Alastra a praga dos salários em atraso

Se fossem bancos...

A proliferação de casos de empresas que não pagam os salários a tempo e horas é resultado de uma política e de um pacto que atacam os trabalhadores para beneficiarem o capital, acusa o PCP, exigindo medidas urgentes do Governo.

A política do Governo e o pacto da troika agravam o problema

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No dia 11, sexta-feira, entraram em greve os trabalhadores da Marmoz, em Vila Viçosa, com três meses de salários por receber. «A vida dos trabalhadores está cada vez mais difícil e mais injusta, e isso não acontece por acaso, é o resultado da política do Governo e do pacto de agressão da troika», acusou João Oliveira, deputado do PCP, na pergunta que nesse mesmo dia dirigiu ao Ministério da Economia e do Emprego sobre a situação naquela empresa.

«Sempre que um banco ou um grupo económico faz uma exigência, o Governo disponibiliza-lhe toda a atenção e preocupação, sem olhar a meios para a satisfazer», mas «sempre que os trabalhadores vêem os seus direitos violados ou reclamam medidas que resolvam os seus problemas, da parte do Governo encontram um sem-fim de justificações para que nada se faça», comentou o eleito comunista pelo distrito de Évora.

João Oliveira defendeu medidas urgentes, salientando que «não é admissível que quem trabalha se veja privado do salário, a que tem direito e do qual depende a sua sobrevivência e a subsistência da sua família», tal como «não é igualmente admissível que haja trabalhadores com três meses de salários em atraso, sem que o Governo tome qualquer medida», seja por via da Autoridade para as Condições do Trabalho, seja por intervenção directa do Governo ou das estruturas regionais que tutela.

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Os trabalhadores da Mirandela Artes Gráficas, em Loures, mantinham-se em greve à hora do fecho desta edição. A luta foi iniciada no dia 8 e à porta da empresa têm permanecido piquetes durante todo o dia. Orlando Martins, dirigente do SITE CSRA (o sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN que abarca este sector), revelou ao Avante! que cerca de 80 trabalhadores já tomaram a iniciativa de suspender os contratos e assinalou algumas expressões de solidariedade para com esta luta, como a do presidente da Junta de Freguesia de Santo Antão do Tojal, para onde a Mirandela se mudou há cerca de cinco anos.

É desde essa altura que, como os trabalhadores e o sindicato referiram – e como o deputado e líder parlamentar do PCP referiu na pergunta que, no dia 11, dirigiu ao Ministério da Economia e Emprego –, têm ocorrido atrasos sistemáticos no pagamento de salários. A Lusa esclareceu junto da AICEP que um processo de candidatura a incentivos financeiros e fiscais, no valor de 49 milhões de euros e que até foi aprovado em Dezembro de 2006, acabou por não se concretizar e a empresa desistiu em Junho de 2008.

Bernardino Soares assinalou que a empresa tem 102 trabalhadores, quando há poucos meses tinha 160, e deve os subsídios de Natal e de férias desde 2008, mantendo um atraso de dois meses e meio, em média, no pagamento dos salários. Apontou ainda «graves irregularidades nos recibos de vencimento» e na emissão de uma «declaração de dívida», enquanto nas declarações anuais para o IRS foram inscritos os valores não pagos.

Entre outras situações irregulares, o deputado eleito pelo distrito de Lisboa referiu ainda que as quotizações sindicais têm sido descontadas nos salários, mas não são entregues à organização dos trabalhadores. A facturação é feita em nome de outra empresa (Imprejornal) e por vezes os pagamentos aos trabalhadores são feitos através da conta pessoal do administrador.

«Todas as informações apontam para a viabilidade desta empresa, dado que garante, entre outras, a impressão do jornal O Jogo, de vários jornais regionais e a produção e acabamentos de várias edições da editora Leya», destaca Bernardino Soares, que interrogou o Governo sobre o conhecimento que tem desta situação, da regularidade do pagamento de contribuições e impostos ao Estado e de eventuais situações de burla, bem como sobre medidas para que seja paga a dívida aos trabalhadores e seja impedida a eventual descapitalização da Mirandela.


Hospital Particular promete pagar

 

Em plenário, no dia 11, os trabalhadores do Hospital Particular de Lisboa decidiram aceitar o pagamento dos salários de Abril em duas prestações, a primeira das quais deverá ser processada com os salários de Maio. Para o último dia do mês vai ser apresentado pré-aviso de greve, precavendo com a luta qualquer eventual incumprimento patronal.

A administração, relataram ao Avante! duas trabalhadoras e dirigentes do Sindicato da Hotelaria do Sul, tinha proposto o pagamento em oito vezes, quer do mês em falta, quer dos próximos subsídios de férias. Mesmo as indemnizações para quem tem vindo a aceitar a rescisão do contrato estão a ser pagas em parcelas.

O mês de Março só foi pago a 2 de Maio, horas antes de um protesto público que o sindicato da CGTP-IN tinha anunciado para essa tarde junto do hospital. As trabalhadoras referiram ainda que a instabilidade é agravada com constantes ameaças, mais ou menos expressas, de encerramento desta unidade, que em Dezembro de 2007 foi comprada pelo Grupo Trofa Saúde. Este anunciou entretanto uma alteração de estratégia e da estrutura accionista, ficando o HPL entregue a um dos irmãos Vila Nova, que deixou de ter lugar na administração do grupo.

As trabalhadoras e o sindicato encaram com dúvidas e receios estas alterações, dizem que têm ouvido falar em novos negócios em Angola, afirmam que a situação do HPL é incompreensível, porque há trabalho e até são pedidas horas extra aos funcionários. Aguardam com visível inquietação os resultados de uma assembleia geral de accionistas, marcada para 11 de Junho.



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