Iraque fica exangue e dependente
Um milhão de iraquianos terá morrido durante a ocupação
O derradeiro comboio militar norte-americano atravessou, domingo, a fronteira entre o Iraque e o Kuwait, emirado onde permanecerão milhares de tropas dos EUA. Impune fica a esmagadora maioria dos crimes cometidos durante a ocupação.
Invadido em 2003 na base de uma campanha de mentiras que colocava o país no conjunto de nações do «eixo do mal» e detentoras de «armas de destruição massiva», no Iraque terá morrido cerca de 1 milhão de civis e pelo menos outros 4 milhões foram obrigados a abandonar as respectivas casas, ora para outro lugar no território, ora para países vizinhos.
O número de estropiados de guerra e dos que perecerão em resultado do contacto com urânio empobrecido e químicos como o fósforo branco, ou fruto da contaminação da cadeia alimentar por aqueles e outros agentes tóxicos, é difícil de calcular.
A rede de serviços públicos que ainda não havia sucumbido a uma década de sanções impostas por Bush-pai, em 1991, foi arrasada pelo conflito levado a cabo por George W. Bush, o filho. O conjunto da população iraquiana deixou de ter acesso à saúde, à instrução e à cultura ou ao saneamento básico, como antes, e passou a recear o terror, o banditismo e a violência sectária que tomou conta das ruas.
Na hora da propaganda sobre a retirada, o presidente Barack Obama falou de «feitos extraordinários» e o actual secretário de Defesa norte-americano, Leon Panetta, de «um país livre e soberano». Mas não pode ser considerado livre e soberano um país cujo principal recurso é explorado para avolumar o lucro de um punhado de multinacionais; cujo governo só se mantém mediante complexos acordos entre as facções político-confessionais dominantes e com o beneplácito dos invasores; onde as empresas estrangeiras e os altos dirigentes nacionais e forasteiros se escudam em exércitos privados compostos por dezenas de milhares de mercenários; no qual só a embaixada dos EUA em Bagdad alberga 16 mil «funcionários».
Não podem ser considerados «feitos extraordinários» os genocídios levados a cabo em Fallujah, as torturas de Abu Grahib, as matanças de civis em Bagdad ou Haditha, nem a execução de antigos dirigentes com requintes bárbaros, só para referir os casos mais chocantes.
Custos
No balanço de quase nove anos de invasão e ocupação, é difícil falar em custos, mas só referindo alguns dos suportados pelo povo norte-americano, note-se que os dados oficiais indicam a perda de 4474 soldados e pelo menos 32 mil feridos e incapacitados permanentes.
Os EUA chegaram a manter no Iraque quase 200 mil soldados e mais de 500 bases militares, isto sem contar com as dezenas de milhares de homens e as centenas de instalações de retaguarda e apoio às operações no território.
Foi o próprio Obama quem admitiu que a factura directa é de mais de um bilião de dólares. O Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, triplica aquele valor estimando os custos indirectos suportados pelo Pentágono e os fundos necessários nos próximos 50 anos (por exemplo para pagar tratamentos e pensões a veteranos arredados da vida activa por incapacidade adquirida).
Se, em 2003, cerca de 70 por cento dos norte-americanos entrevistados eram favoráveis à guerra e apenas 25 por cento contra, hoje, afirma a CNN, 68 por cento são contra a guerra e apenas 29 por cento a favor, sendo que 67 por cento dos inquiridos considera igualmente que invadir e ocupar o Iraque não valeu a pena.
Com o abandono formal do Iraque, o imperialismo procura limpar a face, mas a verdade é que a sua imagem ficará gravada na memória dos iraquianos com a configuração que lhe deu os horrores cometidos durante a agressão.