Não devemos, não pagamos
Depois do anúncio, na semana passada, de um novo pacote de austeridade, o governo grego voltou a ameaçar, no domingo, 25, com novas medidas de empobrecimento das massas.
Os novos impostos não poupam as camadas mais humildes
«A Grécia transformou-se num hospício para pobres, com novas medidas que são anunciadas a cada dia, a cada semana». As palavras são de Constantinos Mikalos, dirigente da Câmara de Comércio e Indústria de Atenas, para quem a actual política não pode ser suportada «nem pelas empresas, nem pelos trabalhadores, nem pelos reformados» e conduzirá «à destruição económica e social do país» (Le Monde, 22.09).
Face a esta evidência, há muito constatada e denunciada pelos comunistas e sindicatos de classe, as massas trabalhadores reagem com greves e lutas incessantes nos mais variados sectores.
Na semana passada, dia 22, Atenas ficou sem transportes públicos: autocarros, metro e comboios, mas também os táxis paralisaram. Ao protesto contra os novos impostos, reduções de salários e das pensões, despedimentos e privatizações juntaram-se os controladores aéreos, bem como trabalhadores da função pública, professores e estudantes. Muitas universidades estão ocupadas há várias semanas contra a reforma do Ensino Superior aprovada em finais de Agosto. Os trabalhadores do Ministério das Finanças pararam ontem e na terça-feira, 27. Para os dias 5 e 19 de Outubro estão marcadas duas greves gerais.
A Grécia está já numa situação limite, e é o próprio governo a admitir o não pagamento de metade da dívida externa. O desespero do governo burguês foi ao ponto de aprovar um brutal agravamento fiscal que não poupa sequer os rendimentos mais humildes, isto é, acima de cinco mil euros anuais. Foi também aprovado o despedimento de 30 mil funcionários até final do ano e um novo sistema salarial que se traduzirá em cortes de mais 15 por cento nas remunerações da função pública. As pensões superiores a 1200 euros são reduzidas em 20 por cento e os aposentados com menos de 55 anos perdem 40 por cento das prestações. Acresce um outro imposto odioso sobre a propriedade imobiliária, mesmo a mais pequena: por cada metro quadrado de área será aplicada uma taxa que varia entre os 0,50 e os 16 euros, cobrada na factura da electricidade.
Nem um passo atrás
Numa enorme manifestação que encheu, dia 21, a Praça Sintagma, frente ao Parlamento, a Frente Sindical de Todos os Trabalhadores (PAME) e Partido Comunista da Grécia (KKE) deixaram uma mensagem clara: «Não devemos nada – Não pagaremos!».
Presente no comício à frente de uma grande delegação do Comité Central, a secretária-geral do KKE, Aleka Papariga declarou: «Nem um passo atrás. A grande maioria do povo deve fazer o que pensa fazer – não pagar os impostos pesados, recusar ser encostada à parede. Devemos tornar a vida deles num inferno. A confrontação começou, ela já existe e vai continuar nos próximos tempos.»
Para ontem, quarta-feira, a PAME tinha anunciado novas manifestações em várias cidades, apelando à desobediência e ao não pagamento dos novos impostos.