Intenções escondidas
Seguro, que neste fim de semana fez conhecer que tem, mas não revela, desassombradas discordâncias com aquilo que designa de «memorando de entendimento», acrescentou, para tranquilidade dos «mercados», do directório das potências europeias da troika, do Governo e do Presidente da República, que honrará os compromissos que o unem e o comprometem com o programa de agressão dirigido contra o povo e o País. Naquela arte de identificação com algo e o seu contrário em que se revela exímio, Seguro afiançou ao país discordar daquilo que, por sua honra, jura ajudar a realizar. Neste jogo de enganos com que PSD, CDS e PS procuram dissimular identidades e projectos comuns, o artifício usado por Seguro nem novidade constitui. Da memória dos portugueses, pelo menos dos mais atentos à vida e às atitudes de quem lha quer estragar, ainda vivem presentes as então proclamadas discordâncias que PSD e CDS juravam ter do acordo subscrito pelo governo do PS com FMI e União Europeia, que só o «interesse nacional» os impelia a juntar a sua assinatura. Como hoje se percebe da luminosa confissão de Passos Coelho quanto aos pontos de identificação que assume entre o programa da troika e o programa do PSD; e tal como ontem se percebia das indisfarçáveis semelhanças, por mais que o contrário quisessem fazer crer, entre os PEC, que Sócrates e Teixeira dos Santos vinham impondo, com o texto que rubricaram com a troika estrangeira – tudo se resume a um jogo de palavras destinado a alimentar a farsa com que pretendem iludir o País.
Uma coisa se percebeu, entretanto: é que dali, de Seguro e respectivo partido, o que há a esperar por detrás daquela milésima de «oposição» anunciada aquando da discussão do Orçamento do Estado é uma atitude ditada por resmas de colaboracionismo e activa cobertura a uma política que, destinada a servir o grande capital, arruína os trabalhadores, empobrece o povo e condena o País ao declínio e à submissão.