Inevitável é a luta
Mobilizados para a greve geral, mais de 180 mil trabalhadores da Administração Pública repudiaram, sábado, em Lisboa, o pacto de agressão e o Orçamento do empobrecimento.
«Continuar a luta para impedir a repetição do que está a acontecer na Grécia»
Na manifestação nacional convocada pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública e que obteve a convergência dos sindicatos da UGT e independentes, os trabalhadores desfilaram da Praça do Marquês de Pombal aos Restauradores, enchendo de protestos a Avenida da Liberdade.
Com palavras de ordem, panos, placards e bandeiras – assinalando-se a presença de muitas bandeiras negras além das sindicais – garantiram tudo ir fazer, em cada região, localidade e local de trabalho, até ao dia da greve geral, para um grande sucesso desta luta.
Funcionários públicos do poder central e local, jovens com contratos precários e efectivos, identificados com a Interjovem/CGTP-IN, trabalhadores civis das Forças Armadas e das indústrias de Defesa, professores, enfermeiros, médicos, muitos reformados, aposentados e pensionistas, desempregados, auxiliares da Saúde e da acção educativa, investigadores, agentes da PSP e GNR, funcionários judiciais, da ASAE e do SEF, vindos de todas as regiões, incluindo as autónomas, vaiaram a política de direita e o Orçamento do Estado, exigindo uma mudança de política que impeça perdas salariais e piores condições de vida e de trabalho.
Regressaram os «vampiros»
«Este ataque tem como objectivo estratégico atingir pilares do Estado social consagrados na Constituição da República Portuguesa, como a Segurança Social, a Saúde, a Educação, a Justiça, a habitação, os transportes, a energia, a água e outros sectores que dão respostas indispensáveis a necessidades básicas de populações e das suas famílias», avisou Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum, na intervenção que encerrou o protesto geral, exortando os trabalhadores a lutar. «Se tivermos medo, se não resistirmos, se não lutarmos, ficaremos cada vez pior, porque eles são como os vampiros, querem sugar-nos o sangue todo», sublinhou.
«Fica claro que os últimos governos e este estão fora da lei e cometem crimes de abuso de poder, quando fazem terrorismo legislativo ao aprovarem leis que retiram ou roubam nos salários, nas pensões, congelam as carreiras e as reformas, e não respeitam os direitos adquiridos», acusou a dirigente.
Feroz ataque
«Os trabalhadores da Administração Pública são indispensáveis para garantir a efectivação das funções sociais do Estado na Saúde, Educação, nos tribunais, na segurança pública e policiamento, e sem eles essas funções não existem», explicou, sublinhando que os funcionários públicos não são os responsáveis pelos buracos financeiros e que «os culpados – PS, PSD e CDS-PP – são quem tem governado Portugal».
Recordou como os partidos que se têm revezado no poder «prometeram melhores condições de vida, aquando da entrada na Comunidade Europeia», e depois prosseguiram uma política de destruição da produção, das pescas, da agricultura e do tecido industrial, «tendo-se limitado a gerir fundos que foram para as suas clientelas, em troca da destruição do aparelho produtivo».
Afirmando que «hoje temos os salários mais baixos da União Europeia», recordou como «os trabalhadores têm resistido e lutado contra tudo isto em grandes manifestações e greves, e têm de continuar a luta para impedir que se repita o que está a passar-se na Grécia».
Cortes brutais
Ana Avolia salientou os cortes nos salários, nos subsídios de férias e de Natal; nas reformas e pensões; o aumento dos horários de trabalho sem mais remuneração; a recusa do pagamento do trabalho extraordinário; o congelamento da progressão nas carreiras bem como de admissões e mudanças de posição remuneratória obrigatórias; a mobilidade especial e as quotas na avaliação de desempenho; as medidas para reduzir «brutalmente áreas fundamentais como a Educação, a Saúde, a Segurança Social e o Poder Local». Confirmando-se estas intenções, «um quarto do nosso poder de compra terá sido reduzido em 2012», avisou, explicando que ocorrerá «uma diminuição significativa e brutal dos salários e das pensões».
A dirigente sindical acusou o anterior Governo PS – que mereceu tantas vaias dos manifestantes como o actual – por ter continuado e acentuado a política de direita, e os partidos que acordaram o pacto de agressão com a troika estrangeira, por acabarem «sempre por se entender».
Avisar toda a gente
Avoila condenou ainda a facilitação do despedimento sem justa causa, a redução das indemnizações e os despedimentos mais baratos, sublinhando que «o emprego está ameaçado», estando mais gravemente ameaçados os trabalhadores «que entraram para a Função Pública em regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas, desde 2008, ou em regime de contrato individual nos hospitais EPE, em todos os organismos de regime jurídico EPE e também os trabalhadores das IPSS e das misericórdias».
Após a intervenção, António da Costa e Rui Curto interpretaram «Os vampiros», de José Afonso e outras canções de Abril, antes do encerramento oficial da jornada de luta ao som do Hino da CGTP-IN, «A Internacional» e «Venceremos».
Magnífica resposta à resignação
Presente na manifestação com uma delegação da direcção do Partido, em solidariedade com esta luta, o Secretário-geral do PCP, considerou que esta foi «uma magnífica resposta dos trabalhadores à ideologia das inevitabilidades, do conformismo e da resignação, e é já uma grande demonstração da grande greve geral que vamos ter no dia 24».
Jerónimo de Sousa, em declarações aos jornalistas, lembrou que os trabalhadores da Administração Pública têm sido alvo de ofensas à sua dignidade e aos seus direitos, «mas não podem ser tratados separadamente dos trabalhadores do sector privado, porque, com o seu pacto de agressão, este Governo procura atingir todos os que vivem do rendimento do seu trabalho». Por isso mesmo, o Secretário-geral do PCP exortou toda a população trabalhadora a participar na greve geral de 24 de Novembro e em todas as lutas que se seguirem.