Dependência não é inevitável

Aumentar a produção de alimentos

O combate à dependência alimentar deve ser entendido como um «objectivo estratégico nacional», defendeu o PCP numa conferência de imprensa realizada na segunda-feira.

Portugal só produz 20 por cento dos cereais de que precisa

Como especificou João Frazão, da Comissão Política, este combate passa por um «grande aumento da produção nacional de bens agro-alimentares e pelo controlo adequado das importações, nomeadamente de cereais, componentes para rações e produtos pecuários». Mas passa também, acrescentou, pela baixa do preço dos factores de produção e pelo aumento dos preços na produção sem que isso agrave os preços ao consumidor, pois afectaria sim as margens de lucro dos intermediários. Para o membro da Comissão Política, tais medidas, «sendo inadiáveis, são incompatíveis com o garrote imposto a todas as actividades produtivas pelo pacto de agressão das troikas nacional e estrangeira, que é necessário derrotar».

Para sustentar tal desígnio, defende o PCP, há que promover uma reestruturação agrária que «assegure o cabal e racional aproveitamento económico e social da terra, e o acesso à terra – sobretudo a beneficiada por vultuosos investimentos do Estado, caso de Alqueva e outros regadios – a trabalhadores e pequenos agricultores, sobretudo jovens, que dela carecem para trabalhar e viver com dignidade e que a aproveitarão integralmente para produzir alimentos». A Comissão Política reclama ainda que o Governo assuma, no debate da reforma da Política Agrícola Comum, uma «atitude intransigente na defesa da (re)ligação das ajudas públicas ao rendimento» e no combate à especulação com os preços dos cereais e outros bens agro-alimentares.

Também a manutenção das quotras nacionais de leite não deve ser aceite como uma batalha perdida, acrescentou João Frazão, referindo-se ainda à necessidade de interromper de imediato o aumento anual da quota em um por cento. A não ser assim, alertou, o mercado português será encharcado com a produção de países que «já hoje têm excedentes», podendo-se pôr em risco, «definitiva e irreversivelmente, a produção leiteira em Portugal». O PCP exige ainda a prestação célere de apoios aos agricultores afectados pelas intempéries ou outras dificuldades imprevistas.

A culpa não é da seca

Não desprezando o papel da seca prolongada na quebra verificada na produção de cereais, João Frazão lembrou que esta quebra vem já de trás: em 2008, por exemplo, Portugal importou 62 por cento do milho, 87 por cento do trigo rijo e 96 por cento do trigo mole que consumiu. Sem seca.

A produção nacional em cereais, precisou o dirigente do Partido, assegura apenas perto de 20 por cento das necessidades actuais do País, mesmo tendo em conta a redução do efectivo pecuário e a contracção do mercado interno. Este défice na produção cerealífera (e pecuária) reflecte-se de forma brutal no défice da balança comercial em bens agro-alimentares, que se aproxima dos quatro mil milhões de euros por ano.

Após realçar que esta situação tem «causas e responsáveis», João Frazão enumerou algumas: as revisões da PAC em que se permitiu aos latifundiários e a grandes empresas receberem «rios de dinheiro» sem estarem obrigados a produzir ou a criminosa política de ocupação de terras agrícolas para produção de matérias-primas (ou mesmo o uso do milho para o fabrico de biocombustíveis). O Governo prepara-se ainda para abrir os regadios ao plantio de eucalipto em vez de fomentar o cultivo de cereais, em mais uma medida de favorecimento das multinacionais da celulose.

Como lembrou João Frazão, os cereais sofreram um aumento de 17 por cento de Junho para Julho, e novos aumentos são esperados. Enquanto isso, a especulação com os preços dos cereais, expressa no Mercado de Futuros da Bolsa de Chicago, regista «lucros escandalosos e desumanos». A fome é a outra face da moeda. 



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