza da multiculturalidade, que,...