Comentário

Força e fraqueza

Maurício Miguel

Image 9494

Se há evidência que salta à vista com a actual situação na UE é a crescente monopolização do poder político pelo poder económico e a subordinação da agenda da UE em função dos interesses do grande capital – sobretudo o financeiro – e das grandes potências, que são o seu instrumento. As cimeiras da UE sucedem-se em resposta à chantagem do capital financeiro. A Alemanha, surgindo na fotografia com a França para não ficar isolada, comanda as operações, define o ritmo e o conteúdo das decisões. Mas as reuniões sucedem-se e revelam-se incapazes de superar a agudização de contradições entre as principais potências (particularmente entre a França e a Grã-Bretanha), e os interesses antagónicos dos sectores do capital que elas representam.
A desconfiança instalou-se entre os monopólios capitalistas, a falta de perspectiva de realizarem os lucros suplementares – os lucros de monopólio – que a sua dimensão exige, provoca o nervosismo e a escalada na linguagem. Procuram desesperadamente romper o bloqueio imposto pela sobreacumulação de capital por um lado e pela sobreacumulação de produção e de meios de produção por outro, para entrar numa nova cadência de lucros.
Aos trabalhadores e aos povos exigem mais e mais sacrifícios; exigem o impossível próprio de quem tem na mão instrumentos poderosíssimos – económicos, políticos, mediáticos – para procurar manipular e impor, enfraquecendo-os e procurando enfraquecer a mobilização para a luta organizada que o capital sempre teme.
O aprofundamento da crise do capitalismo veio acelerar a concentração e centralização do capital e do poder político que já estava em curso na UE, assim como o roubo de parcelas determinantes da soberania nacional, impondo a países como o nosso um rumo de desastre. Acelerou um processo que visa libertar as decisões políticas das contradições geradas na «livre concorrência» entre estados capitalistas, não para acabar com a concorrência mas para elevá-la a um patamar superior. E para que tal seja possível, o grande capital reivindica uma «união política» que quebre o poder reivindicativo e o horizonte da tomada de poder pelos trabalhadores e os povos nas instituições dos estados nacionais. E um «Tesouro Europeu», que há imagem e semelhança dos EUA, gerido pelos altos quadros da finança, possa funcionar como o garante dos tombos do grande capital financeiro.
Desta forma procuram agilizar a tomada de decisões para fazerem frente à acirrada concorrência internacional entre potências capitalistas, convergindo mais facilmente com os EUA na competição com os BRIC (Brasil, Rússia e China) e com outros países chamados emergentes.


Salto qualitativo


Trata-se de um salto qualitativo no processo de integração capitalista na UE, onde a países como Portugal é roubada a soberania e destruída a sua capacidade produtiva, tornando-os fornecedores de mão-de-obra barata para acentuar a concorrência entre trabalhadores dentro da UE, mantendo o desemprego elevado e baixando os custos com o trabalho. Este rumo não se faz sem sobressaltos e comporta perigos imensos que recairão, se não for alterada a correlação de forças, sobre os trabalhadores e os povos.
A UE enfrentará nos próximos tempos um forte abanão, com uma recessão económica que afectará quase todos os países e que provocará o aumento do desemprego, o sério risco da falência de grandes bancos e empresas, países com enormes montantes de dívida que vence durante este ano enfrentarão dificuldades imensas. Sobreviverá o euro a este tombo? Na arrogância do grande capital, traduzida nas decisões da UE, expressa-se a sua força e ao mesmo tempo a sua fraqueza.
Derrotar as medidas impostas pela troika estrangeira (UE, BCE e FMI), apoiadas e aplicadas pela troika nacional (PSD, CDS/PP e PS) é determinante para o futuro de todos nós e é o melhor contributo que podemos dar à luta de classes na UE e no mundo. A realidade torna claro que a UE do progresso, da paz e da solidariedade nunca existiu. Porque os amigos, diz-se, estão presentes quando são necessários e para o que for necessário. Mas estes só são «amigos» para deitar a mão à riqueza do nosso País e explorar o nosso povo. Com confiança e audácia, ao lado do nosso povo, faremos avançar a luta de classes em Portugal. A luta intensificar-se-á num crescendo e o nosso povo não deixará de dizer presente quando uma vez mais na nossa história se impuser o confronto pelo presente e pelo futuro de todos nós.



Mais artigos de: Europa

110 mil a uma só voz

Um mar de gente manifestou-se, sábado, em Bilbau, contra as medidas excepcionais aplicadas aos presos políticos bascos e em defesa dos seus direitos e repatriamento. A esquerda independentista qualificou o protesto como «histórico».

Precariedade sustenta «milagre» alemão

A Alemanha é apontada como um exemplo excepcional de crescimento económico e combate ao desemprego no actual contexto de crise mundial. Na verdade, a sustentar o «milagre» alemão está a velha receita capitalista de aumento da exploração sobre quem trabalha.

Hungria volta a negociar com FMI

Uma delegação magiar iniciou ontem, em Washington, um ciclo de reuniões com a direcção do Fundo Monetário Internacional. O objectivo é garantir um novo empréstimo da instituição ao país, entre 12 a 20 mil milhões de euros, cuja...