Abril é património do futuro
Num vibrante comício nas Caldas da Rainha, no dia 27, Jerónimo de Sousa manifestou-se confiante de que «o melhor do caminho histórico de Abril ainda está para vir e que mais tarde ou mais cedo se retomará o que ficou entretanto inacabado».
Há propostas e soluções para os problemas do País
As primeiras palavras do Secretário-geral do PCP foram, nessa noite, para os que «com a sua luta, a sua dedicação à causa do povo, o seu sacrifício – muitos com a própria vida – tornaram possível e fizeram surgir a Revolução mais popular e a que mais profundas transformações produziu em todos os domínios da sociedade portuguesa e na vida do nosso povo». Saudando os militares de Abril, Jerónimo de Sousa estendeu a saudação a «todos aqueles que ao longo destes anos defendem palmo a palmo as suas conquistas e mantêm vivos os horizontes de democracia, justiça, progresso e liberdade que Abril abriu».
Depois de reafirmar a sua confiança no retomar dos caminhos de Abril, Jerónimo de Sousa garantiu que essa confiança «não ignora que sobre o nosso País pesam a influência negativa de décadas de política de direita e abdicação nacional» nem tão pouco as consequências da aplicação do pacto de agressão e do seu «programa de ingerência, empobrecimento, declínio e amputação da soberania que PS, PSD e CDS subscreveram com a União Europeia e o FMI». Como diria mais adiante na sua intervenção, «sabemos que nada é fácil, mas nós temos confiança de que unidos e determinados, e com a luta do nosso povo, seremos capazes de abrir os caminhos da esperança para Portugal e construir um caminho mais justo e de progresso para os portugueses».
Para o PCP, uma coisa é certa: «há propostas e há soluções para os problemas que o País enfrenta!» Uma delas é a renegociação da dívida pública nos seus prazos, juros e montantes, «indispensável para libertar e canalizar recursos do lado do serviço da dívida para a promoção do investimento produtivo, a criação de emprego e outras necessidades do País». Trata-se, reafirmou uma vez mais o dirigente comunista, de uma acção inseparável da avaliação da componente ilegítima desta dívida e que deverá garantir um serviço da dívida «compatível com um crescimento económico de pelo menos 3 por cento».
A tributação efectiva dos lucros do grande capital, do património de luxo, da especulação financeira, a par do fim do «ruinoso processo de privatizações e a adopção de medidas com vista a assegurar o controlo público de empresas e sectores estratégicos» e da intervenção junto de outros países que enfrentam problemas similares de dívida pública «visando uma acção convergente face às imposições da União Europeia» são algumas das propostas fundamentais dos comunistas, enunciadas pelo Secretário-geral.
Um ano de pacto de agressão
Lembrando que se cumpre a 17 de Maio um ano sobre a formalização do pacto de agressão, Jerónimo de Sousa reafirmou o seu carácter ilegítimo e recordou a sua imposição pelos banqueiros e pelos grandes interesses económicos e financeiros nacionais com a «conivente submissão daqueles que há anos governam o País e, em alternância, o conduziram à difícil situação em que se encontra».
Este pacto, acrescentou o Secretário-geral do PCP, foi imposto «com muita chantagem e mistificação à mistura» e apresentado como se fosse uma «ajuda». Nada mais falso: é um «programa de extorsão do património e dos recursos do País e de exploração do nosso povo».
O PCP opôs-se à concretização desse pacto de agressão alertando para as suas consequências ainda antes de ele ser formalizado, realçou Jerónimo de Sousa, garantindo que a «vida está a dar-nos razão na nossa análise e nos nossos alertas».
Antes, Vítor Fernandes, da Direcção da Organização Regional de Leiria do PCP, tinha já denunciado as consequências do pacto de agressão – e da política de direita seguida ao longo de 37 anos de que é expressão – no distrito de Leiria: o aparelho produtivo tem sido liquidado, tendo levado ao encerramento e definhamento de muitas empresas nos sectores da cerâmica, metalúrgica, mobiliário, cristalaria, panificação, indústria alimentar ou têxtil. Esta situação levou ao aumento do desemprego, que atinge já mais de 40 mil trabalhadores. Para além do desemprego, denunciou Vítor Fernandes, os trabalhadores do distrito confrontam-se ainda com a «fraca qualidade do emprego, os baixos salários, os bancos de horas e o aumento brutal do horário».