Economia ibérica depende da Igreja

Jorge Messias

«Duas orientações são próprias do capitalismo baseado na exploração dos assalariados e de largas massas de trabalhadores: a que acentua o desenvolvimento das forças produtivas e a que tende a refreá-las. Esta última tendência é função da contradição fundamental do capitalismo…» (Tchernikov, M. Rindina e outros, “A economia política do capitalismo”). 

«As lutas entre os bancos conduzem à ruína dos bancos pequenos que são absorvidos pelos bancos mais importantes. No entanto, muitos desses pequenos bancos conservam uma independência simplesmente formal e transformam-se, realmente, em filiais dos grandes bancos» (I. Lusovski, Síntese de História e de Economia). 

«Para salvar o IOR (Banco do Vaticano) das chamas do inferno e cuidar de um património líquido avaliado em 5 biliões de euros, o papa Bento XVI confiou a sua presidência a Ettore Tedeschi, financeiro católico e docente universitário. Esta alteração verificou-se após a demissão do seu antecessor, em 2011. Este foi acusado de encobrir clérigos pedófilos, situação que se agravou com o sequestro pela Magistratura italiana de 25 milhões de euros, por suspeitas de lavagens de dinheiro em bancos italianos e por participação em operações proibidas pela União Europeia» (Mozila Firefox, citando fontes do Banco Santander e do Deutsch Bank,

instituições já dirigidas anteriormente por Ettore Tedeschi ).

Nas importações e exportações, Espanha é o primeiro fornecedor e cliente de Portugal. Por outro lado, nos termos assinalados pelo «pacto de agressão» com o FMI, Portugal já recebeu mais que 70% das verbas destinadas à recapitalização dos bancos. Só no caso espanhol, a grande operação de consolidação do sistema bancário capitalista exigirá, de imediato, uma injecção de mais de 100 mil milhões de euros. É unânime, entre os observadores, a opinião de que é materialmente impossível reunir tão gigantesca massa financeira até finais de 2012. A bancarrota espanhola será a ruína da economia portuguesa.

Estas curtas considerações podem servir para introduzir o tema da natureza eclesiástica do mercado bancário em ambos os países ibéricos. O imperialismo colonial alcançou-se na ponta das baionetas benzidas em nome de Cristo. O ensino, a saúde, a assistência à infância e à família, tudo o Estado absolutista entregou nas mãos da Igreja, sua fiel aliada. Aliás, fácil é constatar que o Poder era repartido, nos mais vastos impérios coloniais, entre a Coroa e a Cruz.

Na vastidão das colónias portuguesas e espanholas «nunca se punha o Sol»! Os seus territórios tinham sido encontrados pelos marinheiros das naus e conquistados por ferozes hostes de soldados. Os missionários formavam uma segunda linha, tão ou mais importante como a linha da frente, e ensinavam aos povos nativos a obediência e o perdão ao invasor, a noção católica de moral e a língua do ocupante.

Nos inícios do século XX, quando o imperialismo colonial começou a desmoronar-se, a Igreja compreendeu rapidamente as dimensões da mudança histórica que estava a acontecer. As cidades transformaram-se em imensos pólos de atracção e construíam-se em torno de catedrais. Dos territórios outrora cultivados os colonialistas conservaram o domínio das armas e dos grandes rios, das reservas da caça e das pescas, das minas de diamantes e de metais preciosos, etc. Bem geridas, as novas independências poderiam gerar enormes lucros para o Ocidente. Impunha-se, entretanto, garantir o financiamento da nova economia e proteger a concentração de enormes capitais. Assim surgiram os bancos e foram lançadas as bases dos impérios monopolistas.

A estes aspectos expansionistas do capital juntava-se uma frente interna. O proletariado europeu movimentava-se e criava sucessivas situações revolucionárias.

Então, os bancos estatais ou privados ocuparam o seu espaço social através da criação de redes de solidariedade, antecessoras das actuais ONG e IPSS, inscritas na linha de Caridade de há muito desenvolvida pelas Misericórdias. Depois, os bancos compraram-nas e integraram-nas nas políticas do Estado capitalista e da Igreja.

Recordar estes factos pode ajudar-nos a entender a génese dos actos tresloucados que tudo leva a crer se preparam nos sombrios gabinetes do Capital, do Vaticano, das troikas do FMI ou nas alfurjas da NATO, das sociedades secretas, dos assassinos económicos ou dos «chacais»...

(continua)



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