Greves e protestos nos transportes
Nos últimos dias fizeram-se sentir os efeitos das greves parciais na Transtejo e Soflusa, na CP e CP Carga. Outras lutas estão em marcha no sector.
A unidade e firmeza é a resposta à repressão
Um traço comum dos protestos e reivindicações é a defesa dos direitos consagrados nos acordos de empresa e dos compromissos livremente assumidos pelas administrações, na negociação com os representantes dos trabalhadores. Os interesses dos utentes também são defendidos com estas lutas, que se opõem aos planos de redução de custos salariais, aumento de preços e entrega do serviço público ao negócio dos privados.
As greves na Soflusa e Transtejo, nos dias 14 e 18, por períodos de duas ou três horas, de manhã e de tarde, tiveram adesão praticamente total e a travessia fluvial do Tejo foi interrompida. A Fectrans/CGTP-IN, que foi publicando informação sobre o decurso da luta, lembrou que esta tem por objectivos exigir a negociação da revisão do Acordo de Empresa e da matéria salarial, protestar contra o roubo nos salários imposto pelo Governo e defender os postos de trabalho e o serviço público.
Na CP e CP Carga, a greve ao trabalho extraordinário, ao trabalho em dia de descanso e ao trabalho em dia feriado – que foi retomada no final de Maio, em defesa do acordo firmado a 9 de Junho do ano passado e que teve o aval da Secretaria de Estado do Tesouro, por ter ficado demonstrado, através de um estudo da própria administração da CP, que as regras do AE, sobre retribuição do trabalho naqueles regimes, têm menos custos para as empresas do que as do Orçamento de Estado que o Governo mandou impor – «está a ter uma enorme adesão de quem trabalha nestas empresas, que levou a que nos dias feriados (dias em que todo o trabalho é considerado extraordinário) se registasse uma paralisação da circulação ferroviária», referiu a Fectrans, num balanço que divulgou dia 14.
Também na EMEF e na STCP está entregue um pré-aviso de greve ao trabalho em dias feriados.
A administração da Rodoviária de Lisboa recusou-se a negociar o aumento dos salários dos trabalhadores, motivo por que foi marcada nova greve, de 24 horas, para 2 de Julho. A Fectrans nota que a empresa, do Grupo Barraqueiro, até apresenta lucros.
Na Jaulino, em Meirinhas de Cima (Pombal), os trabalhadores estão desde dia 4 em vigília frente à sede da empresa, pelo pagamento de subsídios de férias e de Natal, em dívida, contra atrasos premeditados no pagamento de salários, a par da sua redução, e em defesa dos postos de trabalho.
A redução salarial e o atraso no pagamento motivaram a realização de dois dias de greve no início deste mês. No final de Maio, a empresa começou a suspender a sua relação com os clientes do transporte em território nacional, com o objectivo de, no final da greve, dizer aos trabalhadores que não tinha trabalho. Aos trabalhadores que aderiram à greve, o patrão decidiu não pagar o salário. Posteriormente, comunicou aos trabalhadores, de um dia para o outro, que entrariam em férias. Os trabalhadores não aceitaram esta intenção ilegal da empresa e decidiram permanecer frente às instalações da empresa.
O PCP, através da direcção regional de Coimbra, tem acompanhado esta luta e manifestou solidariedade aos trabalhadores, lembrando que os sucessivos governos do PSD, CDS e PS têm produzido legislação que alimenta um clima de impunidade do patronato.
Unidade na Carris
Numa reunião de organizações representativas dos trabalhadores da Carris, marcada para hoje, a Fectrans vai propor mais um passo para «erguer a luta contra a continuação dos roubos e em defesa do AE». A federação, declarando abertura a ouvir e discutir outras propostas, defende o estabelecimento de uma plataforma reivindicativa, assente em quatro exigências: o fim do roubo dos subsídios, a aplicação integral do Acordo de Empresa, o fim do roubo nos salários, um aumento salarial mínimo de um euro por dia (30 euros por mês, com efeitos a Janeiro).
A informação foi avançada anteontem. Num comunicado, a federação alertou que «o aumento da repressão sindical, com a instauração de processos disciplinares a dirigentes e delegados sindicais dos sindicatos da CGTP-IN e do STRUP, em concreto, indicia que o nível da ofensiva contra os trabalhadores vai aumentar, quer através de novos roubos aos nossos rendimentos, quer pela tentativa de destruição do AE».
Neste contexto, a Fectrans valoriza a tribuna pública, realizada dia 14, frente à estação de Santo Amaro, em Alcântara, onde se fizeram representar mais de dezena e meia de organizações. A solidariedade com os dois trabalhadores despedidos e outro com processo disciplinar instaurado, visando o despedimento, foi expressa também num abaixo-assinado, subscrito por mais de 380 funcionários da Carris.
A federação defende que «há que romper com alguns conformismos instalados», para recusar «sermos roubados nos subsídios de férias e de Natal» e que «é altura de reerguer a luta».
Na tribuna pública de dia 14 interveio o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, também trabalhador da Carris. Bruno Dias, deputado do PCP, esteve presente e nesse dia, em comissão parlamentar, confrontou o ministro da Economia e do Emprego com a repressão ali denunciada.