Notícias do bloqueio

Correia da Fonseca

Esta feia tendência para pilhar títulos alheios colocando-os no alto destas duas colunas repete-se hoje com um título de Egito Gonçalves. Trata-se antes do mais, com bem se entenderá, de prestar minúsculas homenagens a autores que não estão decerto esquecidos, pois são de facto inesquecíveis, mas talvez de quem se venha falando pouco. No caso concreto de hoje, porém, acresce que o título do poema de Egito Gonçalves, como se sabe alargado depois a uma série de cadernos de verdadeira poesia de resistência, adequa-se actualmente, em larga medida e para nosso mal, à situação da relação entre a comunicação social dominante e a realidade portuguesa. Em verdade, e apesar da situação formal de liberdade de expressão, as notícias mais significativas e esclarecedoras acerca das condições em que vive hoje a enorme maioria dos portugueses ficam como que retidas, ou no mínimo diluídas ou subalternizadas, por critérios que se afirmam jornalísticos quando eventualmente são postos em causa mas, na verdade, tresandam a outras motivações. Trata-se, assim, de um verdadeiro bloqueio informativo, menos brutal que o denunciado pelo poeta na década de 60 mas talvez não muito menos eficaz e, como aliás também nesses maus velhos tempos acontecia, maquilhado com informações inócuas, de impacto reduzido ou simplesmente falsificadas, a que são acrescentadas doses variadas de notícias anestesiantes produzidas a jusante de iniciativas destinadas a produzir esse mesmo efeito. Tudo muito bem premeditado e organizado, que isto da informação/manipulação é um mundo largo e bem recheado de cujos poder e consequências concretas por vezes nos esquecemos de mais, mesmo quando julgamos estar alerta. Os clorofórmios são assim, infiltram-se-nos no cérebro mesmo que não nos demos por isso, ou talvez sobretudo nesses momentos.


 Uma inevitável suspeita

 Vem esta lenga-lenga a propósito, ou não, de umas breves notícias que nos dias mais recentes temos vindo a encontrar nos ecrãs dos nossos televisores: segundo elas, «a confiança dos consumidores» portugueses tem vindo a crescer! A gente ouve a informação, ou lê-a sob a forma de notícia prestada em rodapé, e, naturalmente, surpreende-se. Sabemos, é claro, que há milagres, tão certa e verdadeiramente como a antiquíssima certeza de haver bruxas, e para o sabermos até podemos recuar no tempo para bem antes de 1917 e estacionar com D. Afonso Henriques nos campos de Ourique. Ainda assim, porém, não esperaríamos este milagre cheio de significado que é o de estar em crescimento a confiança dos portugueses, designados por «consumidores» numa altura em que estão sobretudo consumidos e num tempo em que de uma ponta a outra do País aumentam o desemprego e a angústia, o número dos que todas as noites se deitam com o desespero, os que nos próximos dias irão ficar sem casa, os doentes privados dos medicamentos necessários, os que apostam na emigração sem que saibam o que os espera nos lugares para onde partem. Na verdade, até há indícios de que mesmo entre os ilustres membros do Governo está abalada a confiança a que estão obviamente obrigados pelo menos por dever de ofício. E, contudo, vem a televisão e zás!, pespega-nos com esta surpresa. Inevitavelmente, ficamos a perguntar que misteriosas fontes deram origem à inesperada informação, se sondagens, se inquéritos de rua, se consulta de cartomantes. Porém, mais inevitavelmente ainda, assalta-nos a suspeita de que a feliz notícia seja afinal mais uma contribuição para o bloqueio lançado pela comunicação social sobre a realidade. Bloqueio não brutal, cauteloso, bastante hábil para que regularmente deixe passar a pequena parcela de verdade que torna plausível a impostura, mas bloqueio. Graças a ele, pode o Governo vir elogiar as supostas «compreensão» e «paciência» dos portugueses perante a condenação ao conjunto de horrores que lhe é imposto. Graças a ele, andarão talvez alguns esperançados no êxito da tarefa de enganar pelo menos uma parte dos portugueses que, dizem agora, estão «mais confiantes». Fica a gente a perguntar em quê e em quem. Fica a gente a pressentir que, perante notícias destas, não o estarão decerto na comunicação social.



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Economia ibérica depende da Igreja

«Duas orientações são próprias do capitalismo baseado na exploração dos assalariados e de largas massas de trabalhadores: a que acentua o desenvolvimento das forças produtivas e a que tende a refreá-las. Esta última tendência é função da contradição fundamental do capitalismo…» (Tchernikov, M. Rindina e outros, “A economia política do capitalismo”). 

«As lutas entre os bancos conduzem à ruína dos bancos pequenos que são absorvidos pelos bancos mais importantes. No entanto, muitos desses pequenos bancos conservam uma independência simplesmente formal e transformam-se, realmente, em filiais dos grandes bancos» (I. Lusovski, Síntese de História e de Economia). 

«Para salvar o IOR (Banco do Vaticano) das chamas do inferno e cuidar de um património líquido avaliado em 5 biliões de euros, o papa Bento XVI confiou a sua presidência a Ettore Tedeschi, financeiro católico e docente universitário. Esta alteração verificou-se após a demissão do seu antecessor, em 2011. Este foi acusado de encobrir clérigos pedófilos, situação que se agravou com o sequestro pela Magistratura italiana de 25 milhões de euros, por suspeitas de lavagens de dinheiro em bancos italianos e por participação em operações proibidas pela União Europeia» (Mozila Firefox, citando fontes do Banco Santander e do Deutsch Bank,

instituições já dirigidas anteriormente por Ettore Tedeschi ).