Governo corta na educação
O programa da troika assinado pelo PS, PSD e CDS impôs, no passado ano lectivo, uma redução de mil milhões de euros no Ensino Superior. Para este ano o Governo prevê cortar mais cinco por cento das verbas.
Agravamento das condições materiais e humanas
Só em dois anos, segundo contas do Secretariado da Direcção Central do Ensino Superior da JCP, o Executivo PSD/CDS vai reduzir 25 por cento da verba do Orçamento do Estado para este grau de ensino, sendo que a percentagem média de cortes por universidade ronda os 2,1 por cento. Na Universidade de Lisboa (UL) e na Universidade Técnica de Lisboa (UTL) os valores podem chegar aos 5,7 por cento. Face a estes constrangimentos, a Universidade de Évora informou que será impossível construir um orçamento credível para 2013, face à situação gravosa com que se depara.
«Tudo isto agravará as já insuficientes condições materiais e humanas das escolas e a degradação da qualidade do ensino», condena, em nota de imprensa, a JCP, informando que a fusão da UL com a UTL é «inseparável de um aprofundamento da lógica de organização do Ensino Superior Público, visando a sua mercantilização, tendo como base a atracção de investimento empresarial para fazer face aos cortes no financiamento público dos sucessivos governos. Este tipo de «estratégias» tem ainda como objectivo, referem os jovens comunistas, «a “racionalização” de custos com o pessoal». Esta fusão, por exemplo, «irá criar apenas um Serviço de Pessoal e um Serviço de Acção Social Escolar para todas as instituições envolvidas».
Ameaça de privatização
Sobre a passagem das instituições de Ensino Superior a fundações de direito privado, como acontece com a UL e a UTL, a JCP considera-a como «uma grande ameaça de privatização», oposta ao «objectivo de formação integral do indivíduo», da «elevação das condições de vida dos jovens» e da «qualificação e da formação de qualidade dos estudantes».
«O anunciado processo de revisão do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES), que tanto mal trouxe ao Ensino Superior, como os processos de fundação, o subfinanciamento e afastamento dos estudantes dos órgãos de decisão, colocam sobre o ensino o perigo ainda maior de uma lógica de investimento privado como principal via, comprometendo a verdadeira autonomia e permitindo a abertura das instituições à instabilidade e promiscuidade entre desenvolvimento económico e progresso social do País e os interesses desse poder», advertem os jovens comunistas, que, entre outras situações, apontam como «consequência muito negativa» o aumento da propina máxima da «licenciatura», de acordo com a inflação, para os 1037 euros. Nos mestrados o valor pode chegar até aos cinco mil euros.
«Neste rumo transparece um claro ataque à democracia do País, negando claramente o acesso ao Ensino Superior a muitos jovens. Só na UL, neste último ano, verificou-se um decréscimo das candidaturas de 4,5 por cento, contrariando aquela que deveria ser a tendência natural, o crescimento», lamenta a JCP, dando conta de recentes estudos que apontam um aumento exponencial de 140 por cento dos estudantes que, não tendo alternativa, pensam em estudar em outros países.
«Os Verdes» desafiam
ministro a dizer a verdade
Há dias, confrontado com a baixa do número de candidatos ao Ensino Superior – cerca de menos 1300 do que no ano anterior – o ministro da Educação e Ciência desvalorizou a questão e, na resposta dada, demonstrou as incongruências entre o seu discurso e as orientações e medidas que toma, tendo dito que «com uma formação melhor é mais fácil aos jovens aceder ao Ensino Superior, sendo um passaporte para uma maior remuneração» e que «queremos mais jovens no Ensino Superior».
Em nota de imprensa, o Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV) considerou as declarações do governante de «grande hipocrisia política», ou então demonstrativas «de uma incapacidade total de fazer uma avaliação crítica e consequente das medidas que toma», uma vez que, por exemplo, as alterações aos critérios de atribuição das bolsas de estudo, nos últimos dois anos, «levaram à redução brutal do número de alunos abrangidos pelas mesmas», assim como «dos atrasos verificados na atribuição e no pagamento destas, num momento onde o número de famílias portuguesas afectadas pela crise não pára de aumentar».
No documento, o PEV dá ainda conta do «desemprego que afecta dos jovens licenciados», do «número de licenciados abrangidos pelo regime do “Recibo Verde» e da profunda insegurança e injustiça que esta situação representa», dos «erros e falta de rigor na elaboração das perguntas e tratamento de conteúdo programático dos exames nacionais e as penalizações que daí advieram para os alunos» e das «medidas previstas para o próximo ano lectivo para o Ensino Básico e Secundário, nomeadamente a criação dos mega-agrupamentos e o aumento de alunos por turma e as consequências que terão sobre o aproveitamento escolar e para o sucesso da aprendizagem dos alunos».