Alegria efémera
Nas ruas de Roma, os milhares de manifestantes rejubilaram com o anúncio formal da demissão do primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, esquecendo por um instante as duras medidas aprovadas pouco antes no parlamento.
O novo pacote de medidas traz mais sacrifícios ao povo
Gritos de «liberdade» e vivas a Itália soaram na praça do Quirinal, sede da presidência da República, na noite de sábado, 12, quando foi anunciada a saída do poder de Berlusconi. Alguns celebraram o momento abrindo garrafas de champanhe.
Apesar de todas as razões que explicam e justificam a euforia, a substituição de Berlusconi por Mário Monti, incumbido de formar governo no domingo, 13, não traz nenhuma esperança real ao povo italiano. Pelo contrário, o que está em cima da mesa é mais um pacote de duras medidas de austeridade, que se soma aos dois anteriores decididos durante o Verão por il cavalieri.
Porém, agora, a coberto dos apelos do presidente Napolitano à «unidade e coesão», todos os partidos parlamentares, incluindo o Partido Democrático e até mesmo a Itália dos Valores do juiz Di Pietro, com excepção da Liga do Norte, mostram-se dispostos a apoiar o executivo chefiado pelo antigo Comissário Europeu.
É certo que o ar circunspecto de Monti contrasta com o desbragamento do seu antecessor, mas o currículo do primeiro é por demais esclarecedor. Economista, 68 anos de idade, Monti é o director europeu da Comissão Trilateral, lobby neoliberal fundado em 1973 pelo magnata norte-americano David Rockefeller. É também membro da direcção do restrito Clube Bilderberg e assessor da Coca-Cola Company. No passado trabalhou para o Goldman Sachs, banco norte-americano de investimentos, que foi acusado de fraude na venda dos famigerados créditos hipotecários subprime, os quais constituíram o detonador da crise financeira em Agosto de 2007.
A política que o novo governo italiano irá seguir não levanta quaisquer dúvidas. Aliás, as «reformas» que os ditos «mercados» exigem, já estão bem definidas na lei do Orçamento do Estado, aprovada pelo parlamento.
Até 2014, o Estado deverá reduzir a despesa em 60 mil milhões de euros. Assim, os salários dos funcionários públicos serão congelados, a idade da reforma das trabalhadoras do sector privado passará dos 60 para os 65 anos (no sector público este limite já é aplicado) e perspectiva-se que até 2026 a idade de aposentação suba para os 67 anos. O IVA é aumentado de 20 para 21 por cento e será realizado um amplo programa de privatizações.