Golpe mais claro
José Rodriguez, dirigente da Liga Nacional de Camponeses, denunciou que nos confrontos entre camponeses sem-terra e polícia ocorridos em Curutuguaty, no passado dia 15 de Junho – incidente que serviu de pretexto para desencadear o processo de destituição do presidente paraguaio, Fernando Lugo, e a sua substituição por Federico Franco - havia franco-atiradores infiltrados. «Os infiltrados estavam ali e nem a polícia nem os camponeses sabiam da sua presença, disse à Rádio Nacional do Paraguai.
Entretanto, ao Paraguai deslocou-se uma delegação de deputados do Parlamento Europeu. Os eleitos receberam representantes de funcionários públicos que denunciaram perseguições movidas pelo executivo golpista, o qual, acusaram ainda, tem vindo a despedir empregados estatais suspeitos de denunciarem o golpe de estado e manifestarem-se contra a ruptura constitucional.
Na reunião, os trabalhadores do sector público revelaram que pelo menos um milhar de funcionários foram já despedidos e substituídos por gente afecta ao Partido Colorado.
Já esta segunda-feira, centenas de despedidos marcharam pela capital Assunção, confirmando a sanha persecutória desencadeada pelo governo golpista.
Para além dos funcionámos públicos, pelo menos uma dezena de generais afastados compulsivamente e vários jornalistas também acusam o novo executivo de perseguir os defensores da ordem constitucional, ao que acresce a denúncia da imposição da censura na televisão e rádio públicas.
Contestação cresce
O presidente golpista tem sido alvo de contestação popular, de que serve de exemplo a vaia com que o povo de Caaguazú brindou Federico Franco durante uma visita oficial à província. A contribuir para a revolta está a proposta apresentada pelo novo governo, que pretende vender aos actuais ocupantes as terras ilegalmente sequestradas ao Estado.
O Instituto para o Desenvolvimento Rural e da Terra do Paraguai confirmou que os latifundiários apossaram-se ilegalmente das terras durante as décadas de domínio do Partido Colorado, sobretudo durante a ditadura liderada por Alfredo Stroessner (1954-1989). O que Franco agora quer fazer é legitimar tal prática, limpar o rasto fétido de anos de roubo de solos públicos e perpetuar o regime de grande propriedade fundiária no país, a qual começou a ser contestada durante a presidência de Fernando Lugo.
Para o Partido Comunista Paraguaio, a contestação a Franco tem vindo a crescer. Os comunistas notam que o povo do Paraguai dá mostras de querer mobilizar-se e organizar-se, e apelou a que se juntem à recentemente criada Frente Nacional de Defesa da Democracia.