A dose

Anabela Fino

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, afirmou no Parlamento que a «dose de austeridade» prevista no Orçamento do Estado para 2012 «é aquela que é necessária para cumprir» as metas do défice. «Nem mais nem menos», enfatizou. Uma tal afirmação proferida por um responsável político – por mais tecnocrata que Vítor Gaspar se assuma não pode iludir o facto de se ter disponibilizado para o exercício de um cargo eminentemente político –, uma tal afirmação, dizia, é reveladora dos princípios e/ou interesses que presidem à actuação do Governo. Olhando para o País como se de uma folha de cálculo se tratasse, ao Executivo só interessam duas variáveis, que por estranho que possa parecer são também duas constantes: elencar de um lado todo o tipo de cortes, seja por via dos salários, benefícios sociais ou qualquer outra forma, visando sempre os trabalhadores e o povo, e por outro lado colocar o espólio assim acumulado à disposição do capital nacional e estrangeiro, acrescido da venda ao desbarato de tudo o que é património público rentável.

Dizer que o objectivo de tal «dose de austeridade» selectiva é cumprir as metas do défice não passa, como toda a gente já percebeu, de mera falácia. Porque não há desenvolvimento sustentável sem produção; porque a dívida e os seus juros agiotas são impagáveis; porque um país como Portugal, que tem o salário mínimo mais baixo da zona euro, não precisa de empobrecer para crescer; porque, enfim, a tal «dose de austeridade» significa – como já está a suceder – mais desemprego, mais recessão, mais pobreza, mais dependência e mais défice.

Se o ministro das Finanças, com todos os seus títulos académicos, é incapaz de perceber isto, talvez o cidadão Vítor Gaspar, ao que consta também pai de família, perceba o que significa o facto de crianças da Baixa da Banheira terem eleito, como voto para 2012 a figurar nos postais de Boas Festas da Junta de Freguesia, «Comida para todos».

Que dose de austeridade recomendará neste caso o ministro? A pergunta é de retórica, claro. Porque não é de humanidade que se trata mas do carácter intrínseco do capitalismo, que por mais caridade que pratique será sempre desumano. Por isso há que destruí-lo.



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