Histórica manifestação de militares
A maior manifestação de militares dos três ramos das Forças Armadas e familiares teve lugar no sábado, em Lisboa, contra a austeridade, pela dignificação da sua condição.
Foi marcada para dia 30 uma concentração e uma vigília
Sem farda, com bandeiras da Associação Nacional de Sargentos, da Associação de Praças e da Associação de Oficiais das Forças Armadas, mais de dez mil militares e seus familiares desfilaram desde o Rossio, pela Rua do Ouro, até ao Ministério das Finanças, no Terreiro do Paço. Aqui aprovaram uma moção, por unanimidade e aclamação, na qual se comprometem a realizar uma vigília de protesto, dia 30, junto à Presidência da República, em Belém. Para aquela data está marcada a votação final global do Orçamento do Estado para 2012.
Com faixas «Pela dignificação da condição militar» e «Amnistia aos militares castigados por delito de opinião», ostentadas por membros das associações profissionais, a multidão desfilou em silêncio. Muitos responderam ao apelo das associações envergando uma peça de roupa preta como forma de manifestarem o desagrado e descontentamento com a política de austeridade do Governo e as injustiças relacionadas com o sector, designadamente no respeitante a progressões nas carreiras.
Salientando, na moção aprovada diante do Ministério das Finanças, que os militares «em nada contribuíram» para a situação que tem servido de argumento para o Governo impor aos portugueses «duríssimas medidas», os participantes mandataram as associações profissionais para «promoverem, no futuro, acções ou as diligências necessárias para que cessem as medidas que tão profundamente vêm afectando a capacidade das Forças Armadas e para que os militares vejam reconhecido, de facto, o papel sem paralelo que desempenham na sociedade».
Nesse sentido, apelaram a que no dia 30, na votação final do Orçamento do Estado para 2012, os militares que puderem compareçam na Assembleia da República, com o propósito de «testemunharem, com a sua presença», nas galerias, «a iniquidade das gravosas medidas nele contidas». Em seguida, ao final da tarde, vão realizar uma vigília diante da Presidência da República, em Belém. O objectivo é apelar ao PR, que é também o Comandante Supremo das Forças Armadas, para que não promulgue o Orçamento. A posição do PR foi muito criticada nas intervenções feitas junto ao Ministério das Finanças e as referências a Cavaco Silva chegaram a ser interrompidas com fortes vaias dos manifestantes.
Medidas gravosas
A moção explica que o Orçamento do Governo PSD/CDS-PP, com a abstenção do PS, terá «graves e nefastas consequências» para os militares, designadamente uma «degradação dos direitos que servem de contrapartida ao vasto leque de restrições e deveres a que estão sujeitos», entre os quais destacam «o do sacrifício da própria vida, se e quando necessário, na própria Instituição Militar».
Para as associações, vive-se hoje uma «progressiva descaracterização e desarticulação» do sector, e com elas, uma «significativa redução da sua capacidade, seja na vertente operacional, seja no que se refere às missões de interesse público».
Considerando que dificilmente a proposta de Orçamento do Estado conhecerá «as melhorias que se impõem para aliviar a tragédia que se abateu sobre os portugueses», na moção manifesta-se «a solidariedade que é devida aos nossos concidadãos, também eles a passarem por grandes dificuldades».
Aprovada e aplaudida a moção, a acção terminou com os participantes entoando, em coro e sem música, o Hino Nacional.
Uma delegação de dirigentes da Comissão Coordenadora Permanente das associações e sindicatos dos profissionais das forças de segurança compareceu na concentração, para expressar a sua solidariedade aos militares.