É um suponhamos

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, disse esta segunda-feira, 30, que a reposição do subsídio de Natal e de férias, bem como a reposição do corte efetuado em 2011 nos salários dos funcionários públicos, dos pensionistas e dos trabalhadores do sector empresarial do Estado, começará a ser feita «gradualmente a partir de 2015» e a um ritmo condicionado pela existência de espaço orçamental». O ritmo, esclareceu, «será de 25 % por ano».

Os optimistas devem ter rejubilado com a informação e já devem estar a fazer planos para 2018, altura em que à luz das ministeriais palavras estará – aparentemente – consumado o degelo, se não dos salários congelados, pelo menos da parte que lhes foi amputada.

Mas os portugueses, mesmo os mais optimistas, já deviam saber que Gaspar tem um discurso tão claro como o daquelas leis que começam por afirmar no preâmbulo o que se anseia por ver consagrado mas que depois, artigo a artigo, acabam por ditar o contrário do que se diz defender.

No caso vertente, o prazo de seis anos para pôr termo ao esbulho a que estão sujeitos trabalhadores e pensionistas é não só uma forma caricata de regresso à legalidade feito às pinguinhas, como ainda por cima não passa – o ministro o disse – de uma «hipótese de trabalho: não é um compromisso político nem uma decisão de política». Dito de outra forma, é um suponhamos.


A render

Entretanto, e porque os números são como as cerejas, puxa-se por uma e vêm aos montes, ficou-se a saber esta semana, por portaria publicada no Diário da República, que o Governo deu autorização para que o dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFFS), criado para garantir o pagamento de pensões, seja investido na Banca privada, independentemente do risco das aplicações escolhidas, o que até à data era proibido.

Quer isto dizer que os bancos vão meter literalmente a mão na massa da Segurança Social e que se alguma coisa correr mal... quem se lixa é o mexilhão. Ou seja, os pensionistas.

 

A parvolândia

O buraco do BPN parece não ter fundo. À tona veio agora que, antes da «venda» do BPN ao BIC, banco luso-angolano presidido por Mira Amaral, foram canalizados para a sociedade Parvalorem, do Estado, activos tóxicos do banco estimados em cerca de 80 milhões de euros. O referido crédito, tido como de difícil recuperação, foi concedido ao grupo imobiliário Pousa Flores, de que eram accionistas o ex-ministro da Saúde do PSD, Arlindo de Carvalho, e José Neto, antigo secretário de Estado no 4.º Governo Provisório, bem como ao ex-dirigente parlamentar do PSD, Duarte Lima.

A não ser recuperado o chamado «crédito mau», será o Estado – isto é, todos nós, cidadãos da parvolândia – a arcar com o prejuízo.

E por falar em prejuízos, o Metro Sul do Tejo, inaugurado há cinco anos, continua com um número de passageiros muito abaixo do esperado: trinta mil, em vez dos oitenta mil previstos no contrato de concessão. Um contrato que estipula que o Governo pagará uma indemnização compensatória da diferença entre o fluxo de passageiros registado e o estimado no contrato. Palavras para quê?



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