Um esboço de poder confessional
«As instituições sociais são fundamentais, absolutamente essenciais para podermos dar uma resposta em tempo de crise. É preciso que o Estado tenha a humildade de pedir ajuda às instituições sociais. Neste momento, nós sabemos que o Estado não pode estar sozinho… Conhecemos a situação de cerca de um milhão de pensionistas que recebem uma pensão mínima de 247, 227 ou 189 euros !» (Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, Jornal Solidariedade, Novembro de 2011).
«Não gosto de falar em actividades lucrativas em instituições sociais, não têm essa vocação. No entanto, elas podem ter resultados operacionais positivos que ajudem a potenciar as respostas que as próprias instituições têm...» (P. M. Soares, idem, idem).
«São tarefas fundamentais do Estado...Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais» (Constituição da República, Art.º 9.º).
A «dívida soberana» portuguesa e os sacrifícios impostos pelo Estado aos cidadãos não cessam de crescer. Criou-se uma situação irreversível que é da total responsabilidade do sistema capitalista que motiva as actuais forças dominantes. O Estado gastou recursos de que o País não dispunha, asfixiou as actividades produtivas e impôs uma política consumista que conduziu o País à falência. Assinou com o FMI um contrato criminoso que entrega a estrangeiros a soberania nacional. Agora, procura vender património ao desbarato, encontrar sócios financeiros interessados e manter, simultaneamente, as políticas de destruição dos institutos constitucionais. É lixo, a Constituição de Abril.
Naturalmente que o «caso» português seria muito simples de resolver pelas oligarquias e pelos monopólios numa situação capitalista próspera. Mas como o panorama universal que se apresenta é catastrófico, os falidos governantes portugueses precisam de se socorrer de remédios caseiros. Vão sacar o dinheiro onde quer que ele esteja, menos aos bancos. Aí, nas catedrais do capital, o terreno é sagrado.
Em tais cenários, portas adentro as alternativas são mínimas.
O Estado tem muitos produtos para oferta. Mas o mercado é tremendamente limitado. Reduz-se, na verdade, a dois gigantescos grupos económicos: o dos monopólios financeiros e o lobby da Igreja Católica nacional que dispõe igualmente de uma gigantesca massa de recursos e ligações a nível mundial. Constata-se, em termos globais, que nos planos político e económico, esses dois gigantescos polvos se organizam, sobretudo, por detrás de estruturas abissais e secretas como o Opus Dei e a Maçonaria. Nelas se fixam os olhares angustiados dos ministros. Mas para se progredir nessa via é necessário conciliar interesses.
O segredo é a alma do negócio
E é aqui que «a porca torce o rabo».
À boca de cena, Igreja e Maçonaria parecem incompatíveis, o que não é tanto assim. Ambos pretendem a substituição do Estado burguês, falido e desprestigiado, e uma nova arrumação de valores. Simplesmente, num caso e noutro, os figurinos são diferentes. Os grandes capitalistas laicos, puros e duros, querem que a Nova Ordem avance já, sem olhar a consequências, com os olhos postos num universo onde o trabalho seja completamente escravizado ao lucro e ao crescimento monopolista. Tudo pela força.
A Igreja escolhe outros caminhos. Também ela visa assumir o poder e instalar no País uma chefia dura, fundamentalista e confessional com um governo «forte». Mas sabe que tudo tem o seu tempo e que vale a pena esperar… avançando. Para isso, precisa da gerir a crise. O Vaticano sabe que o caos não só pode provocar-se mas que também pode gerir-se. De que modo? Conquistando os centros de decisão, um após outro. A Segurança Social, a Educação, a Saúde, a Cultura, a Justiça. Para já, um a um, todos lhe vão caindo nas mãos. Usando a persuasão ou a força. Não esquecendo, por exemplo, que a caridade em tempos de fome é uma excelente ferramenta do Poder.
É claro que há-de ser o Povo a pagar os custos de tudo isto. E não por um dia, por um mês, por uma semana, por um ano ou por um século. Se no mundo o capitalismo sobreviver penetraremos num novo ciclo da História. O da Nova Era ou Nova Ordem, saqueadora, brutal, fascista e capaz de impor à massa anónima o capitalismo como uma religião e a religião como ópio.
Ocupemos os nossos postos de combate.