Jornadas de trabalho
Uma das características mais importantes do trabalho dos eleitos do PCP no Parlamento Europeu é a ligação permanente que procuramos manter com Portugal na defesa dos interesses do nosso País, dos trabalhadores e das populações, da produção, dos direitos de quem produz, de quem trabalha na terra, nas empresas, nos transportes, na administração pública, nas diversas instituições.
Assim, para ouvir as pessoas e as organizações, escutar os seus problemas e dar voz às suas aspirações, realizamos regularmente jornadas de trabalho, em colaboração com as organizações regionais do PCP, aos fins-de-semana. Foi assim que, no passado fim-de-semana, eu e o João Ferreira estivemos em vários concelhos de três distritos: Aveiro, Leiria e Coimbra.
Desse modo, no distrito de Aveiro, pudemos reunir com agricultores, em Ovar, e com pescadores, em Esmoriz, escutar os lamentos de quem está a ser vítima da salinidade crescente dos seus campos, inundados pela ria de Aveiro, no tempo das cheias, que já ameaçam habitações, apenas porque falta vontade política para concluir o projecto do Baixo Vouga lagunar, incluindo o dique iniciado, a limpeza da ria, de onde deixaram de retirar o moliço, e as obras necessárias para a defesa dos campos agrícolas e das populações ribeirinhas.
Em Leiria, voltámos à Marinha Grande, terra de grandes tradições na indústria do vidro, da cristalaria e das lutas operárias, mas onde, lamentavelmente, está a morrer a arte tradicional do vidro de sopro, com o encerramento das suas fábricas, como me referiram no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira. Aí pudemos reunir com sindicalistas e trabalhadores, designadamente do Grupo BA – que aposta na produção automática de vidro de embalagem – e tomar conhecimento das discriminações salariais de que são vítimas, sobretudo os trabalhadores mais jovens, situação tanto mais inadmissível quanto este grupo empresarial, com três fábricas em Portugal, teve lucros superiores a 60 milhões de euros no ano passado e recebeu apoios de fundos comunitários, ao longo de anos, para a sua modernização e expansão no nosso País.
Mas não é só o encerramento do sector tradicional do vidro que está a contribuir para o agravamento do desemprego naquela zona. Em Pinheiros, na Batalha, fomos encontrar-nos com os trabalhadores da fábrica de porcelanas Bonvida, SA, que estão, há largas semanas, em luta à porta da fábrica, depois dos patrões os terem «dispensado», no início de Setembro, com salários em atraso desde Julho, e vários outras remunerações em divida, desde 2007. Tudo isto acontece, apesar da boa carteira de encomendas e dos apoios financeiros que foram concedidos à anterior FAIART, que iniciou as suas actividades, no mesmo local, há cerca de 30 anos. Enquanto os mesmos patrões investiam noutros sectores de actividade, designadamente hotelaria e restauração, os 170 trabalhadores da Bonvida ficaram sem trabalho e sem salários. Ali lhes transmitimos a nossa solidariedade e a promessa da denúncia desta situação, também em Bruxelas.
Ainda na Marinha Grande, tivemos oportunidade de falar com micro e pequenos empresários e visitar a feira de artesanato. E ali ficou a informação da defesa que temos feito, e continuamos a fazer, também no PE, da criação de um programa específico para a defesa e promoção da arte do vidro de sopro.
No sábado, em Coimbra, durante a manhã, foi a visita ao bairro social da Fonte da Talha, com o vereador da CDU e outros activistas, que convidaram associações de moradores daquele e de outros bairros da cidade para também falarem connosco. E para a conversa saltaram os problemas de transportes, a falta de equipamentos para apoio às crianças e idosos, a crescente procura de habitação social por parte de populações confrontadas com o desemprego, os cortes salariais, o agravamento do custo de vida. E as dificuldades das autarquias de darem todas as respostas quando são também atingidas pelos cortes orçamentais e as imposições do pacto de agressão do FMI-União Europeia, assinado pelo PSD-CDS e PS. Ali ficou a nossa decisão de continuar a luta contra tais políticas no Parlamento Europeu, de voltar a exigir apoio para habitação social e respectivos equipamentos colectivos.
À tarde, na Figueira da Foz, foi a visita à associação cultural «Tubo d'ensaio das artes» e ao seu intenso trabalho em prol da cultura e da formação de jovens, a que se seguiu a participação numa reunião com dezenas de utentes e alguns trabalhadores do Hospital Distrital da Figueira da Foz, que lutam contra novas ameaças de cortes de serviços e de redução de valências
Por último, pela noite, foi a reunião com a comissão de defesa do ramal da Lousã, em Miranda do Corvo. Também aí, largas dezenas de pessoas deram conta do seu protesto perante o arranque da linha e dos carris, exigindo que seja reposta quanto antes. É uma luta a que também iremos dar continuidade, exigindo o financiamento comunitário, agora possível com uma comparticipação nacional de apenas cinco por cento.
Em conclusão, deste fim-de-semana de trabalho resultou uma mão cheia de exemplos, de questões e de propostas a que iremos dar seguimento no nosso trabalho institucional, em Bruxelas e em Estrasburgo, e que, posteriormente, as organizações do PCP farão chegar aos interessados e à comunicação social.