Chumbados diplomas do PCP com vista a maior justiça fiscal

Os intocáveis privilégios do capital

A maioria PSD/CDS, reforçada em quatro dos oito diplomas em debate com os votos negativos do PS, chumbou na passada semana o pacote legislativo do PCP destinado a uma maior justiça fiscal.

Quem mais paga é quem menos tem

Image 8668

Inalterado, sem beliscaduras, mantém-se assim o iníquo sistema fiscal vigente que esmifra para lá do concebível as classes trabalhadoras, os reformados e os pequenos empresários, ao mesmo tempo que folga de modo escandaloso os ricos e poderosos.

Significa isto que foi assim perdida uma nova oportunidade de corrigir parte do que está mal e afirmar, simultaneamente, as bases de uma alternativa fiscal, mais justa, aliviando a insuportável carga sobre os mesmos de sempre, que é como quem diz sobre os que «menos têm e menos podem», como tratou de sublinhar o deputado comunista Honório Novo na apresentação dos projectos de lei da sua bancada.

Com o PS a não ir além de um mais que tímido passo no sentido de uma maior equidade, mantendo-se inamovível quanto à manutenção dos privilégios da banca (apenas votou favoravelmente a proposta do PCP de fixar em sede de IRS em 21,5 por cento a taxação das mais-valias mobiliárias, e, noutro plano, a proposta para aplicar uma tributação adicional sobre aquisição e detenção de automóveis de luxo, iates e aeronaves), o traço mais forte a reter do debate tem a ver com a posição hipócrita do PSD e do CDS/PP, assumindo na prática o contrário do que ainda há bem poucas semanas afirmavam, quando, em coro, aludiam à alegada necessidade de contar com a participação de todos – incluindo os grandes detentores da riqueza – no esforço nacional para superar a crise.

Useiros e vezeiros em «dar o dito por não dito», o que neles não constitui propriamente uma novidade, a sua atitude o que comprova é a férrea vontade de manter os grandes grupos económicos libertos de qualquer comparticipação na factura da crise, tal como não querem tocar nos seus lucros fabulosos ou no património de luxo, muito menos querem incomodar aqueles que, na expressão de Honório Novo, «não pagam um euro pelos enormes rendimentos que detêm».


Propostas incómodas

A tributação dos rendimentos que não pagam um cêntimo de imposto – e há hoje milhões de euros de rendimentos anuais nestas condições – constituía o primeiro de um conjunto de três grandes objectivos visados globalmente pelo PCP através dos seus oito projectos de lei. Nesse sentido ia a proposta (num primeiro diploma) para tributar os rendimentos da venda de acções e participações obtidos por SGPS, tal como, por outro lado, a proposta constante de um segundo diploma com vista à tributação de todas as operações bolsistas e cambiais.

O segundo grande objectivo, enunciado no debate por Honório Novo, passava pelo reforço da tributação de quem paga hoje muito menos do que deveria pagar pela razão simples de que beneficia de privilégios fiscais «feitos à medida e por encomenda». Daí a proposta para que a banca e os grupos económicos com lucros acima de 50 milhões de euros passassem a ser tributados à mesma taxa que as pequenas empresas (25 por cento). A criação de uma taxa transitória de 3,5 por cento sobre a parte dos lucros acima de dois milhões de euros era outra das propostas previstas num quarto diploma, enquanto um outro projecto de lei apontava para o aumento da taxa aplicável em sede de IRS às mais-valias mobiliárias.

Inscrito no terceiro objectivo da bancada comunista estava o reforço, mesmo que de forma transitória, do nível de tributação de «quem tem mais condições de rendimento para poder pagar mais». À luz deste princípio obedecia a sexta proposta destinada a tributar adicionalmente a compra e detenção de património de luxo com valor superior a um milhão de euros, constando, num sétimo diploma, a tributação adicional da compra e utilização de carros de luxo (acima de cem mil euros), iates e aviões particulares.

O oitavo projecto, por último, pretendia tributar adicionalmente em sede de IRS os dividendos distribuídos pelos accionistas e os rendimentos de capital que não sejam aplicados em poupança, «nos termos usados pelo Governo para extorquir aos trabalhadores 50 por cento do subsídio de Natal», como explicou Honório Novo. Este diploma pugnava ainda pela criação de um novo escalão de IRS de 49,5 por cento para rendimentos colectáveis acima de 175 mil euros.



Mais artigos de: Assembleia da República

Mentiras e trapalhadas

A ordem do dia da sessão plenária de hoje será dominada pelo debate de urgência sobre Educação suscitado pelo PCP, que entretanto entregou dois diplomas relacionados, um, com as listas dos concursos, o outro, com a integração dos professores contratados na carreira docente.

A hora é de luta!

As mais recentes propostas de alteração à legislação laboral constituem um novo e «gravíssimo ataque aos trabalhadores». A esta autêntica «declaração de guerra» responde o PCP afirmando que «a hora é de luta», como ficará patente já no próximo sábado, dia 1.

Nem privatizar nem liberalizar

PSD, PS e CDS-PP chumbaram no dia 16 um projecto de resolução do PCP que pugnava pela defesa do carácter totalmente público dos CTT Correios de Portugal e pela melhoria da qualidade do serviço público postal. Com esta iniciativa legislativa, que obteve além dos votos...

Debate inacabado

Foi aprovada pelo PSD e CDS/PP, com os votos contra do PS e a abstenção do PCP e «Os Verdes», a proposta de lei que transfere as competências dos governadores civis para diversas entidades. Segundo informou o ministro da Administração Interna, o Governo pensa poupar...

Não pensar nas pessoas

Qual a justificação do ponto de vista da política de Saúde para uma eventual descomparticipação da pílula contraceptiva, da vacina do colo do útero e de uma série de outros medicamentos de grande utilidade para um grande número de doentes? Esta foi a...

Má gestão e clientelismo

PSD e CDS inviabilizaram o projecto de lei do PCP que propunha a extinção da entidade pública empresarial Parque Escolar e a transferência do seu património para o Estado. Seu opositor firme desde a primeira hora, por considerar que a empresa serviu apenas para desresponsabilizar o...

Viva o SNS!

«Após 32 anos da criação do Serviço Nacional de saúde, permanece actual o direito de todos os portugueses aos cuidados de Saúde, de qualidade, assegurados pelo Estado, no pleno cumprimento da Constituição», lê-se no voto de saudação...

Erosão contínua

A «maior indignação» é o que merece da parte do PCP a política cultural deste Governo. Esse é também o sentimento de uma grande parte daqueles que participam e usufruem do sector, assegurou o deputado comunista Miguel Tiago, considerando-o perfeitamente justificado....

Migalhas e pobreza

«Justiça, coesão e sensibilidade». Assim sumariou, em declaração política em nome do PSD, o deputado Adão Silva as preocupações e a acção do Governo no domínio social. Um «mar de rosas» desmentido prontamente pelo...