O ódio de(a) classe do Belmiro

Manuel Gouveia

O tra­ta­mento jor­na­lís­tico (?) da greve geral no Pú­blico es­corre ódio.

Da ma­ni­fes­tação em Lisboa, que es­conde re­cu­sando-se a pu­blicar qual­quer fo­to­grafia, co­meça com esta frase ri­dí­cula mas sig­ni­fi­ca­tiva «meia cen­tena de ma­ni­fes­tantes acan­to­nados (...) à es­pera de serem le­vados pelos di­ri­gentes sin­di­cais em marcha triunfal», pas­sando de­pois para as «poucas cen­tenas de pes­soas» ter­mi­nando já em «uma pe­quena mul­tidão frente à AR». O es­plendor do jor­na­lismo do ad­jec­tivo e do pre­con­ceito.

Sobre os nú­meros da greve, até faz caixa com a de­núncia de que o Go­verno deu or­dens para que não se for­ne­cessem nú­meros. E de­pois, cumpre-as, apoi­ando-se na men­tira que a CGTP-IN também não for­neceu, o que até pa­rece ver­dade no Pú­blico porque não os pu­blica! Mas no afã de me­no­rizar a greve, vai ao ar­quivo, pro­cura os co­mu­ni­cados que há quatro meses não di­vulgou, com­para-os com os co­mu­ni­cados que agora não di­vulga, e en­contra três exem­plos de menor adesão. Ex­pondo que tem a in­for­mação, mas opta por não a di­vulgar, só por usá-la ao ser­viço da sua causa. Com a co­e­rência de quem, no mesmo texto, con­segue dizer uma coisa «nem os trans­portes pú­blicos a passar-lhe em frente aos olhos o de­movem» e o seu oposto «os pro­testos de quem teme não con­se­guir chegar ao em­prego por falta de trans­porte».

A vi­o­lência, que in­forma ter «mar­cado o pro­testo» tem di­reito a foto im­pac­tante. Mas apenas para de­turpar a re­a­li­dade: A vi­o­lência que marcou a greve geral não foi a que o Go­verno or­ga­nizou sobre um pro­testo mar­ginal à pró­pria greve, mas sim a vi­o­lência que se abateu sobre a greve, a re­pressão po­li­cial sobre os pi­quetes des­ti­nada a apoiar a vi­o­lência que o pa­tro­nato exerce sobre os tra­ba­lha­dores.

E no Edi­to­rial, se a 25 de No­vembro, se fa­lava «da der­rota», e «só pode ser visto como um fra­casso dos sin­di­catos», a 23 de Março, ori­ginal, fala-se «na der­rota», em «uma greve fa­lhada». Di­fe­rente, só que a 25 de No­vembro era o pró­prio Pú­blico que re­co­nhecia que «muitos tra­ba­lha­dores não a fi­zeram por medo», e esse mesmo ar­gu­mento passou agora à ca­te­goria de «jus­ti­fi­ca­ções de Ar­ménio Carlos».

Sem dú­vida, os mi­lhões que o Bel­miro aplica no Pú­blico são um bom in­ves­ti­mento! In­for­mação? É pre­ciso pro­curar noutro lado!



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