«PIGS» em luta

Henrique Custódio

Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha «integraram» há dois anos um grupo a que os poderosos da União Europeia (UE) aplicaram o acrónimo «PIGS» («porcos», em inglês) construído com as iniciais dos quatro países.

Todavia, os «PIGS» estão a alastrar a uma velocidade inesperada: já incluem publicamente a Itália (actualmente com um governo de tecnocratas para aplicar as ordens do FMI) e a Espanha (cujos «juros da dívida» já atingiram os 7%, número fatídico que costuma «obrigar» à intervenção das «troikas»).

Aliás, os «PIGS» alastraram tanto, que os mercados (até ver, os «donos» da actual crise) já os substituíram por novo acrónimo galhofeiro: «STUPID» («Estúpidos»), integrando as iniciais (em inglês, pois claro) de Espanha, Turquia, Reino Unido, Portugal, Itália e Dubai, todos eles em risco de soçobrarem ao «efeito dominó», caso a Grécia entre em bancarrota – isto na perspectiva dos «mercados», evidentemente.

Mercados que também já alargam as suas desconfianças (ainda informais) à Bélgica, à Holanda e à França – todos sob a mesma suspeita de próximo incumprimento do défice –, o que reduz drasticamente quer a «Europa do Euro», quer a «Europa da União a 27», a um afunilado clube de amigos à volta da Alemanha.

Como é sabido, a actual crise da UE remonta à famosa «crise do subprime», que se tornou pública nos EUA em 2006 e «rebentou» em 2007, arrastando na voragem o próprio sistema financeiro dos EUA, Europa e Japão. A evolução é conhecida: os governos enterraram rios de dinheiro no sistema financeiro para taparem os insondáveis abismos que a especulação desenfreada escavara e, após algumas falências inevitáveis e um ou dois especuladores metidos em tribunal, o sistema prosseguiu com as mesmas regras e, até, com os mesmos responsáveis pela crise a serem reconduzidos nos mesmos cargos e à frente das mesmas instituições.

Tudo isto perante o atordoamento embasbacado dos povos, mas também com o aproveitamento imediato da situação por parte do capital financeiro, que actualmente em tudo manda e, como é óbvio, nunca dorme. É nesse contexto que vemos a Alemanha a assumir o comando das operações na UE, impondo uma absurda «ditadura do défice» no contexto de uma moeda ferreamente mantida em cotação alta, tudo para garantir lucros obscenos aos financeiros alemães através dos seus «empréstimos», com juros não menos obscenos, aos... parceiros da UE com a corda do défice na garganta.

Recordando que os actuais «resgates» em curso na Grécia e em Portugal são, linearmente, impossíveis de cumprir, quer pela exorbitância dos juros, quer pela retracção económica decorrente, uma pergunta se impõe.

Com a UE em crise acelerada e esta monumental burla do «cumprimento do défice», em nome de quê se está a esfolar assim o povo e o País?

O objectivo está à vista: o que as «troikas» de dentro e de fora pretendem é destruir, a toda a pressa, o que resta de direitos sociais conquistados com a Revolução de Abril, satisfazendo anseios antigos da direita portuguesa. E isso tem de ser travado.

Com a luta, evidentemente – como vamos fazer na greve geral de amanhã.



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